Renomados críticos do Kremlin e cidadãos russos comuns no exílio culparam, nesta sexta-feira (16), o presidente Vladimir Putin pelo "assassinato" do líder opositor Alexei Navalny, convencidos de que sua morte o transformará em "imortal" e em uma ameaça maior para o dirigente russo.

Os partidários do homem que era considerado o preso mais importante da Rússia estavam devastados e levavam flores às embaixadas de Moscou nas capitais estrangeiras, como forma de protesto.

"Navalny é eterno", dizia um cartaz em frente à delegação diplomática russa em Copenhague, na Dinamarca. "A Rússia mata", dizia outro, exibido por um ativista em Paris.

As autoridades russas disseram que Navalny, de 47 anos, morreu de forma repentina em sua prisão do Ártico. O anúncio chega quando Putin se prepara para prolongar suas duas décadas no poder com novas eleições presidenciais em março.

Navalny, um carismático advogado, era considerado o principal líder da oposição russa e o único político capaz de reunir grandes multidões, símbolo de uma Rússia alternativa que respeitaria os direitos humanos e viveria em paz com seus vizinhos.

"Que pesadelo!", disse nas redes sociais o político opositor no exílio Dmitry Gudkov, de 44 anos, para quem "a morte de Alexei é um assassinato, organizado por Putin".

"Embora tenha morrido de causas 'naturais', estas foram provocadas por seu envenenamento e pela tortura que sofreu na prisão", acrescentou este homem que, durante anos, convocou junto de Navalny os protestos da oposição, quando ainda eram permitidos.

Navalny sobreviveu a duras penas a um envenenamento com o agente nervoso de desenho soviético Novichok em 2020. Após receber tratamento na Alemanha, retornou à Rússia em 2021, onde foi imediatamente detido e depois condenado à prisão.

Seu retorno marcou uma nova onda de repressão na Rússia e os últimos vestígios de dissidência foram esmagados quando Putin enviou tropas à Ucrânia em fevereiro de 2022.

Todos os principais críticos de Putin estão na prisão ou no exílio, e centenas de milhares de russos deixaram o país.

- 'Não temo a morte' -

O renomado escritor russo Boris Akunin, que vive em um exílio autoimposto na Europa, disse que Navalny havia se tornado "imortal". "Não há nada mais que o ditador possa fazer contra ele", frisou à AFP.

"Também acredito que um Alexei Navalny assassinado será uma ameaça maior para o ditador do que um vivo", acrescentou o homem de 67 anos.

Putin poderia agora aumentar a repressão para afogar a dissidência restante e "lançar uma campanha de terror no país", estimou Akunin, para quem a morte de Navalny era "uma enorme perda pessoal".

No último outono boreal, o opositor falecido lhe garantiu em uma carta escrita da prisão que acreditava em Deus e na ciência. "Creio que a Rússia será feliz e livre", escreveu. "E não acredito na morte."

Lev Ponomarev, um veterano ativista de direitos humanos que vive em Paris, disse que sua morte era um desafio, mas que os russos devem continuar lutando por democracia.

"Este é um acontecimento histórico que deveria unir a todos nós", disse à AFP este homem de 82 anos, que seguia para uma concentração em frente à embaixada russa. "Temos que agir juntos."

- Navalny, na cédula de votação -

Contudo, os analistas políticos afirmam que não existe unidade entre os membros da oposição russa que vivem no exílio.

O antigo oligarca Mikhail Khodorkovski, que passou uma década na prisão na Rússia e, posteriormente, protagonizou embates frequentes com Navalny, disse que Putin era responsável por sua morte "prematura".

Do exílio, este político de 60 anos fez um apelo aos russos para que compareçam às urnas em 17 de março e escrevam o nome de Navalny nas cédulas em sinal de desafio.

Muitos russos comuns declararam-se comovidos com a morte do opositor. "Sinto-me vazia", disse Olga Kokorina, de 45 anos, que, ao lado de dezenas de russos, choraram a morte de Navalny em Paris. Alguns portavam bandeiras brancas e azuis, símbolo da oposição russa.

Kokorina afirmou que a morte de Navalny significava que as autoridades russas não parariam diante de nada para esmagar a dissidência. "Já não se trata de intimidação, mas de eliminação", declarou à AFP.

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