Uma das expressões culturais mais belas do período natalino está no canto das Pastorinhas, grupos que visitam os presépios para saudar o Menino Jesus. Em Minas, a história vem de longe, do século 18, trazida pelos portugueses. Com o tempo, o singelo coletivo de música e dança ganhou tanta força e espaço que, em 2017, foi reconhecido como Patrimônio Cultural Imaterial, juntamente com a folia de reis, os ternos, as charolas e outras manifestações nascidas da devoção popular. Conforme levantamento do Instituto Estadual do Patrimônio Cultural e Artístico (Iepha-MG), há 2.064 grupos desse tipo, em 573 municípios do estado.


Em Jaboticatubas, o Pastorinhas de Belém se apresentou, na quarta-feira, nas comemorações dos 87 anos do município da Grande BH. Ainda na programação, no Centro Cultural, Cantata de Natal, Presépio Vivo, Coral Ondas Sonoras e abertura da exposição “Jaboticatubas na memória e no coração”. Já na Praça da Matriz, foi inaugurada a iluminação para saudar o período de “boas festas”.


Criado há uma década por Maria Geralda Cardoso dos Santos, falecida em março aos 57 anos, o Pastorinhas de Belém reúne crianças e adultos, de ambos os sexos, “dos quatro aos 70 anos”, conta Ketlin Karolayne Cardoso Santos. Para manter a tradição da visita aos presépios, a filha de dona Geralda e o grupo saem pelas ruas e pedem licença para entrar nas casas. “Muitas músicas foram compostas por minha mãe, mas entoamos também canções religiosas conhecidas”, diz Ketlin.


Ao chegar ao portão das residências, crianças e adultos entoam: “Senhora, nos dê licença, para entrar neste salão. Se me der licença, eu entro. Se não der, não entro, não”. Além das igrejas e capelas, o grupo, de forma solidária, visita os doentes e pessoas em instituições de longa permanência para idosos, creches e outros locais.


PANDEIRO E BANJO


A tradição se mantém firme e forte em Lagoa Santa com o grupo Pastorinhas do Bairro Várzea. Formado por 50 pessoas, incluindo cantores e músicos que tocam sanfona, viola e violões, cavaquinhos, banjo, pandeiro, zabumba e triângulo, o coletivo foi criado em 1983, por dona Romildes Batista, ainda hoje coordenadora ao lado de Wilson de Souza.
Nas apresentações, há participantes recriando a sagrada família – José, Maria e o Menino Jesus –, pastores e anjos. “Houve uma primeira formação, na década de 1940, apenas com homens, os pastorzinhos. O objetivo era conseguir recursos para erguer a capela dedicada a São Sebastião”, revela Wilson.


Até 6 de janeiro, Dia de Reis, quando se encerra o ciclo natalino, a turma da Paróquia São Sebastião, de Várzeas, tem inúmeras casas e igrejas para visitar. “São muitos os convites de moradores e paróquias, de Lagoa Santa e outras cidades. Tantos que nem damos conta de atender”, observa Wilson, que, na medida do possível, põe o pé na estrada com o grupo para cantar e encantar nos presépios.

“ALEGRIA FRANCISCANA”

A história dessa manifestação popular que encanta e emociona os brasileiros tem suas origens nos autos pastoris portugueses da Idade Média, associados à “alegria franciscana”. É que tudo começou na região italiana da Úmbria, com a montagem do primeiro presépio por São Francisco de Assis (1182-1223). Ao cantar e dançar diante da gruta, ele dava início ao costume que, mais de 800 anos depois, se torna um cenário de beleza, poesia e fé.

PADRE CARLOS HENRIQUE CORRÊA SENNA/DIVULGAÇÃO

PRESÉPIO DENUNCIA O AUMENTO...


Desde sua ordenação sacerdotal, há 32 anos, o padre Carlos Henrique Corrêa Senna monta presépios temáticos. Desta vez, preocupado com os altos índices de feminicídio no país – foram registrados mais de mil casos em 2025 –, ele chama a atenção da comunidade para essa cruel mancha da sociedade. E, claro, busca valorizar as mulheres e pedir mais respeito para todas. “Trata-se uma situação de extrema violência não apenas física como também psicológica”, alerta padre Carlos Henrique, titular da Paróquia Santo Inácio de Loyola, no Bairro Cidade Jardim, na Região Centro-Sul de BH. Em vestidos pendurados no presépio, feito de tijolos sem reboco, estão poesias escritas por Vinícius de Moraes, Cora Coralina e Adélia Prado.

