Ex-comandantes das Forças Armadas vincularam Jair Bolsonaro ao suposto plano golpista para manter o ex-presidente no poder após a derrota nas urnas em 2022, em depoimentos à Polícia Federal (PF) publicados nesta sexta-feira (15).

Os interrogatórios aconteceram nas últimas semanas no âmbito da investigação "Tempus Veritatis" sobre o suposto plano de Bolsonaro e seu círculo próximo para evitar a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Os depoimentos foram publicados nesta sexta-feira por ordem do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.

Segundo os investigadores, Bolsonaro teve em sua posse um decreto de golpe de Estado, que foi apresentado a militares do alto escalão durante uma reunião em 7 de dezembro de 2022, três semanas antes da posse de Lula.

Em seu depoimento à PF, o ex-comandante do Exército Marco Antônio Freire Gomes admitiu ter participado da reunião na residência oficial do Palácio da Alvorada, em Brasília, onde "um assessor [de Bolsonaro] leu os 'fundamentos jurídicos'", compilados em uma minuta golpista.

Freire Gomes disse também ter participado de outras reuniões nas quais o ex-presidente Bolsonaro "apresentou sua hipótese de utilização de institutos jurídicos" para refutar o resultado das eleições.

O depoente acrescentou que sempre deixou claro que "o Exército não participaria da implementação" dessas medidas, que tinham como objetivo "reverter o processo eleitoral".

Por sua vez, o ex-comandante da Aeronáutica, brigadeiro Carlos Almeida Baptista Jr. garantiu aos investigadores que, em um dos encontros realizados após a derrota nas urnas, Bolsonaro insistiu em buscar "mecanismos" para evitar que Lula assumisse o poder.

Baptista Jr. afirmou que Freire Gomes disse a Bolsonaro que se ele cogitasse "a hipótese de atentar contra o regime democrático [...] teria que prender o presidente da República".

Indagado sobre se o posicionamento de Freire Gomes foi determinante para que uma minuta do decreto que viabilizasse um golpe de Estado não fosse adiante, Baptista Jr respondeu que "sim".

O presidente do Partido Liberal (PL) de Bolsonaro, Valdemar Costa Neto, disse à PF que o ex-presidente e deputados do partido o "pressionaram" para apresentar uma ação questionando o resultado das eleições no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Dos 27 militares e ex-funcionários do governo citados a depor, um total de 14 permaneceram em silêncio, inclusive o próprio ex-presidente.

Bolsonaro negou qualquer intenção golpista e se disse vítima de uma perseguição "implacável".

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