"Imagine que não há países / Não é difícil / Nenhum motivo para matar ou morrer / E nenhuma religião também / Imagine todas as pessoas/ Vivendo a vida em paz." Os versos inconfundíveis são da canção "Imagine", de John Lennon, lançada em 1971 e que logo se tornou um dos maiores sucessos da carreira solo do ex-beatle. Acompanhado apenas pelo piano, a letra da música traz uma mensagem simples, com um pedido de paz pelo mundo, e que mais de 50 anos após o seu lançamento, ainda soa atual, principalmente na época do Natal.


Afinal, o mundo atravessa um período de tensão elevadíssima com dois confrontos armados em andamento. Na Europa, onde a Ucrânia enfrenta uma invasão da Rússia desde fevereiro de 2022, o balanço é terrível. Até o momento, são centenas de milhares de mortos dos dois lados – incluindo civis–, milhões de refugiados, bloqueios navais que dificultam o comércio global e, claro, o risco sempre iminente de uma escalada que leve a alguma reação com armamento nuclear.


No Oriente Médio, na terra em que Jesus nasceu, o confronto entre Israel e o Hamas já provocou dezenas de mortes, a imensa maioria de civis. A guerra também vem mostrando uma drástica falência da Organização das Nações Unidas (ONU) e do seu Conselho de Segurança, incapaz de chegar a uma solução para o conflito.


Não é só. Na América do Sul, os ânimos se acirraram com um plebiscito na Venezuela, que determinou que o país deve anexar a região do Essequibo, atualmente parte do território da Guiana. O Brasil, como potência regional, tem promovido a diplomacia e atuado como mediador nas negociações, mas que seguem com resultado incerto e o clima de tensão elevado. Eles se somam a outros conflitos atualmente em andamento pelo mundo, como as guerras civis no Iêmen, em Myanmar, na Síria, na Somália e no Sudão, além de outros confrontos em andamento em países como México, Haiti e El Salvador.


É uma tragédia que reside não apenas nos números alarmantes de mortes, mas também nas cicatrizes emocionais e psicológicas que esses conflitos deixam nas vidas das pessoas. A perda de familiares, a destruição de lares e o trauma moldam o cotidiano daqueles que vivem nas áreas de conflito. Nesses locais, o direito à vida, à segurança e à dignidade são constantemente violados, enquanto a promessa de um futuro melhor é constantemente adiada. Em suma: o mundo ainda está longe da visão de "Imagine", com todas as pessoas vivendo em paz.


A data de hoje leva, sempre, a algumas reflexões. É um momento em que o mundo cristão celebra a união, o amor, o perdão e a esperança, e renova seus compromissos com esses sentimentos. Que este dia de Natal seja, portanto, mais do que apenas uma comemoração, e sim o início de uma virada, pavimentando um caminho para uma resolução dos conflitos que tanto afligem o mundo.


É a hora de estender a mão aos outros, praticar a generosidade e, acima de tudo, buscar a paz. Isso só será alcançado se os países e os líderes globais se comprometerem a resolver suas diferenças por meio do diálogo e do respeito mútuo, criando, como cantava John Lennon, uma irmandade em que todas as pessoas estão compartilhando o mundo. Somente assim será possível honrar o espírito natalino e construir um futuro em que a harmonia prevaleça sobre a guerra, com a luz da paz nos corações de todos. n