Um grupo de militares de El Salvador será julgado pelo massacre de quase mil civis em 1981, no contexto da ofensiva do Estado contra as guerrilhas de esquerda, anunciou nesta terça-feira (9) uma organização que representa as vítimas.

Soldados do Batalhão Atlacatl executaram a tiros 986 pessoas, incluindo 558 crianças, em El Mozote e comunidades vizinhas, entre 9 e 13 de dezembro de 1981. As vítimas foram acusadas de colaborar com a Frente Farabundo Martí para a Libertação Nacional (FMLN, esquerda).

Treze dos supostos assassinos foram enviados a julgamento, segundo resolução emitida em 26 de novembro pelo Tribunal de Instrução da cidade de San Francisco Gotera, informou a ONG Cristosal. A data do início do julgamento ainda não foi definida, disse à AFP um porta-voz da organização.

A medida ainda pode ser contestada pela defesa, explicou a ONG, que decidiu em julho suspender suas operações em El Salvador e se transferir para a Guatemala, alegando perseguição do presidente salvadorenho Nayib Bukele.

Segundo a Cristosal, serão julgados o ex-ministro da Defesa Guillermo García e outros 12 oficiais, por acusações de assassinato e estupro.

García foi condenado em julho, com outros dois ex-comandantes militares, a 60 anos de prisão pelo assassinato de quatro jornalistas holandeses em março de 1982, durante a chamada guerra civil (1980-1992). Mas os três acusados terão que cumprir apenas 30 anos de prisão, a punição máxima prevista pelo código penal na época dos fatos.

O avanço do caso de El Mozote "foi possível graças à prova testemunhal fundamental fornecida de forma corajosa" pelos sobreviventes do massacre e a perícias forenses, ressaltou a Cristosal, que denunciou uma "escalada repressiva" do governo Bukele contra ativistas humanitários.

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