Em pouco mais de uma semana, o Banco Central voltará a se reunir para definir a nova taxa básica de juros (Selic), que está em 12,25% ao ano. É praticamente certo que haverá um corte de 0,5 ponto percentual, para 11,75% anuais, como já ressaltou o Comitê de Política Monetária (Copom) em seus vários comunicados. Esse roteiro pré-definido, porém, será atropelado pelos resultados do Produto Interno Bruto (PIB) do terceiro trimestre, que serão divulgados na próxima terça-feira. A aposta geral é de queda entre 0,1% e 0,2% ante os três meses imediatamente anteriores.


Esse tombo da atividade poderia ser visto como um ajuste sazonal da economia, devido à entressafra agrícola. O problema é que todas as projeções apontam para novos recuos do PIB no quarto trimestre do ano e no primeiro de 2024. Ou seja, o Brasil caminha para uma recessão técnica, que tende a mexer com os nervos do governo e a afetar o humor da população num ano eleitoral. Os juros, que vêm caindo, mas continuam elevados para uma atividade que precisa de estímulos, voltarão, portanto, a ser os grandes vilões da vez. A culpa pelos números ruins da atividade cairá, em boa parte, no colo do Banco Central.


A realidade, porém, é que a economia tem perdido força por uma série de razões, a começar pelo fim da colheita de grãos, em especial, da soja, que representa quase 46% da atividade agrícola no país. Sem a força do campo, que já enfrenta os impactos das mudanças climáticas, com quebras de safras, os demais setores não conseguem sustentar o PIB no ritmo desejado. Comércio, indústria e serviços se ressentem de uma demanda fraca, pois a renda avança pouco, mesmo com a criação de empregos formais, e o crédito continua escasso e caro. Os investimentos produtivos, que também poderiam dar um fôlego ao PIB, o empurram para baixo.


Há que se ressaltar, ainda, que a economia cresceu com mais vigor em 2022 não por fatores estruturais. O que realmente pesou para o salto de 2,9% do Produto Interno Bruto foi a grande injeção de recursos por parte do governo da época de olho nas eleições presidenciais. O aumento do Auxílio Brasil para R$ 600 sustentou o consumo das famílias e fez a festa do varejo e, por consequência, das fábricas. Esse gás extra, no entanto, se esgotou. Agora, a atividade coloca os pés no chão com todos os seus desafios, inclusive o de conviver com um aperto monetário.


Certamente, o quadro seria mais desanimador não fosse o sucesso do Banco Central em derrubar a inflação. Os índices de preços caminham para o centro das metas definidas pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) depois de dois anos em níveis inaceitáveis. A inflação sob controle é o melhor instrumento para que a economia possa caminhar sem grandes atropelos e para que o país resolva, ou pelo menos tente resolver, seus problemas estruturais. É mais do que certo que o PIB brasileiro sofre com a baixa produtividade, devido a deficiências históricas na educação e na infraestrutura.


Sendo assim, não haverá porque empurrar para o Banco Central a responsabilidade pelos resultados mais fracos da economia, ou seja, uma contratada recessão técnica. A autoridade monetária, com sua independência prevista em lei, cumpriu a sua missão de levar a inflação para as metas. E que fique claro: esse trabalho ainda não acabou. Por causa da seca em algumas regiões e excesso de chuvas em outras, a produção de alimentos foi seriamente afetada. Significa dizer que os preços da comida, que acumularam deflação nos últimos meses, agora, voltaram a subir, impactando a economia como um todo.


Em meio a esse quadro, a tentação do governo de lançar mão de estripulias será grande. Se a opção for por aumento dos gastos fiscais, o desastre será geral, pois a inflação, que voltou a se assanhar impulsionada pelos eventos climáticos, vai arreganhar novamente os dentes. Nesse contexto, em vez de continuarem em queda, os juros serão mantidos em patamares acima do recomendável para uma economia anêmica. O Brasil tem exemplos de sobra para se mirar. Repetir erros só pune a população mais vulnerável, que não tem instrumentos de proteção. O momento requer paciência e bom senso. n