Ex-militares colombianos alertaram nesta quarta-feira (12) sobre as graves consequências que a decisão do presidente Gustavo Petro de suspender a cooperação em inteligência com os Estados Unidos pode ter no combate ao narcotráfico, após os ataques a embarcações no Mar do Caribe.
Em confronto com Donald Trump, o presidente de esquerda afirmou na terça-feira, na rede X, que ordenou interromper os "acordos com agências de segurança dos Estados Unidos" enquanto continuarem os bombardeios no Caribe e no Pacífico, que já deixaram 20 embarcações afundadas e ao menos 76 mortos.
Ex-integrantes das forças de segurança colombianas, historicamente aliadas de Washington na guerra contra o tráfico de drogas, disseram à AFP que se trata de uma medida contraproducente para o país, o maior produtor de cocaína do mundo.
"É o mais absurdo", declarou um ex-chefe da polícia que pediu anonimato. A decisão "não tem razão de ser" e pode fazer com que "a produção e a exportação de drogas pelos narcotraficantes saiam do controle", acrescentou.
"Quantos lutos, quantas viúvas, quantos órfãos, quanta dor carregamos, pessoalmente, institucionalmente e patrioticamente, por causa do narcotráfico", completou.
- Máfia "em festa" -
Por enquanto, o alcance da ordem de Petro é desconhecido. Fontes do governo admitem que seus frequentes anúncios sobre segurança nas redes sociais nem sempre são discutidos com a cúpula militar.
"É uma questão política", afirmou um membro das forças armadas, que garantiu não ter recebido nenhuma instrução formal.
Para o ex-comandante da polícia Óscar Naranjo, a máfia deve estar "em festa" ao saber que "a inteligência vai ficar paralisada".
Segundo ele, é uma "contradição" que, enquanto os criminosos "constroem redes transnacionais", os Estados latino-americanos "comecem a paralisar seus esforços de integração".
A decisão de Petro terá um "impacto muito grande", avaliou Carlos Pinedo, capitão reformado da Marinha e doutor em segurança internacional.
"É muito grave porque fecha canais de comunicação e faz perder um trabalho e uma relação de muitos anos", afirmou.
O especialista destacou que, nesse cenário, a Colômbia ficaria "fora da comunidade de inteligência" na luta contra o narcotráfico na região, já que os Estados Unidos são o "articulador" dessas alianças.
Um ex-agente da CIA disse que as informações obtidas pela inteligência colombiana a partir de fontes civis costumavam ser fundamentais para sustentar operações de espionagem e de interpretação de imagens de satélite.
A relação dos serviços de segurança colombianos com Petro tem sido tensa, já que o ex-guerrilheiro convertido em presidente destituiu vários generais de alta patente.
"Literalmente, centenas de militares e oficiais de inteligência americanos mantêm o que consideram relações estreitas, até mesmo amizades, com seus colegas colombianos", declarou à AFP o ex-analista da CIA Fulton Armstrong.
-"Bravata"-
Sem apresentar provas, Trump chamou Petro de "líder do narcotráfico" e impôs sanções financeiras contra ele, alegando que o presidente não conseguiu impedir o envio de drogas aos Estados Unidos.
Para o ex-diretor da polícia que pediu anonimato, o anúncio de terça-feira é uma "bravata" de Petro.
Já um coronel do Exército da época de Pablo Escobar afirmou que a medida é "meramente simbólica e provocadora".
"A CIA americana é uma entidade com muita experiência e realiza trabalhos de inteligência com ou sem autorização do governante de plantão. Já chegou a atuar em conjunto com militares e civis do próprio governo que proíbe o compartilhamento de informações", afirmou.
O ex-analista da CIA Fulton Armstrong concordou: "Petro não conseguirá impedir que os Estados Unidos coletem informações na Colômbia e em seus arredores".
Segundo Armstrong, o presidente colombiano não quer "ser visto como cúmplice dos Estados Unidos no afundamento de lanchas rápidas e, pior ainda, no uso de informações colombianas para desenvolver um plano de ataque à Venezuela".
"Mas nos obrigar a retirar todas as nossas capacidades seria um exagero", concluiu.
A embaixada dos Estados Unidos em Bogotá não respondeu ao pedido de comentários.
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