O ganhador da eleição presidencial de Taiwan, Lai Ching-te, prometeu neste sábado (13) defender a ilha governada democraticamente das "intimidações" de Pequim. 

Atual vice-presidente e favorito nas pesquisas, membro do Partido Democrático Progressista (DPP), no poder, Lai obteve 40,2% dos votos, segundo os resultados apurados em 98% das seções eleitorais. 

Essas eleições foram realizadas à sombra das ameaças da China, que considera a ilha parte de seu território e nunca deixou de proclamar sua intenção de "reunificar" o país, pela força se necessário. 

"Estamos determinados a proteger Taiwan das intimidações e das ameaças contínuas da China", disse Lai Ching-te em seu discurso da vitória, no qual também se comprometeu a manter a paz e a estabilidade no Estreito de Taiwan. 

"Estamos dizendo à comunidade internacional que, entre democracia e autoritarismo, estaremos do lado da democracia", acrescentou, celebrando um "novo capítulo". 

Seu principal adversário, Hou Yu-ih, candidato do Kuomintang (KMT) que defende a reaproximação com Pequim, admitiu a derrota. 

"Respeito a decisão final do povo taiwanês" e "felicito Lai Ching-te (candidato rival) e Hsiao Bi-khim (colega de chapa) por sua eleição", declarou Hou Yuh-ih a seus partidários. 

Antes das eleições, a China pediu aos taiwaneses que tomassem "a decisão certa", se quisessem evitar a guerra, e descreveu Lai Ching-te como um perigoso "separatista". 

O governo chinês reagiu, declarando, neste sábado, que sua reunificação com Taiwan é "inevitável", apesar da vitória de Lai Ching-te. 

A votação "não impedirá a tendência inevitável de reunificação da China", declarou o porta-voz do Gabinete de Assuntos de Taiwan de Pequim, Chen Binhua, em um comunicado divulgado pela agência de notícias estatal Xinhua.

"Vamos aderir ao Consenso de 1992 que incorpora o princípio de 'Uma Só China' e nos oporemos, firmemente, às atividades separatistas que visam à 'independência de Taiwan', assim como à interferência estrangeira", acrescentou Binhua.

Três homens aspiravam à sucessão da presidente Tsai Ing-wen, que atingiu o limite de dois mandatos (2016-2024) marcados pela crescente pressão diplomática, econômica e militar de Pequim. 

Além de Lai e do ex-policial do Kuomintang (KMT), Hou Yu-ih, que defende uma melhora das relações com Pequim, concorreu Ko Wen-je, líder do pequeno Partido Popular de Taiwan (PPT). 

Taiwan e a China continental estão separadas desde 1949, quando as tropas comunistas de Mao Zedong derrotaram as forças nacionalistas, que se refugiaram na ilha e impuseram uma autocracia que se transformou em democracia na década de 1990. 

Na sexta-feira (12), o Exército chinês prometeu "esmagar" qualquer tentativa de "independência" de Taiwan, ilha situada a 180 quilômetros de sua costa. 

A União Europeia felicitou "todos os eleitores" que participaram "desse exercício democrático". 

Os Estados Unidos, principal apoiador e fornecedor da ilha, acompanharam de perto o processo eleitoral. 

Em Washington, o secretário de Estado americano, Antony Blinken, reunido com um líder do Partido Comunista Chinês, instou Pequim a "manter a paz e a estabilidade" durante as eleições. 

O "status" de Taiwan, onde vivem 23 milhões de pessoas, é uma das questões mais espinhosas na rivalidade entre China e Estados Unidos, que disputam a influência nessa região estratégica. 

- Posições de soberania -

Em seus comícios, Lai se apresentou como o defensor do estilo de vida democrático de Taiwan, considerada por seu partido, o PDP, um Estado independente. 

"Por favor, saiam e votem para demonstrar a vitalidade da democracia de Taiwan", disse ele aos repórteres antes de votar na cidade de Tainan, no sul do território. 

"Esta é a democracia de Taiwan que tanto lutamos para conquistar. Todos devemos apreciar nossa democracia e votar com entusiasmo', acrescentou. 

Essas posições de defesa da soberania por parte de Lai e da presidente Tsai são criticadas pela oposição do Kuomintang, que os acusa de contrariar a China. 

Ante esses dois partidos que se alternam no poder desde o início da democracia taiwanesa, o pequeno PPT abriu caminho como uma "terceira via". 

Além de escolher um presidente, os taiwaneses renovam seu Parlamento. 

- Território estratégico -

As eleições pareceram despertar interesse na rede social chinesa Weibo, onde a hashtag "Eleições em Taiwan" se tornou uma das mais populares, até ser bloqueada no meio da manhã de hoje. 

A ilha é fundamental para a economia mundial, tanto por sua posição estratégica entre o Mar da China Meridional e o Oceano Pacífico quanto por sua indústria líder de semicondutores, componentes essenciais em telefones, automóveis, ou mísseis. 

Nos últimos anos, a China aumentou a pressão militar sobre o território, lançando, periodicamente, manobras de grande escala que suscitaram temores de uma eventual invasão. Também intensificou sua campanha diplomática para isolar Taiwan, agora oficialmente reconhecida por apenas 13 estados, depois de países como Honduras e Nicarágua terem rompido relações com Taipei para estabelecê-las com Pequim. 

Em um recente discurso de fim de ano, o presidente Xi Jinping garantiu que a China "sem dúvida se reunificará".

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