O movimento islamista palestino Hamas analisa com "espírito positivo" a proposta de trégua com Israel, depois de quase sete meses de uma guerra que causou uma destruição "sem precedentes" na Faixa de Gaza. 

Depois de meses de negociações sem qualquer resultado, o chefe do Hamas, Ismail Haniyeh, falou na quinta-feira com um tom otimista sobre a última proposta de cessar-fogo e a libertação dos reféns israelenses capturados pelos islamistas durante o ataque de 7 de outubro. 

Estas declarações alimentam a esperança de um acordo que dê um respiro à população de Gaza, que nesta sexta-feira continua sob bombardeio israelense, segundo as equipes de resgate palestinas.

Haniyeh informou que o grupo enviará "em breve" uma delegação ao Egito para continuar as negociações e que o Hamas analisa a proposta com "espírito positivo". 

O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) estima que serão necessárias décadas para reconstruir as casas destruídas durante a guerra, uma vez que "a magnitude da destruição é enorme e sem precedentes" e alertou que a comunidade internacional não é confrontada com uma missão desta dimensão desde a Segunda Guerra Mundial. 

O PNUD estima que a devastação do conflito afetará gerações de palestinos e apelou urgentemente a um cessar-fogo.

- "Sofrimento" -

Esta trégua, mediada por Catar, Egito e Estados Unidos, seria a primeira desde a do final de novembro, quando um primeiro acordo permitiu a libertação de 105 reféns detidos em Gaza em troca de 240 prisioneiros palestinos. 

O Hamas, que governa Gaza desde 2007, exige um cessar-fogo permanente e a retirada das tropas israelenses, o que Israel rejeita. 

O plano de trégua que o Hamas analisa inclui a interrupção dos combates durante 40 dias e a libertação de reféns israelenses em troca da libertação de prisioneiros palestinos em Israel, segundo detalhes divulgados pelo Reino Unido.

A guerra eclodiu em 7 de outubro, após a incursão de comandos do Hamas no sul de Israel, onde mataram 1.170 pessoas, a maioria civis, e sequestraram 250, segundo um relatório da AFP baseado em dados israelenses. 

As autoridades israelenses estimam que, após a troca de novembro, 129 pessoas ainda estão detidas em Gaza, mas suspeitam que 35 dos sequestrados estejam mortos. 

Israel anunciou nesta sexta-feira a morte de Dror Or, um refém de 49 anos, e o kibutz onde vivia pediu ao Hamas que devolvesse o seu corpo. 

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, enfrenta protestos para que seu governo de extrema direita negocie a libertação dos reféns. 

A ofensiva lançada por Israel em resposta ao ataque de 7 de outubro deixa até agora 34.596 mortos em Gaza, a maioria civis, segundo o Ministério da Saúde do governo do Hamas.

O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, esteve no Oriente Médio nesta semana e visitou Israel na quarta-feira. Durante a sua viagem, ele instou o Hamas a aceitar a proposta, que chamou de "extraordinariamente generosa". 

Blinken também reiterou a Israel que os Estados Unidos se opõem ao seu plano de lançar uma invasão em grande escala em Rafah, uma cidade no sul de Gaza onde 1,5 milhão de palestinos sobrevivem em condições extremas.

- "Fome" -

A crise humanitária e o aumento do número de mortos em Gaza provocaram manifestações em todo o mundo, incluindo um movimento de protesto generalizado nas universidades americanas, que foi reprimido pela polícia. 

O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, anunciou na quarta-feira o rompimento das relações com Israel e a Turquia informou na quinta-feira que suspenderá as transações comerciais. 

Uma questão fundamental é a chegada de mais ajuda humanitária a Gaza, onde vivem 2,4 milhões de pessoas e que enfrenta grave escassez devido ao cerco estabelecido por Israel. 

Sob pressão dos Estados Unidos, Israel aumentou os fluxos de ajuda nos últimos dias.

A ONG americana World Central Kitchen retomou as suas atividades esta semana.  Esta organização, fundada pelo chef espanhol José Andrés, havia suspendido as suas operações após um bombardeio israelense que matou sete de seus funcionários. 

"Quando esta cozinha fechou, muitas pessoas passaram fome", disse Zakria Yahya Abukuwaik, administradora de um centro da ONG em Rafah.

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