Taiwan pediu neste domingo (14) à China que "enfrente a realidade", depois de o candidato pró-independência Lai Ching-te ter vencido a eleição presidencial na véspera, um desafio a Pequim, que reiterou sua advertência de que qualquer iniciativa nesse sentido será "duramente punida". 

"O Ministério das Relações Exteriores faz um apelo às autoridades de Pequim para que respeitem os resultados eleitorais, enfrentem a realidade e desistam de reprimir Taiwan para permitir que as interações positivas [entre as duas partes] voltem para o caminho certo", afirmaram autoridades de Taipei em um comunicado. 

Lai, do Partido Democrático Progressista (PDP), venceu a eleição presidencial de sábado (13) com a promessa de defender Taiwan das "intimidações" de Pequim, que reafirmou sua intenção de reincorporar a ilha ao seu território. 

O candidato, atual vice-presidente de Tsai Ing-wen, no poder desde 2016, obteve 40,1% dos votos, segundo a Comissão Central Eleitoral. O PDP obtém, assim, seu terceiro mandato consecutivo. 

A China considera Taiwan como parte de seu território e insiste em sua intenção de "reunificar" o país - pela força, se necessário. 

"Estamos determinados a proteger Taiwan das intimidações e ameaças contínuas da China", disse Lai em seu discurso de vitória.

Seu principal adversário, Hou Yu-ih, do Kuomintang (KMT), que defende uma aproximação com Pequim, admitiu a derrota. 

A China, que antes das eleições descreveu Lai como um perigoso "separatista", disse depois do anúncio dos resultados que a votação "não impedirá a tendência inevitável para a reunificação" do país. 

"Se alguém na ilha de Taiwan pensa em buscar a independência, estará (...) tentando dividir a China e, sem dúvida, será duramente punido, tanto pela história quanto pela lei", declarou o chanceler chinês em entrevista coletiva ao lado de seu homólogo egípcio, Sameh Shoukry, no Cairo.

"Não importam quais sejam os resultados das eleições. Não podem mudar o fato de que há apenas uma China e Taiwan é parte dela", reiterou Wang.

"Taiwan nunca foi um país. Não foi no passado e certamente não será no futuro", insistiu, na mesma coletiva.

Na sexta-feira, o Exército chinês prometeu, inclusive, "esmagar" qualquer tentativa de "independência" por parte de Taiwan. 

Taiwan e a China continental estão separadas desde 1949, quando as tropas comunistas de Mao Tsé-tung derrotaram as forças nacionalistas. Estas últimas se refugiaram na ilha e impuseram uma autocracia que se tornou uma democracia na década de 1990.

As eleições foram acompanhadas de perto tanto pela China quanto pelos Estados Unidos, principal aliado militar de Taiwan. Ambas as potências competem para expandir sua influência nessa área estratégica do planeta. 

Uma delegação americana não oficial enviada pelo governo do presidente Joe Biden chega hoje a Taipei. 

- Apoio internacional ao 'status quo' -

O secretário de Estado americano, Antony Blinken, parabenizou Lai e Taiwan por seu "sólido sistema democrático". O presidente Biden reiterou, no entanto, a posição tradicional de Washington: "Não apoiamos a independência". 

A China reagiu, neste domingo, às declarações dos EUA, avaliando que enviam "um sinal gravemente equivocado para os separatistas" de Taiwan, afirmou seu Ministério das Relações Exteriores.

"Condenamos fortemente e nos opomos firmemente a isso", acrescentou, ressaltando que a declaração de Washington "viola gravemente o princípio de Uma Única China" e sua promessa de manter apenas laços não oficiais com Taiwan.

Nessa mesma linha, Alemanha e França também pediram, neste domingo, a manutenção do "status quo".

O Ministério alemão das Relações Exteriores parabenizou eleitores e candidatos, "assim como os eleitos", sem citar o nome de Lai. 

"A Alemanha está trabalhando para preservar o 'status quo' e construir confiança" afirmou o ministério, ressaltando que "o 'status quo' só pode ser alterado pacificamente e por mútuo acordo".

Além de felicitar eleitores, candidatos e eleitos por seu "exercício democrático", também sem citar Lai, a França pediu, em um comunicado, o "respeito pelo 'status quo'". 

"Reafirmamos a natureza crucial da paz e da estabilidade no Estreito de Taiwan. Pedimos respeito pelo 'status quo' por parte de todas as partes e esperamos uma retomada do diálogo entre as margens do Estreito", acrescentou a nota.

Durante a campanha eleitoral, Lai, de 64 anos, prometeu continuar o caminho da presidente Tsai, cujos mandatos foram marcados pela crescente pressão diplomática, econômica e militar de Pequim. Em seus comícios, apresentou-se como o defensor do estilo de vida democrático de Taiwan. 

Contra o DPP e o Kuomintang, que se alternam no poder desde o início da democracia taiwanesa, o Partido Popular de Taiwan (PPT) se apresentou como uma "terceira via". Seu candidato, Ko Wen-je, obteve 26,4% dos votos. 

Além de escolher um presidente, os taiwaneses renovaram seu Parlamento, onde o partido no poder perdeu a maioria. A oposição do Kuomintang obteve 52 assentos, o partido da situação, 51, e o PTT, oito, aos quais se somam dois independentes. 

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