Os confrontos na fronteira entre Camboja e Tailândia entraram na segunda semana neste domingo (14), depois de Bangcoc negar que um cessar-fogo tivesse sido alcançado, como alegado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
O conflito, decorrente de uma disputa sobre a fronteira de 800 quilômetros traçada durante a era colonial, deslocou 800 mil pessoas, segundo as autoridades.
Um primeiro civil tailandês morreu neste domingo por estilhaços de foguetes disparados pelas forças cambojanas, de acordo com Bangcoc. Quatorze soldados tailandeses e 11 civis cambojanos também morreram desde o início do conflito, segundo as autoridades.
"Estou aqui há seis dias e sinto que a luta ainda continua", disse Sean Leap, de 63 anos, à AFP neste domingo, em um abrigo na província fronteiriça cambojana de Banteay Meanchey.
"Quero que pare", afirmou, expressando preocupação com sua casa e seus animais.
Ambos os lados se culpam por instigar os confrontos e se acusam mutuamente de atacar civis.
Trump, que havia apoiado uma trégua anterior, anunciou na sexta-feira que os países vizinhos do sudeste asiático concordaram em suspender os combates. No entanto, o governo tailandês esclareceu que não havia acordo de cessar-fogo, e ambos os países declararam neste domingo que os combates continuam.
Surasant Kongsiri, porta-voz do Ministério da Defesa da Tailândia, afirmou que o Camboja lançou mísseis e bombas contra várias províncias fronteiriças.
Da mesma forma, Maly Socheata, porta-voz do Ministério da Defesa do Camboja, indicou que a Tailândia continuou disparando morteiros e bombas contra áreas de fronteira.
- Fronteiras fechadas -
O Camboja fechou suas fronteiras com a Tailândia no sábado, deixando trabalhadores migrantes bloqueados no local. Em um abrigo na província de Banteay Meanchey, a cambojana Cheav Sokun disse à AFP que seu marido, que está na Tailândia, quer voltar para casa.
Ela e o marido deixaram a Tailândia junto com dezenas de milhares de outros trabalhadores migrantes cambojanos durante os confrontos mortais de julho, mas ele ficou para trás trabalhando como jardineiro para seu "bom patrão tailandês".
"Ele me pediu para voltar antes. Depois disso, a fronteira fechou e ele não pode retornar", disse a mulher de 38 anos.
"Eu me preocupo com ele. Digo para ele não andar por lá (...). Temos medo de que descubram que somos cambojanos e nos ataquem", admitiu.
Na província de Surin, na Tailândia, o professor de música Watthanachai Kamngam, de 38 anos, disse à AFP que, na madrugada de domingo, viu vários foguetes riscando o céu escuro, antes de ouvir explosões à distância.
Watthanachai pinta cenas coloridas de tanques, bandeiras tailandesas e soldados carregando feridos nas paredes de bunkers de concreto, uma lembrança dos confrontos de julho que deixaram dezenas de mortos.
"Só quero documentar este momento para mostrar que esta é a nossa realidade", disse ele à AFP na semana passada.
Em meio aos combates, o exército tailandês impôs um toque de recolher das 21h às 5h (09h às 19h no horário de Brasília) em partes das províncias de Sa Kaeo e Trat.
Estados Unidos, China e Malásia intermediaram o cessar-fogo de julho.
Em outubro, Trump apoiou uma declaração conjunta de trégua entre Camboja e Tailândia. No entanto, a Tailândia suspendeu o acordo em novembro, depois que soldados tailandeses foram feridos por minas terrestres na fronteira.
Trump disse na semana passada que faria "alguns telefonemas" para restabelecer a trégua.
Mas o primeiro-ministro tailandês, Anutin Charnvirakul, disse a repórteres que o magnata republicano "não indicou se deveríamos estabelecer um cessar-fogo" durante a ligação.
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