A reintrodução da ararinha-azul na Caatinga baiana enfrenta sua mais grave crise sanitária. Em novembro de 2025, 11 aves que já viviam em liberdade foram recapturadas e, conforme divulgado pelo ICMBio, testaram positivo para circovírus, uma doença potencialmente fatal. O caso escalou e, em 3 de dezembro, a Polícia Federal deflagrou a "Operação Blue Hope" para investigar a disseminação do vírus, cumprindo mandados de busca e apreensão em Curaçá (BA) e Brasília (DF).
A crise expôs sérias falhas de biossegurança. Segundo o ICMBio, o criadouro parceiro do projeto descumpriu protocolos sanitários, o que resultou na aplicação de uma multa de aproximadamente R$ 1,8 milhão. Embora a instituição conteste o laudo e a metodologia dos exames, órgãos oficiais constataram infrações que colocaram em risco todo o programa de reintrodução.
O primeiro alerta surgiu em maio de 2025, quando um filhote nascido na natureza foi diagnosticado com a doença. Em resposta, o ICMBio instaurou um Sistema de Comando de Incidente para gerenciar a emergência, que culminou na recaptura e testagem das 11 ararinhas agora confirmadamente infectadas.
O que é o circovírus e por que ele preocupa?
O circovírus dos psitacídeos (PBFD) é um agente infeccioso que ataca o sistema imunológico e as células responsáveis pela formação das penas, bico e garras das aves. Em casos agudos, principalmente em filhotes, a doença pode levar à morte rapidamente. Em formas crônicas, causa a perda progressiva das penas e deformidades, deixando a ave debilitada e suscetível a outras infecções.
A alta transmissibilidade do vírus entre as aves é o principal fator de alerta. Em um projeto de reintrodução, onde cada indivíduo é vital para a sobrevivência da espécie, a introdução de uma doença como essa na população selvagem poderia ter consequências devastadoras, revertendo anos de trabalho e investimentos.
Enquanto as 11 ararinhas-azuis permanecem isoladas para tratamento, a situação evidencia a complexidade e a fragilidade do processo. O futuro do projeto agora depende não apenas de soluções veterinárias, mas também da rigorosa apuração das falhas nos protocolos para garantir a segurança sanitária e a sobrevivência da espécie na natureza.
Outro lado
O criadouro de ararinhas-azuis localizado em Curaçá (BA), acusado de ser a origem da contaminação de 11 aves resgatadas na natureza, questionou os resultados dos exames que apontaram a presença de circovírus no plantel. Em nota obtida pela reportagem, a instituição rejeita as acusações de negligência e condições inadequadas de manejo, que embasaram a multa de aproximadamente R$ 1,8 milhão aplicada pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).
Segundo o criadouro, há divergências significativas entre as metodologias laboratoriais utilizadas na detecção do vírus. Testes realizados com técnicas consideradas convencionais — incluindo análises feitas por um laboratório do governo — teriam identificado apenas três aves positivas. O resultado contradiz os exames que apontou a infecção nas 11 aves.
Em nota divulgação nesta quarta-feira (3/12), "a defesa do Criadouro Ararinha-azul informa que a Polícia Federal apreendeu celulares ecomputadores de funcionários da empresa, e que as aves permanecem no criadouro, aoscuidados dos colaboradores e sob a tutela do Estado.Ressalta que mantém total tranquilidade em relação à operação sobre o circovírus no Brasile acrescenta que a investigação já era esperada, pois foi o próprio criadouro quemcomunicou a detecção do vírus a todos os órgãos ambientais, em maio de 2025.
A primeira detecção do circovírus ocorreu em um filhote de ararinha-azul nascido em vidalivre, e não em cativeiro.O criadouro sempre atendeu todas as normas de biossegurança e ressalta que todas as103 ararinhas que vivem no local estão recebendo os cuidados apropriados, com bomestado clínico geral.Também é importante assinalar que as ararinhas, como os demais Psitacídeos Tropicais,são especialmente resistentes ao circovírus.
No âmbito da investigação, serão apuradas e demonstradas a conduta regular e lícita docriadouro em todos os aspectos, uma vez que sempre seguiu rigorosamente todos osprotocolos exigidos pelos governos brasileiro e alemão.O único ponto de divergência do criadouro com o ICMBio foi sobre a captura das ararinhasem vida livre, que apresentaram testes negativos.
A empresa entrou com uma ação naJustiça e conseguiu uma liminar para a suspensão da captura.Depois da manifestação do ICMBio, o juiz revogou a liminar e a notificação administrativade captura foi cumprida no prazo de 20 dias pelo criadouro.
Por fim, confiamos que as investigações conduzidas pela Polícia Federal e pelo MinistérioPúblico Federal resultarão no completo esclarecimento dos fatos e, posteriormente, aidoneidade da empresa será reconhecida pela Justiça.Esperamos que, após as investigações, o projeto de criação, manejo e preservação daespécie no Brasil, de tamanha relevância para o meio ambiente, possa continuar".
Uma ferramenta de IA foi usada para auxiliar na produção desta reportagem, sob supervisão editorial humana.
