O presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou um encontro com o colega venezuelano, Nicolás Maduro, durante a reunião de cúpula da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), que acontecerá nesta sexta-feira (1º), na ilha de São Vicente e Granadinas.

O anúncio foi feito após uma reunião de Lula com o presidente da Guiana, Irfaan Ali, em Georgetown. O presidente brasileiro afirmou que não irá discutir com Maduro a disputa histórica pelo Essequibo, um território de 160.000 km² rico em petróleo e minério sob jurisdição da Guiana e reivindicado por Caracas.

"O presidente da Guiana sabe, assim como o presidente Maduro, que o Brasil está disposto a conversar com eles na hora em que for necessário, porque nós queremos convencer as pessoas de que é possível, através de muito diálogo, encontrar a manutenção da paz", disse o presidente. Mas "não vou discutir com o presidente Maduro essa questão, porque a reunião não é para isso. Vou discutir a Celac".

Lula viajou ontem a Georgetown para o encerramento da reunião de dirigentes dos 15 países da Comunidade do Caribe (Caricom), da qual participou como convidado especial. A próxima etapa da sua viagem acontecerá em Kingstown, capital de São Vicente e Granadinas, onde participará da reunião da Celac, bloco criado em 2010.

Lula recebeu Maduro em Brasília no ano passado, paralelamente a uma reunião de cúpula sul-americana. Naquela ocasião, causou polêmica ao afirmar que as denúncias de autoritarismo na Venezuela eram "uma narrativa".

O presidente brasileiro retomou os laços diplomáticos com o governo Maduro, rompidos por seu antecessor, Jair Bolsonaro (2019-2022).

- Disputa sobre Essequibo continua -

Sobre a disputa entre Venezuela e Guiana, Lula avaliou que está longe de ser resolvida: “É uma questão que já passou pela justiça, já passou pela ONU", mas o Brasil está disposto a trabalhar para que se possa "encontrar uma solução da forma mais amigável possível".

Após a reunião com Irfaan Ali, Lula desejou uma integração maior com a Guiana e disse que "a estratégia" do Brasil é não apenas contribuir para o desenvolvimento, mas também trabalhar para manter a América do Sul como uma região de paz: "Não precisamos de guerras".

A tensão entre Venezuela e Guiana, que despertou o temor de um conflito armado na região, aumentou no fim de 2023, com a chegada de um navio de guerra britânico a águas guianesas. A Venezuela viu essa manobra como uma provocação e mobilizou mais de 5.600 homens em exercícios militares perto da fronteira em disputa.

Em 9 de janeiro, uma reunião em Georgetown entre o presidente Irfaan Ali e o vice-secretário adjunto de Defesa dos Estados Unidos para o Hemisfério Ocidental, Daniel Erikson, tampouco foi vista com bons olhos por Caracas.

Maduro e Ali estiveram frente a frente em 14 de dezembro na ilha caribenha de São Vicente e Granadinas, em uma primeira tentativa de reduzir a tensão. No fim de janeiro, Brasília recebeu os chanceleres dos dois países para discutir a crise.

As tensão diminuiu após essa reunião, mas voltou a aumentar neste mês, depois que a empresa ExxonMobil anunciou a perfuração de dois poços em águas disputadas.

Diante dessa disputa, a Venezuela apela à vigência do acordo de Genebra, assinado em 1966, antes de a Guiana se tornar independente do Reino Unido, que lançava as bases para uma solução negociada e anulava uma sentença de 1899, que estabeleceu as fronteiras que a Guiana pede à Corte Internacional de Justiça (CIJ) que ratifique.

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