Desde o simples comprimido que alivia dores de cabeça ou reduz a febre até a sofisticada pílula destinada ao tratamento de enfermidades crônicas e complexas, uma ampla variedade de medicamentos torna-se cada vez mais acessível ao público em geral. A conveniência de dirigir até uma farmácia ou encomendar remédios por meio de um simples toque no celular tornou-se uma realidade.
Por trás dessa oferta de opções e disponibilidade, há um investimento monumental em pesquisa e desenvolvimento. Mesmo uma cartela com analgésicos e antitérmicos, que costumamos adquirir para aliviar os sintomas de uma gripe leve ou resfriado, e que custa apenas alguns poucos reais ao consumidor, exigiu recursos substanciais e um longo período de desenvolvimento por parte de institutos de pesquisa e da indústria farmacêutica.

Vamos citar alguns números, para ilustrar essa realidade. Entre as 20 principais empresas biofarmacêuticas do mundo, o custo médio para o desenvolvimento de um medicamento atingiu a cifra de US$ 2 bilhões em 2022. Isso mesmo: você não leu errado, nem é erro de digitação. São dois bilhões de dólares para pesquisar, testar e colocar um medicamento novo no mercado. Um percurso complexo e criterioso, como deve ser.

O fluxo tradicional de desenvolvimento de um medicamento passa pela bioprospecção de substâncias obtidas da natureza ou sintetizadas a partir dela, a fim de verificar suas potenciais propriedades terapêuticas. Além disso, após a identificação de uma substância promissora, são realizados uma série de rigorosos testes de segurança e eficácia, envolvendo tanto animais quanto seres humanos, a fim de garantir que o produto seja seguro e adequado para uso em larga escala pela população.

Isso representa um desafio significativo para os laboratórios, sejam eles empresas tradicionais ou startups, sobretudo porque o retorno sobre o investimento em novos medicamentos e vacinas diminuiu drasticamente no último ano, atingindo apenas 1,2%. Em termos gerais, isso significa que investir em terapias para doenças ainda sem cura está se tornando menos atrativo do ponto de vista financeiro, o que é motivo de preocupação, uma vez que o alto custo da pesquisa e desenvolvimento de novas terapias, aliado às baixas taxas de sucesso nesse processo (que podem ser inferiores a 12%), afeta a acessibilidade das novas soluções aos pacientes.

Em resumo, quanto mais difícil se torna desenvolver uma nova terapia, menos alternativas acessíveis temos disponíveis para os pacientes. Precisamos compreender que o medicamento que cabe no nosso bolso custa bilhões para ser desenvolvido, e isso afeta todos nós.

Apontamos o problema. Então, como superá-lo? Uma das soluções para reduzir o investimento necessário para desenvolver novas terapêuticas reside na inovação nos métodos de pesquisa. A abordagem tradicional, que utiliza animais e voluntários humanos, precisa ser aprimorada. Temos as inovações tecnológicas como aliadas para tal aprimoramento.

Métodos mais eficazes e custos efetivos podem ter um impacto significativo no acesso das descobertas pelo conjunto dos pacientes que demandam essas soluções, e podem ainda transformar o Brasil em um líder nesse setor. Consequentemente, beneficia nossa população como um todo.

Essa mudança na forma como encaramos a pesquisa farmacêutica pode não apenas reduzir os custos, mas também aumentar a eficiência e a velocidade de desenvolvimento de novos medicamentos. A tecnologia pode permitir testes precisos em bancada de laboratório, identificação mais rápida de candidatos a medicamentos e avaliação de sua segurança e eficácia em modelos computacionais antes mesmo de iniciar testes em seres vivos. Isso não apenas economiza tempo e recursos, mas também contribui para reduzir a incerteza associada ao processo de pesquisa.

A inovação tecnológica e a mudança na forma como conduzimos a pesquisa farmacêutica podem abrir portas para um futuro em que medicamentos mais acessíveis e eficazes estejam ao alcance de todos. O investimento em métodos de pesquisa aprimorados não é apenas uma solução viável, mas também uma oportunidade para o Brasil se destacar na vanguarda da pesquisa farmacêutica global.

*Pesquisador, diretor da Crop Labs, empresa brasileira de pesquisa farmacêutica