O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF),  retirou, nesta sexta-feira (9), o sigilo do vídeo de uma reunião entre Jair Bolsonaro e sua equipe de governo, no âmbito de uma investigação sobre tentativa de golpe envolvendo o ex-presidente e seu círculo próximo.

O vídeo, com duração de uma hora e meia, faz parte do processo da investigação da Polícia Federal (PF) segundo a qual uma "organização criminosa" estava preparando uma "tentativa de golpe de Estado" antes das eleições presidenciais de 2022, com o objetivo de manter Bolsonaro no poder.

As imagens, gravadas em 5 de julho de 2022, mostram o então presidente Bolsonaro reunido com vários ministros no Palácio do Planalto.

A discussão entre os presentes aborda as eleições que ocorreriam em outubro, nas quais o presidente Luiz Inácio Lula da Silva acabou vencendo.

Durante a reunião, o clima é visivelmente tenso e Bolsonaro frequentemente eleva o tom de voz e profere insultos.

"Os caras estão preparando tudo, pô, para o Lula ganhar no primeiro turno, para a fraude", afirma Bolsonaro em um trecho do vídeo, criticando o STF, que ele classifica como "um super-supremo, ele decide tudo, muitas vezes fora das quatro linhas".

Na época, o presidente vinha questionando a confiabilidade do sistema de urnas eletrônicas há meses, sem nunca apresentar provas da suposta "fraude" que estaria ocorrendo.

"Não adianta eu ter 80% dos votos. Eles vão ganhar", decreta durante a reunião.

"Nós sabemos que se a gente reagir depois das eleições, vai ter um caos no Brasil, vai virar uma grande guerrilha, uma fogueira o Brasil", continua.

Isso, segundo Bolsonaro, exigirá "tomar providências", embora indique que não poderia "ficar sozinho nessa guerra". No entanto, ele não detalha a que "providências" se refere.

O vídeo foi publicado pelo STF no dia seguinte à vasta operação da PF que teve como alvo Bolsonaro e vários dos principais ministros e assessores de seu governo.

O ex-presidente está proibido de deixar o país desde quinta-feira.

Segundo o vídeo, na mesma reunião, o general Augusto Heleno, então comandante do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), afirma: "se tiver que virar a mesa, é antes das eleições."

De acordo com os investigadores, a estratégia do grupo de Bolsonaro consistia inicialmente em espalhar suspeitas de fraude nas eleições presidenciais de 2022 mesmo antes da votação, para legitimar uma intervenção militar.

Nas eleições, Bolsonaro foi derrotado por Lula por uma margem estreita no segundo turno.

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