Para os foliões que pularam carnaval nos últimos dias, movimentando o corpo e a economia de milhares de cidades Brasil afora, a Quarta-feira de Cinzas marca o fim da fantasia e o reencontro com a realidade. Para o Brasil é o momento de retomada de discussões importantes no Judiciário e no Legislativo, que deram início aos seus trabalhos de 2024 na semana passada. Como esse começo foi atropelado pelo carnaval, a engrenagem efetiva será a partir de agora.
E o que se espera é que em lugar de atritos políticos ocorram entendimentos em prol de toda a sociedade. Ainda que a reoneração da folha de pagamento de 17 setores e os vetos do presidente Lula ao Orçamento, com corte de R$ 5,6 bilhões de emendas parlamentares, possam significar impasse, é preciso que se busque o consenso e que Executivo e Legislativo cheguem a bom termo para destravar a pauta de votações no Congresso em ano encurtado pelas eleições municipais.
No Congresso é preciso que se votem os projetos que vão regulamentar a reforma tributária, para que ela seja efetivamente concluída e gere os benefícios esperados, e também as propostas para efetivar o Programa Mobilidade Verde e Inovação (Mover), que, embora receba críticas, é a peça que está motivando montadoras a já confirmar investimentos de R$ 41,7 bilhões em novos produtos e descarbonização no país. Câmara e Senado devem avaliar ainda a reforma do Código Civil, a regulação da Inteligência Artificial (IA), as mudanças eleitorais, o projeto para regulação do mercado de carbono e do mercado de hidrogênio verde, sem falar no projeto de combate às fake news.
Do lado do Executivo, o que se espera é que efetivamente sejam tomadas medidas para que os projetos de investimentos previstos e anunciados com pompa e aos quatro ventos pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) comecem a tomar forma. São esses recursos em projetos de infraestrutura, saúde, educação e segurança que podem dinamizar a economia neste ano, para que não se confirmem as projeções de um crescimento cerca de 50% menor do que a expansão de 2023, que será conhecida em 1º de março.
Com o setor agrícola perdendo tração por causa das mudanças climáticas e do El niño e pela redução dos preços das commodities – soja e milho tiveram queda de 50% – em 2023 e tendência de estabilização agora, será preciso que o consumo das famílias dê suporte para a expansão dos serviços e da indústria para que o Produto Interno Brasileiro (PIB) possa mais uma vez surpreender e crescer além das previsões de janeiro. Hoje, os economistas e analistas ouvidos pelo Banco Central projetam crescimento de 1,6% do PIB, o Banco Mundial espera alta de 1,5% e o Fundo Monetário Internacional, 1,7%.
Esse crescimento é baixo para o potencial da economia brasileira, que deu uma pequena mostra do que apenas o setor de eventos e audiovisual pode gerar de impacto em termos de receitas e abertura de emprego. A estimativa é de que a folia de Momo tenha alavancado negócios da ordem de R$ 9 bilhões, com dezenas de milhares de brasileiros trabalhando na folia. Que esses recursos, que renderam impostos, sejam revertidos na dinamização econômica dos locais onde foram alocados. É preciso agir para acelerar o crescimento econômico e a geração de empregos, agora que o ano está começando.