O escritor Salman Rushdie lança nesta terça-feira (16) sua nova obra, "Faca: Reflexões sobre um atentado", na qual comenta o ataque que sofreu há quase dois anos em Nova York, quando perdeu um olho.

O escritor de 76 anos, nascido na Índia, declarou em entrevista ao programa "60 Minutes" da CBS no último domingo (14) que sonhou que "era atacado em um anfiteatro" pouco antes de viajar para Chautauqua, uma cidade no noroeste de Nova York onde faria uma palestra em agosto de 2022. 

"Eu disse para minha esposa, Eliza, 'não quero ir' por causa do sonho. Aí pensei: 'Não seja bobo, é um sonho'", disse ele ao jornalista Anderson Cooper, na primeira entrevista que concedeu a uma emissora de televisão desde o ataque.

Em seu relato "comovente", segundo a editora do livro, Random House, Rushdie conta em pouco mais de 200 páginas como sobreviveu às dezenas de facadas proferidas por um jovem americano de origem libanesa, quando o autor apresentaria uma palestra na Instituição Chautauqua para quase mil pessoas. 

Ele sobreviveu, mas perdeu um olho que caiu da órbita como "um ovo cozido", segundo descreveu na televisão, o que "o incomoda todos os dias".

Após algumas tentativas frustradas nos mais de 30 anos que se passaram desde a fatwa (determinação jurídica islâmica) decretada pelo então líder supremo do Irã, aiatolá Ruhollah Khomeini, — ainda em vigor — na sequência da publicação da sua obra "Os Versos Satânicos", seus inimigos quase conseguiram acabar com sua vida. 

O tradutor japonês do livro teve menos sorte, foi assassinado em 1991, assim como quase 20 pessoas em manifestações violentas na Índia e no Paquistão.

- "Dura lembrança" -

Na Feira do Libro de Frankfurt em outubro do ano passado, Rushdie contou que o ataque foi "uma lembrança bastante dura e clara" desta sentença de morte ainda em vigor. 

"Senti como se algo tivesse saído de um passado distante e tentassem me arrastar de volta no tempo para me matar", descreveu na entrevista.

Após viver vários anos com uma escolta e escondido, Rushdie se estabeleceu em Nova York em 2000 e desde então teve uma vida social intensa.

Desde "aquele dia terrível de agosto de 2022 esperamos pela história de sua sobrevivência milagrosa e de seu retorno triunfante à sua vibrante vida literária", disse recentemente a presidente da ONG PEN America, Suzanne Nossel, à AFP. 

"Faca" é a segunda obra publicada pelo romancista anglo-americano desde o ataque. Antes publicou seu 15º romance, "Cidade da Vitória", uma história épica que havia terminado de escrever antes do atentado.

Defensor da liberdade de expressão, é autor de diversos outros romances como "Os Filhos da Meia-Noite", "Vergonha" e "Quichotte", além de diversos ensaios.

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