... DO FEMINICÍDIO NO BRASIL


No ano passado, diante do superlativo número de incêndios florestais no país, padre Carlos Henrique, que está à frente da paróquia desde 2017, montou o presépio usando 100 quilos de carvão. Também já recriou o nascimento de Jesus incluindo as condições da população em situação de rua, bem como a tragédia de Brumadinho onde houve, em 25 de janeiro de 2019, o rompimento de uma barragem de rejeitos de minério. “São protestos contra esses episódios, a exemplo do crime de feminicídio”, diz padre Carlos Henrique sobre assassinatos de mulheres por questão de gênero. Ao lembrar o nascimento do Menino Jesus, há uma especial homenagem a todas que têm a dignidade ferida. A igreja Santo Inácio de Loyola fica na Rua Bernardo Mascarenhas, 187, Cidade Jardim. Aberto à visitação até 5 de janeiro.


PAREDE DA MEMÓRIA

ASSOCIAÇÃO SOCIOCULTURAL OS BEM-TE-VIS/DIVULGAÇÃO


A coluna está em ritmo de Natal, sem perder o foco na preservação do patrimônio cultural e na busca incessante pelas peças sacras desaparecidas do acervo mineiro. Entre elas, está a imagem de São Francisco de Assis, pioneiro dos presépios. Em 1994, a Matriz de Santo Antônio, no Distrito de Itatiaia, em Ouro Branco, foi roubada, sendo levados 21 bens do templo barroco (estão sumidas 18, pois três foram resgatadas). A comunidade local não perde a fé, e continua confiante à espera de que as peças sacras retornem a seus altares. À frente dessa luta, se encontra a Associação Sociocultural Os Bem-te-vis, presidida por Wilton Fernandes. “Santo Antônio também era um seguidor de São Francisco”, destaca Wilton, que mantém o entusiasmo para localizar os objetos de fé. “Não descansaremos até que todos os nossos tesouros retornem à igreja”, afirma.

NAZARENO EM FESTA

AC EVENTOS/DIVULGAÇÃO


Até o próximo dia 27, Nazareno, na Região do Campo das Vertentes, tem ampla programação. Entre os destaques, está a Vila Natalina, na Praça Central. Haverá shows, Vila do Papai Noel, Auto de Natal com 24 personagens, iluminação especial e espaços temáticos. O objetivo é “conectar tradição e inovação e proporcionar uma experiência sensorial para todas as idades”, conforme os organizadores do evento. A Vila Natalina de Nazareno, com entrada gratuita, é uma realização da AC Produções de Eventos Ltda, com patrocínio da AMG Brasil S/A. É correalizada pela Prefeitura Municipal de Nazareno.

CENTRO DE ARTE POPULAR/DIVULGAÇÃO

EXPOSIÇÃO


O Centro de Arte Popular, em BH, está com a exposição “Presépios: Gesto, Arte e Vida”, coletiva com diferentes olhares e linguagens sobre a força simbólica, estética e afetiva do cenário do nascimento de Jesus. Com a curadoria de Marcos Esteves e Michel Salazar, apresenta obras em cerâmica, madeira, tecidos. Participam da exposição os artistas Ângela Costa, Angélica Santana, Elisa Pena, Heloisa Prado, Letícia Pinto, Lili Zaramela, Lorena Mascarenhas, Marcelo Silva, Márcio Silva, Michel Salazar, Regina Moraes, Robson Emerick e Zanne Neiva e Lenice Pitanguy. Aberta até 22 de janeiro, de terça a sexta-feira, das 12h às 18h30, e sábados, domingos e feriados, das 11h às 17h. O Centro de Arte Popular fica na Rua Gonçalves Dias, 1.608, no Circuito Liberdade.

Siga nosso canal no WhatsApp e receba notícias relevantes para o seu dia

MISSA DE NATAL


A Catedral Cristo Rei terá duas missas de Natal presididas pelo arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, dom Walmor Oliveira de Azevedo. Na quarta-feira (24), às 19h30, e na quinta-feira (25), às 10h30. Quem for ao templo em construção no Bairro Juliana, na Região Norte da capital, poderá ver um presépio no espaço celebrativo.

compartilhe