O presidente argentino, Javier Milei, disse à elite mundial reunida no Fórum de Davos nesta quarta-feira (17) que "o Ocidente está em perigo", argumentando que os valores estão "cooptados com uma visão de mundo que inexoravelmente leva ao socialismo".

Em sua estreia internacional como presidente da Argentina, Milei apresentou suas ideias libertárias no Fórum Econômico Mundial, contra o que chama de "casta política" que quer "manter seus privilégios".

Disse também que "o feminismo radical não contribuiu em nada para a sociedade", pois resultou na "intervenção do Estado para dificultar o processo econômico e dar trabalho aos burocratas", e criticou a "tragédia do aborto".

Milei era aguardado com curiosidade e intriga em Davos após lançar por decreto uma série de medidas ultraliberais em uma Argentina atormentada pela inflação, depois de assumir o mandato há pouco mais de um mês. 

No seu discurso, acrescentou que a justiça social é "intrinsecamente injusta" porque "o Estado é financiado por meio de impostos e os impostos são cobrados de forma coercitiva", e finalizou com uma mensagem aos presentes: "Não se deixem intimidar pela casta política nem pelos parasitas que vivem do Estado. Vocês são benfeitores sociais, heróis, criadores do período de prosperidade que nunca vivemos".

Antes do discurso, teve um "excelente" encontro com o ministro das Relações Exteriores britânico, David Cameron, com quem abordou a questão das Ilhas Malvinas, um arquipélago no Atlântico Sul que foi palco de uma guerra de 74 dias em 1982 e que deixou 649 argentinos e 255 britânicos mortos. 

"Conversamos sobre aprofundar os laços comerciais e colocamos as Malvinas na agenda", disse o presidente argentino. 

Em 2013, em um referendo realizado no território de apenas 2.000 habitantes, 99,8% dos eleitores votaram pela permanência sob controle britânico. Para o Reino Unido, é uma questão resolvida, mas a Argentina reivindica a soberania das ilhas desde 1833.

- Reunião com o FMI -

Suas opiniões sobre alguns assuntos podem entrar em conflito com as defendidas neste fórum. Nega, por exemplo, que a atividade humana seja responsável pela mudança climática.

Antes de partir, o economista ultraliberal e de extrema direita disse que recebeu mais de 60 pedidos de reunião em Davos. 

"Não tenho como responder fisicamente a tal demanda", afirmou. No entanto, marcou uma reunião com a diretora do Fundo Monetário Internacional (FMI), Kristalina Georgieva.

A Argentina deve 44 bilhões de dólares (cerca de 215 bilhões de reais, na cotação atual) ao FMI, que elogiou a decisão de Milei de eliminar os controles de preços de alguns produtos. 

O objetivo desta reunião é "continuar o diálogo e deixar bem claro a convicção que temos nesta mudança de rumo que o novo governo tomou", afirmou Milei no avião.

Na terça-feira, Georgieva afirmou, em um evento da Bloomberg em Davos, que o governo argentino está progredindo, agindo "muito agressivamente" para resolver as "deficiências" do país.

- Protestos e greve geral  -

Enquanto isso, na Argentina, os movimentos sociais protestam quase diariamente contra as medidas impostas pelo governo de Milei, diante de uma greve geral convocada para a próxima quarta-feira pela Confederação Geral do Trabalho (CGT), a maior central sindical do país, em meio a um ambiente tenso devido à disparada dos preços. 

A inflação de dezembro atingiu 25,5%, de um total anual de 211% em 2023.

Em pouco mais de um mês de mandato, após assumir o cargo em 10 de dezembro, Milei suspendeu obras públicas, não renovou contratos trabalhistas do Estado, reduziu os ministérios pela metade, desvalorizou o peso em mais de 50%, liberou os preços dos combustíveis, eliminou os controles de preços, revogou a lei que regulava os aluguéis e liberou as importações. 

Seus dois grandes projetos, divididos em um megadecreto de 366 artigos e uma chamada "lei omnibus" com 664, estão atualmente em análise no Congresso.

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