Com uma média de 13 feminicídios consumados por mês, Minas Gerais ganha um novo instrumento de combate à violência doméstica e familiar: o Grupo de Intervenção Estratégica de Enfrentamento à Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher (GIE-VD), lançado nesta segunda-feira (22/9), pelo Ministério Público de Minas Gerais (MPMG).
O grupo reúne Ministério Público, Tribunal de Justiça, Polícias Civil (PCMG) e Militar (PMMG), secretarias estaduais e municipais, guardas municipais e representantes da sociedade civil, com o objetivo de monitorar casos de alto risco e prevenir de feminicídios.
O GIE-VD surge como iniciativa estratégica inédita em Minas Gerais, permitindo atuação integrada entre órgãos de segurança, Justiça e assistência social.
A promotora Denise Guerzoni, coordenadora do Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Justiça de Combate à Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, explica que o grupo funcionará como um fórum deliberativo para ações coordenadas, no qual cada órgão cumpre suas funções constitucionais, mas de forma articulada.
“O objetivo principal é a prevenção, para que possamos intervir positivamente nos indicadores e reduzir os casos de feminicídio consumados e tentados”, afirma.
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O grupo terá dois núcleos complementares: o primeiro, restrito, formado por Ministério Público, Tribunal de Justiça e forças de segurança, com foco em inteligência, monitoramento de agressores e ações de repressão; e o segundo, aberto à rede de enfrentamento, que contará com secretarias, guardas municipais e representantes da sociedade civil, dedicado ao apoio às vítimas e à gestão de casos de alto risco. A ideia é antecipar situações de risco, garantindo que mulheres e meninas estejam protegidas antes que crimes aconteçam.
Prevenção, tecnologia e integração
A subsecretária de Prevenção Social à Criminalidade da Sejusp, Christiana Dornas, destacou a integração de programas como o Proteja Minas e o GIE-VD. “A criação do Grupo de Intervenção Estratégica da Mulher surgiu a partir de um pedido da promotora Denise e das necessidades das mulheres. A ideia me encantou imediatamente, porque o protagonismo da prevenção e integração é essencial para enfrentarmos a violência contra a mulher”, comenta.
Segundo Christiana, o Proteja Minas atua diretamente no atendimento de mulheres e meninas em situação de risco, conectando prevenção, proteção e monitoramento de agressores. “Mesmo antes da formalização do GIE-VD, já atuávamos em casos complexos, como a retirada de uma mulher de cárcere privado em Brumadinho, monitoramento eletrônico de vítimas em alto risco e articulação com advogados e órgãos de segurança para proteger mulheres em situação crítica”, explica.
O grupo também vai trabalhar com tecnologias inovadoras, incluindo inteligência artificial, para identificar situações de risco e eleger agressores potenciais antes que novos crimes ocorram. Além disso, o Emergência MG, ferramenta lançada há um ano pela Sejusp, integra Polícia Militar, Polícia Civil e Corpo de Bombeiros em uma única porta de entrada, permitindo que mulheres peçam ajuda pelo site, MG App ou Telegram, sem usar a voz, apenas digitando no chat, e enviando fotos, vídeos e geolocalização.
O secretário de Estado de Justiça e Segurança Pública, Rogério Greco, reforçou que a união institucional é fundamental. “Quando unimos esse grupo no combate à violência, conseguimos atuar de forma muito mais eficaz. A prevenção é sempre a prioridade, porque, quando reprimimos, o crime já aconteceu.”
Cristiane Pereira Gabriel, da Diretoria de Políticas Comunitárias e Municipais de Prevenção Social à Criminalidade, destacou que o diferencial do GIE-VD é a análise estratégica do autor da violência, acelerando a resposta da rede e garantindo maior proteção a mulheres e meninas.
A chefe do Departamento Estadual de Investigação, Orientação e Proteção à Família da Polícia Civil, Danúbia Quadros, acrescenta que o grupo intensificará campanhas de conscientização, monitorará medidas protetivas e atuará para impedir reincidências.
Segundo dados da Sejusp de janeiro a agosto de 2025, Minas Gerais registrou 236 casos de feminicídio, entre consumados (104) e tentativas (132). Janeiro e fevereiro apresentaram números elevados, com 29 e 34 casos, respectivamente. O primeiro semestre somou 76 feminicídios consumados e 95 tentativas. Julho e agosto contribuíram para o aumento do acumulado, com 29 e 36 casos, mantendo a média mensal em torno de 13 feminicídios consumados e 16 tentativas. Esses dados evidenciam a persistência da violência de gênero no estado e reforçam a necessidade de políticas públicas mais eficazes.
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Serviços em Minas Gerais: onde procurar ajuda
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*Estagiária sob supervisão do subeditor Thiago Prata
