Centenas de pessoas se reuniram em Moscou, nesta segunda-feira (22), para apoiar um ex-deputado liberal que busca ser o candidato da “paz” contra Vladimir Putin nas próximas eleições presidenciais, uma cena pouco comum na Rússia.

Apesar do frio, o ex-deputado Boris Nadezhdin conseguiu coletar milhares de assinaturas desde sábado, com filas se formando em frente à sede de seu partido, Iniciativa Cívica, na capital russa.

Para poder ser considerado candidato, o político precisa reunir 100 mil assinaturas de eleitores até 31 de janeiro. De acordo com seu site, ele já tinha 85 mil na noite desta segunda (tarde no Brasil).

Nadezhdin, que atuou na oposição liberal, mas também em movimentos mais próximos ao Kremlin, expressa sua oposição à ofensiva russa na Ucrânia.

“A primeira coisa que farei: chamar à paz e pôr fim à mobilização”, disse no domingo, durante um debate com a jornalista russa Yulia Latynina no YouTube.

Nos últimos meses, Nadezhdin afirmou o país deveria “eleger um novo presidente” e que Putin havia cometido um “erro fatal” com sua intervenção na Ucrânia, iniciada em fevereiro de 2022.

Suas opiniões sobre a ofensiva são uma exceção na Rússia, onde a maioria dos opositores tiveram que fugir do país ou foram presos, assim como outros milhares de anônimos.

Seu posicionamento também difere do dos outros candidatos. Todos declararam apoio à ofensiva e ao atual presidente, no poder há quase 25 anos.

Ivan Semionov, um estudante de biotecnologia de 19 anos, apoiou Nadezhdin após se emocionar com as imagens “divulgadas no fim de semana nas redes sociais, que mostravam tantas pessoas aparecendo para apoiá-lo”.

“Para muitos, representa a possibilidade de expressar sua discordância com o que está acontecendo, sem medo de ser detidos”, explicou.

Natalia Avdeyeva, de 53 anos, ficou “positivamente surpresa” diante da mobilização. “Aqui somos todos solidários para apoiar um candidato que é contra a operação especial”, disse a enfermeira, originária de Oms, na Sibéria ocidental.

“Operação especial” é o termo usado pelas autoridades russas para se referir à ofensiva na Ucrânia.

Nadezhdin foi deputado na Duma, Câmara baixa do Parlamento russo, no início dos anos 2000. Era próximo do opositor Boris Nemtsov, assassinado em 2015. Nos últimos anos, se aproximou de formações políticas mais próximas ao Kremlin, sem seguir totalmente sua linha.

As eleições presidenciais serão realizadas em março e espera-se que Putin seja reeleito.

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