Um tribunal peruano anunciará nesta quinta-feira (11) o veredicto do novo julgamento dos supostos autores do assassinato em 2014 de quatro líderes indígenas ashaninkas defensores dos recursos naturais em uma área da Amazônia na fronteira entre Brasil e Peru.

A decisão sobre a morte violenta de Edwin Chota, Jorge Ríos, Leoncio Quintisima e Francisco Pinedo, mortos diante de membros de sua comunidade nativa Alto Tamaya-Saweto, será lida a partir das 17h locais (19h de Brasília) em um tribunal em Pucallpa, nordeste do país.

Os quatro foram assassinados em 1º de setembro de 2014, em meio a ameaças por defender seu território e denunciar o desmatamento, atividade que afeta o ecossistema e a biodiversidade da região. Eles deixaram 17 órfãos.

O Ministério Público acusou cinco pessoas pelo crime: os irmãos Josimar e Segundo Atachi, José Carlos Estrada, Hugo Soria e Eurico Mapes. Para cada um, pediu 35 anos de prisão.

A leitura da sentença pode durar entre duas e cinco horas, de acordo com fontes judiciais.

O caso Saweto, como é conhecido popularmente, está sob responsabilidade da juíza Karina Bedoya, do Tribunal Penal Colegiado de Ucayali, na cidade de Pucallpa. O julgamento começou em novembro de 2023.

Trata-se do segundo julgamento dos envolvidos, que foram condenados em primeira instância a 28 anos em fevereiro de 2023, mas depois um tribunal de apelações anulou a sentença e ordenou em agosto outro processo, alegando "irregularidades" com o depoimento de uma testemunha, segundo o advogado dos familiares das vítimas, Yusen Caraza.

- "Queremos justiça" -

"É urgente evitar qualquer percepção de impunidade, dado o prolongado processo judicial sem uma sentença firme, e garantir justiça para as vítimas e suas famílias", exigiu a Defensoria do Povo no X (antigo Twitter).

Os familiares das vítimas estarão presentes na audiência, após participarem de uma vigília comunitária.

"Peço por justiça, esperamos há dez anos. Continuamos sofrendo sozinhos", disse à AFP Lita Rojas, viúva de Quintisima.

"Isso machucou muito meu coração, nunca vou esquecer", afirmou Rojas, de 47 anos, que chegou a Pucallpa após dois dias viajando por rio e estrada desde a remota comunidade de Alto Tamaya-Saweto, na fronteira amazônica com o Brasil.

As famílias esperam que a sentença sirva como um precedente na proteção dos líderes indígenas e defensores do meio ambiente.

"Temos confiança e esperamos uma condenação, confiamos na justiça do tribunal", declarou à AFP o advogado Caraza.

As quatro famílias pediram uma indenização de 250 mil soles para cada uma (cerca de 342 mil reais).

O crime desencadeou uma onda de críticas contra as autoridades peruanas pela pouca atenção dada às demandas de defesa das florestas e proteção às vidas dos líderes nativos, ameaçados por máfias de desmatadores.

Edwin Chota era uma figura pública que havia se tornado uma referência para grupos ambientalistas e meios de comunicação internacionais por sua defesa da floresta amazônica.

Segundo a ONG Global Witness, desde 2012, pelo menos 54 defensores da terra e do meio ambiente foram assassinados no Peru, dos quais mais da metade pertenciam a povos indígenas.

Há uma década, a revista científica americana Scientific Reports denunciou que a política do governo peruano para proteger as florestas da exploração ilegal de madeira havia provocado indiretamente um saque de recursos em grande escala.

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