Novo bombardeiro "invisível" dos Estados Unidos, o Northrop Grumman B-21 Raider fez seu primeiro voo na sexta-feira (10) em Palmdale, na Califórnia. Segundo a Força Aérea e a empresa, o teste, cujos parâmetros são sigilosos, foi bem-sucedido.

Por óbvio, o B-21 não é invisível: este é um jargão para o uso intensivo de tecnologias que o tornam furtivo ao radar e a outras formas de detecção. Isso se dá pelo desenho da aeronave e pela aplicação de revestimentos especiais que absorvem as ondas dos radares.

Na primeira aeronave do tipo do mundo, o modelo de ataque Lockheed F-117, já fora de serviço ativo, elementos de desenho respondiam por 70% da furtividade. Assim como o primeiro bombardeiro do tipo no mundo, o também americano B-2 Spirit, o B-21 adota a forma de uma asa voadora.

Mas seu primeiro voo permitiu, após algumas aparições em solo na pista da famosa Fábrica 42 da Força Aérea do avião, que foi batizado como Cérbero, o cão de três cabeças que guarda o Inferno na mitologia grega, que observadores apontassem diferenças entre os modelos.



O B-21 parece um B-2 menor, embora as especificações não existam para o público. Suas formas são ainda mais fluidas, e chama a atenção o desenho das entradas de ar dos motores, ainda mais esguias do que as do antecessor lançado em 1988, que entrou em operação em 1997. Isso visa reduzir ao máximo a emissão de calor, uma das "assinaturas" de um avião.

Sua capacidade de carga bélica tem sido estimada como sendo a metade do que a do B-2, que carrega 18 toneladas de bombas e mísseis, inclusive armas nucleares. Até as entradas auxiliares de ar para os motores, usadas só no pouso e na decolagem, são mais aerodinâmicas: as portinholas que se abrem formam uma dupla de "chifrinhos" no modelo, enquanto no B-2 elas eram escotilhas mais proeminentes.

O tamanho menor sugere que talvez o B-21 seja bimotor subsônico, e não quadrimotor como o B-2. Não se sabe isso ainda, dado que seu conjunto motor fica escondido na fuselagem. Além disso, ele parece contar com as novas gerações de mísseis e bombas americanas, mais compactas.

Por fim, há a questão da missão presumida do avião. Ele foi encomendado em 2014 para a substituição dos 20 B-2 em operação que, aos US$ 2,1 bilhões (R$ 10 bilhões) a unidade, são as aeronaves mais caras da história. O plano é que o B-21 custe um quarto disso.

Logo, ele formará com os 58 B-52H Stratofortress, mastodontes voadores que datam dos anos 1950, e os 46 supersônicos B-1B Lancer, a frota de bombardeiros estratégicos dos EUA.

No caso da estratégia nuclear, são o componente aéreo da chamada tríade, formada por mísseis Minuteman-3 em silos terrestres e submarinos com armas balísticas. Aqui, a maioira dos B-52 e todos os B-2 têm capacidade de empregar ogivas atômicas de empregar ogivas atômicas, enquanto o B-1B foi retirado desse tipo de operação.

Mas a alta capacidade de fusão de dados e uso de tecnologias como inteligência artificial, conforme propagandeado pela Northrop, também indicam que o avião pode ser uma "nave-mãe" para enxames de drones de ataque, por exemplo, voando em formação com as aeronaves sem piloto.

Outras características do modelo já haviam sido notadas em sua apresentação, em dezembro do ano passado, como a coloração cinza-clara para operações diurnas e noturnas. Os outros bombardeiros da frota americana adotam colorações escuras, que favorecem ações à noite.

O Raider (atacante ou invasor em inglês) homenageia os Raiders do coronel James Doolittle, formação de bombardeiros B-25 Mitchell lançada contra Tóquio em 1942 para demonstrar espírito de luta e capacidade de combate após o ataque japonês a Pearl Harbor, que trouxera os EUA à Segunda Guerra Mundial meses antes.

Até aqui, há seis B-21 em estágios de construção diferentes. Devido à instabilidade mundial com a Guerra Fria 2.0 entre EUA e China se desenrolando e a invasão da Ucrânia pelos russos em 2022, sua produção foi acelerada e aboliu o estágio de protótipos: todos os aviões estarão prontos para uso quando o desenvolvimento estiver encerrado.

Não há datas para isso, mas especialistas estimam que o B-21 estará em ação antes do fim desta década. A frota desejada pelos EUA é de cem unidades, mas usualmente esses requerimentos caem à medida que os custos de produção aumentam. No ano passado, a Northrop prestou contas ao Congresso, contudo, e disse que a fatura estava abaixo dos US$ 25,4 bilhões aprovados inicialmente, em contrato de 2015.

O voo do B-21, após atrasos devido a problemas de desenvolvimento e à pandemia da Covid-19, marca o primeiro lançamento de um bombardeiro estratégico pelos EUA em 34 anos. Os russos e chineses, rivais prioritários dos EUA, ainda patinam na produção de seus novos modelos, respectivamente o PAK-DA e o H-20.

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