Oitenta anos da Escola Guignard. Sou grato por fazer parte dessa estrada de sensibilidade, como arquiteto e, acima de tudo, como aluno admirado. Guignard foi um artista “a guiar” movimentos, expressões e fazeres criativos, a inspirar gerações. Talvez seja por isso que, desde sempre, a Escola Guignard é mais que local de aprendizado e experiência, é espaço vivo, pulsante e imbuído de uma energia que transcende os tempos, é clara nascente das belas artes de Minas.


A arte é construída com dimensões imateriais do sentimento. Não tem princípio nem fim, não podemos medir com as ferramentas usuais e é essa imaterialidade que a torna tão vital. O suporte é matéria, mas a essência é transcendente. A arte do homem das cavernas é tão arte como a de Van Gogh, Picasso, Kapoor ou Basquiat. Não há evolução, é arte ou não é, para sempre. E Guignard é arte.


Os 80 anos de ideias vivas têm um frescor que desafia a passagem do tempo. A Guignard é movimento, vida é movimento, como manifestava Guimarães Rosa em seus escritos. O edifício da Guignard respira arte, nossos olhos, sentidos, respiram arte. Escola que preenche Minas Gerais e ultrapassa os limites de suas montanhas. Sem a Guignard seria vazio, uma cratera escura, no campo artístico brasileiro. A Guignard é uma força definitiva que enriquece a própria identidade de Minas.


Quando fui convidado por Amilcar de Castro e professores da escola para projetar o edifício – que, dentro desses 80 anos, completa três décadas –, pensei na Escola Guignard como um "trem de ferro" que carrega a arte mineira. Feita de aço, essa matéria-prima que brota de nossas montanhas, a escola é um trem que transforma as pessoas que cruzam seu caminho. O trem passa pelas paisagens de Minas, tão presentes nos quadros de Guignard. Igrejinhas no topo das serras, balões de papel flutuando sobre elas, uma dimensão de leveza e sonho aos cenários, ligando a terra e o céu. Guignard sabia criar uma atmosfera única que mistura o real e o imaginário, e foi assim que idealizei a escola que levaria seu nome.


Estamos falando de um testemunho tridimensional do legado de Guignard como mestre e artista. Guignard é, para mim, a pedra fundamental da arte contemporânea mineira. Sua arte é universal. Suas paisagens, seu traço perfeito, suas cores, ora leves, ora trágicas, transcendem fronteiras. Esta potência continua estimulando aprendizes e inspirando trajetórias artísticas. A Escola, feita à sua imagem, é um ambiente propício para a descoberta, é um epicentro de criações, e é isso que a torna mágica. Artistas nascem e se transformam ali, e o ato de criação é contínuo e coletivo.


Celebrar os 80 anos da Escola Guignard é lembrar que tudo ali começou com a arte e a visão imortal de Guignard. Este é um marco na história de Minas Gerais e do país. A jornada de 80 anos de arte em transformação é a expressão viva da potência criadora de nossa gente. A arte da Guignard é atemporal, a caminhar no infinito, um sonho que nunca termina. É 80 e sempre.

 

Gustavo Penna
Arquiteto e urbanista, fundador do escritório GPA&A