Aos 17 anos, estudante brasileira está entre os 30 semifinalistas do Breakthrough Junior Challenge, competição conhecida como "Oscar da ciência". O concurso internacional premia adolescentes de 13 a 18 anos que transformam conteúdos avançados de Física, Matemática e Ciências da Vida em vídeos curtos, criativos e fáceis de entender.

Filha de mineiros, Isabella Lelles nasceu em São Paulo e se mudou sozinha aos 14 anos para a Flórida (EUA) e há seis meses mora com o pai. A estudante mantém rotina dedicada a disciplinas como física, matemática, estatística e economia, áreas que, segundo ela, sempre despertaram curiosidade.

A paixão pela ciência e pelo conteúdo audiovisual acabou se encontrando no concurso. A jovem concorre ao prêmio com um vídeo de dois minutos sobre o “paradoxo de Leventhal”, conceito que explica o mistério por trás do dobramento de proteínas, um processo essencial para corpo humano.

Para explicar o assunto, Isabella recorreu a uma metáfora culinária. No vídeo, um cliente pede um bolo, representando o corpo solicitando uma proteína específica. E, para representar uma proteína mal dobrada, aparece um bolo despedaçado.

Em seguida, ela explica que, para que o corpo se proteja dessas falhas, ela apresenta as "chaperone proteins" — as proteínas supervisoras — responsáveis por garantir que esse processo ocorra sem erros.

No final do vídeo, Isabella menciona a inteligência artificial chamada AlphaFold, capaz de prever a forma como as proteínas se dobram — uma contribuição que rendeu o Prêmio Nobel de Química de 2024 aos cientistas David Baker, Demis Hassabis e John M. Jumper.

Fundada em 2015, o Breakthrough Junior Challenge é uma competição anual e global de vídeos científicos para estudantes do ensino médio. A cada edição, entre 2 mil e 3 mil vídeos são enviados. Apenas 30 chegam à semifinal, e a seleção final depende de curtidas e engajamento nas redes sociais oficiais do prêmio.

Antes de participar da competição, Isabella conta que já tinha experiência com produção de conteúdo. Há três anos ela mantém redes sociais com vídeos sobre morar na Flórida, intercâmbio e diferenças educacionais entre Brasil e Estados Unidos. Ela relata que, quando recebeu uma mensagem de uma plataforma educacional que apoia o Breakthrough, ficou com receio, mas ao ver os vídeos dos outros participantes a motivou.

"Recebi um e-mail de uma plataforma educacional que financia esse competição e eu achei uma iniciativa muito interessante, até porque é uma competição global e é muito grande. De início não achava que tinha chance de passar e nem ganhar. Comecei a ver os vídeos dos outros participantes, e vi que era muito legal e decidi tentar", conta.

Para avançar à fase final, o vídeo de Isabella precisa estar entre os mais curtidos nas plataformas YouTube e Facebook do Breakthrough. Os 15 finalistas serão revelados no dia 10 de dezembro. O vencedor será escolhido por um comitê de seleção em data ainda não definida.

O vencedor vai receber US$ 250 mil (R$ 1,3 milhão) em bolsa de estudos, além de US$ 100 mil (cerca de R$ 530 mil) destinados à escola e US$ 50 mil (R$ 265 mil) para o professor que mais o inspirou o jovem.

Isabella conta já sabe o que vai fazer com o valor caso vença. Desde os 7 anos, ela sonha em estudar em Harvard, sonho que motivou se mudar para os Estados Unidos. Hoje, sua área de interesse mudou. "Quando eu era pequena eu queria fazer neurocirurgia, porque eu gostava muito de neurociência, mas percebi que eu gosto muito de marketing, então eu quero entrar em neuromarketing ou business".

Outra motivação é ajudar sua escola, que não têm laboratório de ciências. "Com os US$ 100 mil, a escola vai ganhar um laboratório. Estudo na Montverde Academy e até agora a minha escola não tem laboratório. Então a gente não faz muitas ciências lá por causa disso. Quero ajudar outros alunos a se envolver com ciências e gostar mais desse assunto".

Apoio brasileiro

A semifinalista conta que ficou surpresa com a repercussão. “Queria agradecer muito do fundo do meu coração. Eu não estava esperando tanto esse carinho. É só gratidão. Isso mostra como a gente é tão unido como país e é sempre bom ver é um brasileiro se dando bem. É sempre bom ver um brasileiro torcendo pelo outro", afirma.

Isabella aproveita a visibilidade para incentivar a curiosidade científica: “Quem quiser entender um pouco mais sobre proteínas ou ver como é possível juntar ciência com storytelling, assista ao vídeo. E se puder deixar uma curtida também para poder me ajudar para passar na final, seria seria muito bom, ficaria muito grata".

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Se vencer, Isabella será a primeira brasileira a conquistar o Breakthrough Junior Challenge em 10 anos de competição.

*Estagiária sob supervisão do subeditor Gabriel Felice

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