Um ano após o escândalo de corrupção na Venezuela que levou à sua renúncia, o poderoso ex-ministro do Petróleo Tareck El Aissami está desaparecido da vida pública. Onde está? Está sendo investigado? Estas são perguntas sem resposta do hermético chavismo dominante.

O que se sabe é que seus dias como homem de confiança do presidente Nicolás Maduro, de quem foi vice-presidente (2017-2018), e de seu antecessor Hugo Chávez, ficaram para trás. 

El Aissami, sancionado pelos Estados Unidos, renunciou em 20 de março de 2023, após o anúncio de investigações judiciais sobre um esquema ligado à venda de petróleo bruto por meio de criptoativos, aposta com a qual o governo buscava evitar sanções financeiras de Washington contra a Venezuela, que possui as maiores reservas de petróleo do mundo: 297 bilhões de barris.

Foram presos 61 funcionários, políticos e empresários após o desvio de US$ 15 bilhões (R$ 75 bilhões na cotação atual), segundo relatórios da imprensa.

"Em virtude das investigações que foram iniciadas sobre graves atos de corrupção na PDVSA [Petróleos de Venezuela], tomei a decisão de apresentar a minha demissão", escreveu o então ministro na rede social X, manifestando "apoio" a este processo.

Já Maduro prometeu que o país iria "com tudo, não importa quem caia!", após aceitar sua renúncia. 

Entretanto, El Aissami nunca mais apareceu em público e a renúncia é sua última publicação nas redes sociais, o que alimentou teorias: alguns dizem que foi detido em uma mansão de um forte militar em Caracas, outros que ele tem graves problemas de saúde. O governo, por sua vez, não faz menções a ele. 

"A questão de El Aissami seguiu o mesmo padrão de hermetismo, do ponto de vista informativo e comunicacional, de outras situações como a morte do presidente Chávez (em 2013) ou casos de crise interna na coalizão oficial, então há apenas especulação", disse à AFP o cientista político John Magdaleno.

- Sob julgamento -

O Ministério Público informou no ano passado que 22 dos 61 presos foram levados a julgamento. Os tribunais ainda não marcaram data para as audiências. 

"Estamos na fase intermediária aguardando a audiência preliminar dos diferentes esquemas", disse à AFP o procurador-geral, Tarek William Saab, evitando fazer referência à El Aissami.

Colaboradores próximos do ex-ministro estão entre os detidos, incluindo Joselit Ramírez, funcionário encarregado das operações estatais com criptoativos. 

Advogado de origem sírio-libanesa, o político assumiu o Ministério do Petróleo em abril de 2020, durante a pandemia de Covid-19, para uma "reestruturação", segundo sua nomeação. Ele prometeu, sem sucesso, aumentar a produção para um milhão de barris por dia (bpd), que acabou reduzida para menos de 400 mil, o menor número em décadas. 

Retomou as operações com empresas petrolíferas estrangeiras, como a Chevron, no meio de um processo de flexibilização das sanções americanas.

A produção de petróleo na Venezuela hoje ultrapassa os 800 mil bpd, ainda longe dos três milhões de 2008. Os especialistas associam o colapso à falta de investimentos e à corrupção.

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