Uma delegação israelense liderada pelo diretor do Mossad - a agência de israelense de inteligência externa - pousou nesta sexta-feira (23) em Paris, segundo um representante do país, para tentar negociar uma trégua com o Hamas na Faixa de Gaza, território que enfrenta uma situação humanitária desesperadora, com bombardeios incessantes.

O Exército de Israel bombardeou durante a noite as cidades de Khan Yunis e Rafah, no extremo sul do território palestino, governado pelo Hamas desde 2007.

A guerra começou após o ataque do movimento islamista palestino no sul de Israel em 7 de outubro, que deixou 1.160 mortos, a maioria civis, segundo um balanço da AFP baseado em dados israelenses.

Em resposta, o Exército israelense iniciou uma ofensiva aérea e terrestre que deixou 29.514 mortos em Gaza, a maioria civis, segundo o Hamas, considerado um grupo "terrorista" por Estados Unidos, União Europeia e Israel.



Os bombardeios pararam apenas durante uma trégua no fim de novembro, que permitiu a libertação de mais de 100 reféns sequestrados pelo Hamas durante o ataque ao território israelense, em troca da liberação de 240 palestinos presos em Israel.

Desde então, os mediadores internacionais tentam obter um novo cessar-fogo para libertar os outros reféns e autorizar a entrada de ajuda humanitária. Segundo Israel, 130 reféns continuam em Gaza e 30 deles teriam falecido em cativeiro.

Além de David Barnea, diretor do Mossad, a delegação que viajou a Paris para "desbloquear" as negociações inclui Ronen Bar, diretor do Shin Bet, o serviço de segurança interna, segundo a imprensa israelense.

A viagem acontece um dia após o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, apresentar uma proposta de plano para o futuro de Gaza, que propõe que o território seja governado por "funcionários locais" sem vínculos "com países ou entidades que apoiam o terrorismo".

Também propõe, que o Exército israelense possa operar em Gaza e na Cisjordânia para "evitar qualquer ressurgimento da atividade terrorista" e criar uma "zona neutra" para garantir "a segurança" de Israel.

- "Os animais vivem melhor que nós" -

A Autoridade Palestina, que administra a Cisjordânia, expressou oposição veemente ao plano, que não prevê a criação de um Estado palestino independente .

"Se o mundo quer segurança e estabilidade na região, deve acabar com a ocupação israelense dos territórios palestinos e reconhecer o Estado palestino independente com Jerusalém como capital", afirmou Abu Rudeineh, porta-voz de Mahmud Abbas, que administra o território palestino ocupado por Israel desde 1967.

Netanyahu, que destaca que o objetivo da campanha militar é "aniquilar" o Hamas, também pretende desmantelar a Agência das Nações Unidas para os Refugiados da Palestina (UNRWA).

Israel acusou 12 funcionários da UNRWA de envolvimento no ataque de 7 de outubro. A ONU demitiu os trabalhadores acusados e abriu uma investigação interna.

O diretor da agência, Philippe Lazzarini, alertou na quinta-feira que a UNRWA está "no limite", depois que 16 países suspenderam o financiamento.

A agência é essencial para levar ajuda humanitária a milhões de palestinos, incluindo muitos que sobrevivem em Gaza praticamente sem água, comida, medicamentos ou combustível, devido ao cerco israelense.

"Até os animais vivem melhor que nós", afirmou Zarifa Hamad, uma deslocada de 62 anos, no campo de refugiados de Jabalia, norte de Gaza.

O alto comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Volker Türk, denunciou "as graves violações" aos direitos cometidas por "todas as partes" em Israel, Gaza e na Cisjordânia.

Uma fonte do Hamas afirmou que, no final de janeiro, as partes em conflito discutiram em Paris um plano para uma trégua de seis semanas e a libertação de entre 200 e 300 presos palestinos em troca de entre 35 e 40 reféns israelenses.

Também aconteceram negociações no Egito, com a participação do líder político do Hamas, Ismail Haniyeh.

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