Os líderes das nações titubeiam em dar a largada para a transição energética a fim de evitar as fontes fósseis, como petróleo e carvão, emissoras de gases de efeito estufa. Em contrapartida, diferentes segmentos da indústria avançam na produção de matrizes limpas, como energia eólica, solar, entre outras, ajustadas às exigências para preservar a vida no planeta. Desafiante, a mudança esbarra em problemas como falta de treinamento profissional, leis ambientais controversas, mudança de cultura empresarial e até mesmo o risco de perpetuação das injustiças socioeconômicas.

O engajamento das empresas, pautadas em uma economia compatível com o conceito de sustentabilidade ambiental, empregou, em outubro, 2,34 milhões de profissionais com carteira assinada no Brasil — 5,2% do total de contratações ocorridas no país. Os chamados empregos verdes, com oferta de vagas formais, somaram 2,26 milhões em igual período do ano passado, segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged).

A Organização Internacional do Trabalho prevê a abertura de 15 milhões de novos empregos na América Latina até 2030. Pelo menos metade dessas vagas estaria no Brasil. Na avaliação de especialistas, esse número poderá ser maior no país, considerando o potencial do patrimônio natural brasileiro, farto em água e vegetação. A Agência Internacional para as Energias Renováveis (Irena), instituição criada com a finalidade de promover o uso de energias renováveis, estima que 38,2 milhões de vagas surgiram no planeta.

Além do patrimônio natural, o Brasil conta com as recicladoras de materiais reaproveitáveis, desde o papel até o alumínio, entre outros metais, passando pela indústria têxtil, relacionada à economia criativa. Trata-se de segmentos e iniciativas que evitam a poluição ambiental, a exploração do meio ambiente, como extração de metais, com geração de renda aos profissionais e artistas.

Embora haja reconhecimento da importância dessas atividades que mitigam os impactos antrópicos na natureza, o rendimento médio da maioria dos profissionais fica abaixo de um salário mínimo. Há, portanto, possibilidades de valorizar esses trabalhadores, criando meios que elevem o ganho mensal deles pela contribuição que dão à economia sustentável.

Há um enorme leque de soluções compatível com a preservação ambiental e o desenvolvimento social e econômico. No Brasil, recentes decisões do Congresso Nacional favorecendo o desmatamento, a mineração sem controle em áreas de povos originários e tradicionais e de preservação ambiental estabelecem insegurança e sugerem ser falso o compromisso do país com os acordos internacionais em relação à questão ambiental.

Não basta reduzir o desmatamento na Amazônia e destruir o cerrado. Como é insuficiente avançar na criação de mecanismos que reduzem a emissão de gases de efeito estufa quando a falta de saneamento básico provoca a poluição dos corpos hídricos que compromete a qualidade de vida da população.