De vendedor de chaveiros a "ministro na sombra" do presidente Nicolás Maduro, o colombiano Alex Saab foi peça-chave em uma troca que permitiu aos Estados Unidos garantir, nesta quarta-feira (20), a libertação de cerca de vinte prisioneiros venezuelanos e americanos na Venezuela.

Saab, acusado de ser "laranja" de Maduro, estava sendo julgado na Flórida por lavagem de dinheiro através de um programa de alimentação do governo venezuelano.

Ele foi preso em Cabo Verde em junho de 2020 e extraditado para os Estados Unidos em outubro de 2021, em meio a protestos furiosos do governo venezuelano, que denunciou o "sequestro" de um "embaixador" de seu país. Não era público até então que esse empresário tinha nacionalidade venezuelana, muito menos que possuía um título diplomático.

Desde então, o governo de Maduro iniciou uma campanha por sua liberdade, que começou com manifestações barulhentas e terminou agora com uma negociação silenciosa.

Os Estados Unidos vinham solicitando a libertação de americanos e outros presos políticos venezuelanos em troca do levantamento das sanções contra a Venezuela.

"É evidente o quão importante é para Maduro o nome de Alex Saab", disse à AFP Roberto Deniz, jornalista do portal de jornalismo investigativo Armando.info, que escreveu extensivamente sobre o caso Saab. Deniz é alvo de um mandado de prisão na Venezuela por "instigação ao ódio" devido às suas denúncias de corrupção contra o controverso empreiteiro.

"Infelizmente, com a troca, que é mais uma negociação política, a justiça passa para segundo plano e os Estados Unidos desconsideram anos de investigação contra Saab por lavagem de dinheiro", acrescentou.

Dez americanos foram libertados, incluindo dois que haviam sido condenados por uma tentativa fracassada de invasão à Venezuela em 2020. Outros 14 "presos políticos" venezuelanos foram libertados até o momento, confirmou a AFP.

- "Empreiteiro mimado" -

Segundo as acusações, Saab e seu sócio Álvaro Pulido, preso na Venezuela em abril passado por um escândalo de corrupção na petrolífera estatal PDVSA, teriam transferido US$ 350 milhões (R$ 1,7 bilhão, na cotação atual) do país caribenho para contas no exterior que possuíam ou controlavam.

Saab podia pegar até 20 anos de prisão se fosse considerado culpado.

Filho de um empresário libanês estabelecido em Barranquilla, Saab começou como vendedor de chaveiros promocionais antes de entrar no setor têxtil, com 100 lojas que exportavam para mais de 10 países, segundo biografias oficiais.

Ele iniciou negócios na Venezuela no ramo da construção. Seu primeiro contrato foi assinado em 2011 no palácio presidencial de Miraflores, quando Hugo Chávez era presidente e Maduro, chanceler.

Um Saab jovem com um rabo de cavalo subia ao palco e firmava "uma aliança estratégica" para a "instalação de kits para a construção de casas pré-fabricadas".

Embora tenha dito em 2017 que não conhecia pessoalmente Maduro, a ascensão do atual presidente ao poder em 2013 abriu as portas para que este empresário se tornasse seu "empreiteiro mimado" e, posteriormente, seu "ministro plenipotenciário na sombra", destacou Deniz em uma entrevista à AFP em 2021.

Segundo o jornalista, de moradias sociais, Saab pulou para um contrato para construir academias por US$ 100 milhões (R$ 487 milhões), pagos antecipadamente, e depois para a área petrolífera com uma "empresa fantasma" sem grande histórico.

A ex-procuradora-geral da Venezuela, a dissidente chavista Luisa Ortega, o catalogou como o "principal laranja" de Maduro e sua família.

- "Ponte" com Irã e Rússia -

Maduro criou em 2016 os Comitês Locais de Abastecimento e Produção (Clap), um plano de distribuição de alimentos subsidiados em um momento de escassez de mais de dois terços dos produtos básicos.

E Saab se tornou um dos fornecedores, conseguindo "importantes acordos comerciais", de acordo com uma série em seu canal no YouTube intitulada "Alex Saab, agente antibloqueio".

Em 2018, segundo essa versão, ele assumiu "como funcionário público" a "missão" de adquirir na Rússia e no Irã "alimentos, medicamentos, peças de reposição para refinarias e diferentes empresas".

Saab se vangloria, por exemplo, pela importação de combustível iraniano em um momento de profunda escassez.

"Era a ponte para muitos desses negócios" de Maduro com "países aliados", destacou Deniz.

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