O vertiginoso aumento de diagnósticos de autismo – tanto precoces quanto tardios – tem contribuído para que o tema seja um dos mais discutidos entre autoridades de saúde, famílias e celebridades.
No entanto, o Brasil encontra uma profunda ausência de informações e dados atualizados sobre a condição. Prova disso é que um dos últimos dados de que se tem notícia sobre o tema é de 2010, e refere-se a um estudo da Organização Mundial da Saúde (OMS), que cita que o Brasil teria, naquele ano, aproximadamente 2 milhões de pessoas com autismo. Imaginemos este número nos dias de hoje, 13 anos depois.


Recentemente, estudo desenvolvido pela healthtech Genial Care em parceria com a Tismoo.me (plataforma de saúde destinada a condições de neurodesenvolvimento) fez um panorama com informações relevantes sobre pessoas autistas e suas famílias. O “Retratos do Autismo no Brasil em 2023”, lançado em novembro, contou com a participação de mais de 2 mil pessoas autistas ou cuidadoras de pessoas nessa condição.


O relatório revela que a grande maioria dos cuidadores está profundamente preocupada com o futuro a longo prazo da criança com autismo (79%). A preocupação, inclusive, ultrapassa barreiras geográficas, etárias e de renda.


Sobre as condições de saúde mental e física e do dia a dia das pessoas autistas, 49% afirmam que possuem alguma doença crônica ou secundária que foi identificada junto ao diagnóstico de transtorno de espectro autista (TEA), e 50% afirmam não ter acesso a recursos e suportes adequados para as suas necessidades.


Segundo a literatura científica, a saúde da pessoa autista é mais vulnerável que a população em geral, sobretudo em doenças comuns como questões gastrointestinais (16%), doenças respiratórias (10%) e obesidade (6%), que aparecem nessa ordem entre as mais prevalentes em autistas.


As outras duas principais dificuldades citadas pelos cuidadores no estudo são: arcar com os custos do tratamento (73%) e encontrar tempo para descanso e para cuidar de si mesmo (68%). O alinhamento entre os sistemas de saúde e educação é imprescindível, com a capacitação de pessoas com autismo. É fundamental rever práticas como terapias intensivas e salas de aula separadas, pois essas não promovem a autonomia desejada, mesmo que seja uma abordagem bem intencionada.


Fato é que o aumento no diagnóstico de pessoas com autismo se deve, em grande parte, aos avanços da ciência, que tem se dedicado ao estudo e à compreensão desse transtorno. Além disso, graças aos progressos científicos, informações relacionadas ao Transtorno do Espectro Autista (TEA) tornaram-se mais acessíveis.


Mas permanece a incerteza sobre o futuro a longo prazo das crianças autistas, que passa por diversos aspectos, como desenvolvimento do indivíduo, inclusão, como lidar com comportamentos desafiadores e apoio emocional, entre outros.


Por isso, as intervenções multidisciplinares e a orientação parental são fundamentais nesse aspecto. Além disso, o setor de saúde deve ser ativo, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida de crianças autistas e suas famílias. Se a sociedade não estiver disposta a olhar para o autismo como uma questão social ampla, de nada ou quase nada vai adiantar o esforço dos cuidadores, também merecedores de todo o cuidado.