Martín Almada, líder da defesa dos direitos humanos no Paraguai e artífice das descobertas dos "Arquivos do Terror" sobre os crimes da ditadura de Alfredo Stroessner, morreu, neste sábado (30), em Assunção, aos 87 anos, informaram seus familiares.

Advogado e pedagogo, Almada foi contemplado, em 2002, com o Prêmio Nobel Alternativo (Right Livelihood Award, em inglês), apresentado desde 1980 no Parlamento sueco.

Em 22 de dezembro de 1992, este ativista dos direitos humanos invadiu pessoalmente uma instância policial, auxiliado por parlamentares e promotores, para apreender os arquivos que atestavam a ocorrência de prisões, mortes e desaparecimentos de opositores durante a ditadura (1954-89).

Com essas evidências, a Justiça condenou cerca de 20 policiais e indivíduos próximos do ex-ditador por violações dos direitos humanos.

"Sua tenacidade e visão foram fundamentais para a descoberta dos arquivos da polícia do governo Stroessner. Já descana na paz dos que cumpriram uma grande missão na vida", afirmou o juiz José Agustín Fernández, diretor do Arquivo da Memória. "Foi um herói civil", acrescentou.

Almada, que também esteve preso entre 1975 e 1978, responsabilizou policiais do regime pela morte de sua esposa por torturas psicológicas. Ele denunciou que a faziam ouvir os tormentos aos quais foi submetido.

Os arquivos encontrados por Almada também serviram para demonstrar a colaboração da polícia política paraguaia com seus pares de Brasil, Argentina, Uruguai, Chile e Bolívia nos anos 1970 e 1980 para a troca de prisioneiros políticos, um plano conhecido pelo codinome "Operação Condor".

Após sua libertação, depois de uma longa greve de fome, Almada asilou-se no Panamá, em 1978, onde atuou como investigador e depois radicou-se na França, onde foi funcionário da Unesco em Paris.

Almada voltou ao Paraguai em 1989 depois do golpe que depôs Stroessner e que restaurou a democracia no país.

"Temos que continuar trabalhando, embora abrir os arquivos e divulgá-los seja muito perigoso", disse Almada ao receber, em 2023, o reconhecimento da Câmara de Senadores "por suas contribuições inestimáveis para a recuperação, proteção e valorização dos Aquivos do Terror".

Segundo dados da Comissão da Verdade e Justiça, cerca de 20.000 pessoas foram vítimas diretas de violações dos direitos humanos durante a ditadura. Houve 19.862 presos de forma arbitrária ou ilegal; 18.772 cidadãos torturados e 59 executados extrajudicialmente. Outros 336 estão desaparecidos.

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