Crianças internadas na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Infantil João Paulo II, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte, foram transferidas nessa quinta-feira (22/8) para o Hospital João XXIII. Segundo os servidores, o fechamento temporário da unidade sob a justificativa de reforma não foi comunicado com antecedência pela Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig) e levanta suspeitas de desmonte do hospital.
De acordo com profissionais do João Paulo II, a comunicação sobre a transferência e fechamento temporário da unidade não foi feita por comunicado oficial. A técnica em enfermagem da urgência pediátrica, Ana Paula Ferreira Tavares, contou que os funcionários receberam a notícia apenas no dia, por meio de uma mensagem no grupo de WhatsApp às 15h50.
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“Não houve reunião, documento oficial, nada formalizado. Ficamos sabendo que o CTI fecharia para reforma pelo WhatsApp, mas sem detalhes técnicos ou licitação pública. O impacto foi imediato, porque nós, da urgência, recebemos pacientes graves que muitas vezes precisam de acesso rápido à UTI. Agora, com a unidade fechada, o transporte é mais demorado e arriscado”, relatou.
O CTI pediátrico do Hospital Infantil João Paulo II tem atualmente 17 leitos, sendo quatro de isolamento de crianças com doenças infecciosas graves, a qual o hospital é referência no estado. Para Ana Paula, a transferência fragiliza toda a rede. “O João XXIII já lida com sua própria demanda, de grande complexidade. Com a chegada dos nossos pacientes, sobrecarrega ainda mais. E, no caso de emergências, há perda de tempo precioso até que a equipe de UTI possa ser acionada.”
A técnica também relata as dificuldades logísticas enfrentadas no transporte das crianças. “Estamos falando de pacientes intubados, monitorizados, que precisam de acompanhamento de médicos, enfermeiros e fisioterapeutas. A transferência aconteceu no horário de almoço, onde o elevador é usado para transportar alimento.”
O hospital tem o conselho de saúde local, responsável por discutir mudanças estruturais ou de funcionamento. A psicóloga e conselheira Denise Martins Ferreira afirmou que eles não foram informados.
“Mais uma vez somos surpreendidos com uma possibilidade de desmonte do hospital. Aconteceu assim no Amélia Lins, eles fecharam o CTI pediátrico alegando reforma, retiraram os equipamentos e nunca mais reabriram. Agora, fazem a mesma coisa aqui, sem transparência, sem diálogo e ocupando os leitos do João XXIII, que já estavam destinados a cirurgias e outros pacientes adultos”, criticou a psicóloga.
Mesmo o pronto-atendimento pediátrico do hospital funcionando normalmente, o receio dos servidores é de que a transferência temporária seja apenas o primeiro passo para fechar não só o CTI, mas também toda a unidade.
"Afinal de contas que reforma é essa que precisa ser feita a toque de caixa e que o conselho e servidores não são informados? Nós verificamos que daqui a pouco eles vão abrir uma UPA Centro Sul e incluir a pediatria e dizer que vai todo mundo lá. Vão fechar o Hospital Infantil João Paulo II e mais três hospitais alegando que é um plano piloto para construir um hospital novo. Um hospital novo é uma maravilha, mas à custa do fechamento de quatro hospitais? Nós estamos indignados. Pedimos a população apoio", desabafa Denise.
Impacto
Para a diretora do Sindicato dos Trabalhadores da Saúde de Minas Gerais (Sindsaúde-MG), Neuza Freitas, a transferência dos pacientes não sobrecarrega somente o João XXIII como compromete o fluxo da urgência no João Paulo II e impacta a adaptação dos funcionários que foram remanejados junto com os pacientes
“Antes, uma criança em estado grave chegava e já recebia o primeiro atendimento e imediatamente ela já era transferida para o CTI que era lá dentro do João Paulo II. Agora, ela vai precisar esperar vaga no João XXIII e ser transportada. Isso coloca vidas em risco e causa transtorno tanto no João XXII quanto no João Paulo II", explica Neuza.
Em nota, a direção do Complexo Hospitalar de Urgência, da Rede Fhemig, confirma a transferência temporária dos pacientes da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Infantil João Paulo II para a UTI Pediátrica do Hospital João XXIII, ambos integrantes do mesmo complexo.
O órgão alegou que a medida faz parte das intervenções necessárias para a instalação do sistema Tasy, que exige adaptações na infraestrutura predial e integra um processo de modernização e integração dos fluxos assistenciais, com melhorias significativas na qualidade do atendimento.
“O prazo previsto é de 60 dias. A UTI Pediátrica do Hospital João XXIII possui estrutura física, equipe especializada e capacidade assistencial para receber todos os pacientes transferidos de forma adequada e segura, sem qualquer prejuízo ao atendimento. Tanto que, mesmo após a transferência, ainda há oito leitos vagos disponíveis na unidade”, informou o órgão.
A fundação também afirmou que os servidores foram informados previamente em reuniões, registradas em atas, sobre a transferência temporária. Segundo o órgão a transferência temporária não interfere no pronto atendimento do Hospital Infantil João Paulo II, que continua funcionando normalmente e que tudo ocorreu bem.
*Estagiária sob supervisão do subeditor Humberto Santos
