Com taxas de homicídio elevadas e crimes como a extorsão em alta, o México vive uma eleição presidencial na qual as propostas das candidatas favoritas contra a criminalidade parecem insuficientes, alertam especialistas.

A escalada da violência, que se instaurou em 2006 com a ofensiva militar antidrogas do presidente conservador Felipe Calderón (2006-2012), deixa mais de 450.000 homicídios e cerca de 100.000 desaparecidos, segundo números oficiais.

Claudia Sheinbaum, candidata governista e líder na intenção de voto, propõe manter a estratégia do presidente, Andrés Manuel López Obrador, de abordar as raízes da violência, como a pobreza e a marginalização, antes de combater as máfias. O presidente esquerdista chamou esta política de "abraços, não balas".

Mas esta abordagem se mostrou ineficiente considerando uma taxa de homicídios que — segundo a Insight Crime — se manteve acima de 23 a cada 100 mil habitantes desde 2016, superior à média latino-americana, e pelo controle exercido pelos cartéis em diversas regiões, segundo analistas consultados pela AFP. 

"Vamos trazer paz e segurança!", prometeu Sheinbaum em Fresnillo (Zacatecas, norte), cidade mexicana onde as pessoas percebem mais insegurança, segundo uma pesquisa oficial.

Fresnillo foi o local escolhido pela candidata de centro-direita Xóchitl Gálvez para iniciar sua campanha eleitoral. "Chega de abraçar criminosos!", disse ela, em referência à famosa expressão de López Obrador. 

A violência também abala as eleições, com 15 candidatos a cargos regionais mortos desde outubro, segundo o governo. A consultoria Integralia contabiliza 23 desde setembro.

"As pessoas querem punho forte", mas não "abuso", diz Raúl Benítez, especialista em segurança e crime organizado do centro de pesquisas Casede. Mas para atender a esta reivindicação é necessária a coordenação de juízes, policiais, procuradores e agências de inteligência, explica Benítez, que reconhece que Sheinbaum teve sucesso ao seguir estas diretrizes como prefeita da Cidade do México (2018-2023).

Contudo, o desafio é aplicá-las a um país de 126 milhões de habitantes, o que exige numerosos recursos para reparar uma "cadeia de justiça quebrada", afirma Carlos Rodríguez Ulloa, consultor de segurança e inteligência. 

Ambos os especialistas consideram que o plano de López Obrador fracassou. 

"Não é atacando a pobreza que combatemos o crime, é atacando os criminosos com uma estratégia correta", afirma Benítez. 

Para Rodríguez, a política do presidente facilitou a expansão dos cartéis, cujas atrocidades persistem apesar de seu discurso pacifista.

Os cartéis da Nova Geração de Jalisco (CJNG) e o de Sinaloa, que atuam no país, são duas das maiores organizações criminosas do continente. Outros grupos ligados à práticas extorsivas e ao tráfico de migrantes também estão em funcionamento no México.

- Violência normalizada -

As candidatas, porém, concordam com a necessidade de reforçar a polícia e as instituições judiciais, bem como a coordenação entre as autoridades e o fortalecimento da Guarda Nacional, órgão militarizado criado por López Obrador.

Mas há diferença em suas abordagens: enquanto Sheinbaum oferece novos programas para os jovens, Gálvez propõe capturar os criminosos mais procurados nos primeiros dois anos de governo, construir uma prisão para os mais perigosos e lançar o Exército contra as grandes máfias. Ela também promete melhorar os salários e benefícios dos policiais, uma medida que, segundo analistas, visa reduzir a corrupção.

Em Tijuana, na fronteira com os Estados Unidos, cidadãos ouvidos pela AFP acreditam que as postulantes à presidência partem de diagnósticos equivocados. 

Na Baixa Califórnia, estado ao qual pertence Tijuana, a taxa de homicídios é o triplo da média nacional (76,7). 

"Repressão e prisão" é "um discurso policial que não ataca as causas", comentou Cristian Castro, professor de 47 anos. 

Para Enedina Gálvez, uma das milhares de pessoas que vivem em Tijuana e trabalham nos Estados Unidos, a solução passa por discutir a polêmica descriminalização das drogas, tema ausente na campanha.

"Se os atos criminosos ocorrem porque as pessoas usam drogas, esse uso deveria ser regularizado", diz a mulher de 34 anos. 

Embora 41% dos mexicanos considerem a insegurança o tema "mais urgente" para o próximo governo, segundo pesquisa do jornal El Financiero, a questão é deixada de lado no discurso de Sheinbaum. 

Apesar disso, o partido no poder tem 51% das intenções de voto contra 34% de Gálvez. 

Os mexicanos estão "saturados e resignados" com a violência, diz Rodríguez.

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