Os pequenos empresários cubanos são "salva-vidas" que mantêm o povo "à tona" em uma situação econômica desesperadora, disse um alto funcionário americano no Congresso, sem conseguir convencer os republicanos, temerosos de que sejam "ligados" ao "regime castrista".

Mais de 10.000 empresas privadas operam em diferentes ramos na ilha, da distribuição de alimentos à construção e conserto de automóveis, desde que o governo cubano legalizou a criação de pequenas e médias empresas em 2021. 

"O setor privado de Cuba agora é responsável por quase um terço de todo o emprego na ilha", disse na quinta-feira (18) aos congressistas o subsecretário adjunto de Estado para América Latina e Caribe, Eric Jacobstein. 

"Está emergindo uma classe de líderes empresariais independentes", acrescentou.

Como o governo do presidente democrata Joe Biden sabe que não é "uma fachada"?, perguntou-lhe a congressista republicana María Elvira Salazar durante uma sessão da subcomissão para América Latina e Caribe da Câmara de Representantes sobre o "mito" dos novos empresários cubanos. 

"Nossa avaliação é que há uma variedade de atores que trabalham na economia cubana (...). Não acreditamos que se trate de absolutos: de que a economia cubana seja completamente livre e independente, ou esteja 100% dominada pelo governo de Cuba e seus comparsas", respondeu Jacobstein. 

Com base em conversas que diz ter tido com muitos pequenos empresários, define-os como "pessoas que estão o mais afastadas possível do regime cubano", que "sofrem de má gestão econômica" e tomam decisões "muito difíceis".

Por ser "mais ágil e eficiente que o governo, o setor privado atualmente é um salva-vidas para o povo cubano, sem o qual não poderia sobreviver", acrescentou. 

- "Opressores" e seus filhos - 

Salazar afirma, no entanto, ter informações de Cuba, segundo as quais "aqueles que tiveram o caminho fácil para abrir um negócio (…) são os filhos dos opressores, ou os próprios opressores".

Ela se preocupa com "os rumores" de que Washington abrirá o sistema bancário para esses empresários, porque acredita ser impossível capacitar o povo sem beneficiar o governo em um país onde o Gaesa, um conglomerado em poder dos militares, controla os setores econômicos mais lucrativos. 

Jacobstein negou estar a par de "mudanças regulatórias específicas neste momento", mas garantiu que, em qualquer caso, iriam aderir à legislação dos Estados Unidos, que impôs um embargo à ilha em 1962. 

Nos últimos 60 anos, o isolacionismo "enfraqueceu Cuba e levou-a diretamente para os braços de Rússia e China", protestou o congressista democrata Joaquín Castro.

Tanto ele quanto seu colega Sydney Kamlager-Dove acusaram Biden de ser muito tímido por manter a Ilha na lista de países que patrocinam o terrorismo, o que dificulta o investimento estrangeiro.

Cuba atravessa uma grave crise, com escassez recorrente de combustível, eletricidade e até alimentos, o que levou cerca de 500.000 cubanos a emigrarem para os Estados Unidos nos últimos dois anos, tanto de forma irregular como legal, segundo dados oficiais. 

"Está claro que a experiência comunista em Cuba fracassou", disse o subsecretário adjunto do governo Biden, que em 2022 reverteu algumas das medidas adotadas por seu antecessor republicano Donald Trump. 

O republicano Mark Green é pouco partidário da política de se estender a mão a Havana. 

"Abrir os Estados Unidos a Cuba não enriquecerá o país. O governo corrupto não erradicará espontaneamente a corrupção, nem redistribuirá a riqueza entre o povo. Não libertará milhares de presos políticos", estimou. 

A sessão no Congresso caiu mal em Havana.

Para Oniel Díaz, fundador de uma consultoria privada, este é "o esforço mais recente da bancada cubano-americana no Congresso para instrumentalizar politicamente o tema". 

"Chama atenção que as mesmas pessoas que hoje promovem uma audiência para dizer que somos 'fraudes', ou 'vendidos', sejam as mesmas que, anos atrás, criticavam o governo cubano por não nos permitir sermos autônomos e nos tornarmos empresários", disse ele à AFP. 

Na rede social X, Johana Tablada, funcionária do Ministério cubano das Relações Exteriores, chamou as declarações de Salazar de "audiência-farsa".

A congressista de origem cubana dirigiu palavras duras ao governo cubano, o qual classificou de "Hamas do hemisfério", em referência ao movimento islamista palestino em guerra com Israel.

erl-lp/mel/arm/tt/aa