Bruno Marques

Mestre em Direitos Humanos; pós-graduado em Gestão de Negócios e Sustentabilidade; graduado em Direito e Jornalismo. É professor de Direitos Humanos e ESG

A cúpula climática COP 28, da Organização das Nações Unidas (ONU), acontecerá de 30 de novembro a 12 de dezembro, em Dubai, no Oriente Médio. O evento, que está na sua 28ª edição (daí o número 28 no nome) e que contará com a participação de quase 200 países, terá como objetivo avaliar as ações realizadas até agora e redefinir, ou repactuar, novos compromissos globais que tenham como meta combater as mudanças no clima, entre elas, o aquecimento do planeta.

Ainda que tardias, as discussões vêm em boa hora, pois nunca as mudanças climáticas estiveram tão nítidas para a humanidade. Para nós, brasileiros, que antes associávamos os recursos naturais apenas à sua exuberância e à grandeza do país, já há alguns anos, precisamos também conviver com os impactos adversos, que deixaram de ser uma ameaça apenas para as próximas gerações e, agora, fazem parte da nossa realidade.
Eventos como enchentes, como tem acontecido nas últimas semanas na região Sul; ressacas do mar nos litorais, como no Rio de Janeiro; inimagináveis secas onde nunca se pensou que passariam por isso, como nos rios Negro e Amazonas, na região Norte; ondas excessivas de calor, com recordes de temperaturas, praticamente em todo o território nacional; entre outras consequências da mudança climática, têm sido cada vez mais comuns e já fazem parte do nosso cotidiano. No domingo, 19 de novembro, o município mineiro de Araçuaí, localizado no Vale do Jequitinhonha, registrou o dia mais quente da história do Brasil, com 44,8° Celsius.
Mas os impactos não ficam restritos ao Brasil. No Pacífico, por exemplo, o arquipélago de Tuvalu assinou em novembro deste ano um acordo com a Austrália, no qual todos os seus habitantes poderão migrar com o tempo para o maior país da Oceania, uma vez que duas das suas 11 ilhas – que somam cerca de 26 quilômetros quadrados – já estão submersas e as nove restantes correm sério risco de serem inundadas em até 80 anos. Países como Bangladesh e Índia também sofreram com frequentes inundações resultado de intensas chuvas em 2023.
Na Península Ibérica e na região do Mar Mediterrâneo o problema já é exatamente o oposto. A combinação de tempo seco, alta temperatura e de ventos têm gerado incêndios cada vez de maiores proporções, durante os intensos verões, assolando países como Portugal, Espanha e Grécia. O mesmo acontece também no estado da Califórnia, nos Estados Unidos. Em todos esses países, centenas e milhares de pessoas são obrigadas a deixarem suas casas, que estão cada vez mais próximas das labaredas e das chamas.
Esses são apenas alguns exemplos. Fato é que os participantes da COP 28 já perceberam que o compromisso de reduzir a temperatura média global em 1,5° para níveis pré-industrial, até o ano de 2030, não será cumprido e que medidas mais efetivas precisarão ser adotadas, visando combater as mudanças no ambiente.
Tanto que Estados Unidos e China, os maiores poluidores do globo terrestre e que, devido à sua imponência econômica, sempre se recusaram a aderir integralmente aos protocolos internacionais para redução das emissões de CO², têm estudado maneiras para assumir efetivamente responsabilidades em prol da saúde e da sobrevivência do planeta.
Um bloco de 27 países da União Europeia também estuda, pela primeira vez, implantar um fundo internacional que possa financiar projetos de combate às mudanças no clima, na tentativa de estimular que países mais pobres possam também investir em iniciativas que reduzam as alterações climáticas.
O alerta não é de hoje. Os primeiros estudos científicos que tratam do tema mudança climática datam do final do século 19, em 1896, quando o sueco Svante Arrenius, Prêmio Nobel de Química em 1903, alertou para o aquecimento global em função da emissão de CO2 fruto da queima de combustíveis fósseis.
Ou seja: a COP 28 não trará nada de novo ou que já não seja de conhecimento daqueles que estão à frente das tomadas de decisão para enfretamento das mudanças climáticas no planeta. A grande novidade e o que se pode realmente esperar do evento será o fato de que agora não dá mais para adiar. O encontro será a oportunidade para que as lideranças mundiais repactuem antigos projetos de modo que eles também se tornem realidade, assim como as mudanças climáticas também já são realidade.