A ONG Greenpeace repudiou nesta sexta-feira (14) como "um ataque direto à água dos argentinos" o anúncio do presidente Javier Milei de alterar uma lei que protege os geleiras para facilitar investimentos milionários em mineração.

Milei afirmou em um discurso na quinta-feira que buscará redefinir os limites das zonas periglaciais protegidas por lei, que, segundo o Greenpeace, são críticas para o armazenamento de água e a regulação climática.

"O retrocesso ambiental que essa modificação representará colocará em risco o acesso à água para milhões de argentinos", disse a especialista em biodiversidade do Greenpeace Argentina, Agostina Rossi Serra, citada em um comunicado.

Essa lei permitirá "que cada província determine qual é a zona periglacial e, como contrapartida disso, haverá um grande investimento em matéria de mineração", afirmou o presidente horas depois do anúncio de um acordo-marco de comércio bilateral com os Estados Unidos que inclui a extração de minerais críticos.

A Lei de Geleiras vigente, de 2010, impede atividades que possam danificar geleiras e áreas periglaciais, como a mineração e a exploração hidrocarburífera.

Para o Greenpeace, a modificação da lei "abriria as portas para atividades que ameaçam a integridade dos geleiras e seus ecossistemas circundantes, colocando em risco as fontes de água doce".

Isso pode deixar os "geleiras expostos a um maior risco de contaminação, destruição e desaparecimento", acrescentou a organização ambiental.

Mas Milei vê uma oportunidade de riqueza nos Andes argentinos, a maior cadeia montanhosa do país.

Os ambientalistas "preferem que alguém morra de fome, mas não toquem em nada (...) um pensamento primitivo", disse o presidente.

"Estamos subutilizando a cordilheira. Poderíamos multiplicar por 12 vezes e meia nossas exportações", disse em um congresso econômico na província de Corrientes, 900 km ao norte de Buenos Aires, ao se referir ao cobre, ouro, lítio e às terras raras.

A Argentina faz parte dos quase 50 países no mundo que possuem geleiras. Dois mil delas ocupam uma superfície de 310 mil hectares, segundo o Sistema de Informação sobre Biodiversidade do país sul-americano.

A chamada "lei dos periglaciais" fará parte de um conjunto de reformas que o governo busca para liberalizar a economia.

Outros projetos na agenda são a reforma trabalhista e a tributária, que o Executivo tentará aprovar no Congresso depois de dezembro, quando assumirem os novos legisladores eleitos em uma vitória expressiva nas eleições de meio de mandato em outubro.

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