O cantor, compositor e multi-instrumentista Sérgio Pererê criticou em redes sociais, nesta terça-feira (10/6), o que qualifica como intolerância religiosa, depois de realizar uma apresentação na Igreja Nossa Senhora das Dores, em Ouro Preto (MG).

No último 1º de junho, o artista, nascido em Belo Horizonte, interpretou composições autorais do álbum "Canções de Bolso", que contém sonoridade em tom de leveza e faz alusão aos livros de bolso com mensagens. A performance aconteceu como parte da programação do projeto "Fado em Cidades Históricas". 

Dois dias depois, Sérgio publicou um vídeo com trechos da apresentação e comentou sobre uma das músicas que ele cantou. "A canção Kassumai Keb, escrita na língua Diola, foi feita após a minha viagem à Guiné-Bissau em abril de 2025, quando fui reencontrar meus ancestrais do povo Felupe! Lá fui batizado, após um teste ancestral, com o nome Kulalu Bamai."

Nessa segunda-feira (9/6), a página Guerreiro da Santa Igreja, no Instagram, criticou a performance. "O artista é livre para fazer o show que ele quiser, mas fora da igreja católica, já que ele não é cristão. Ele se diz espiritualista, mas as músicas dele são denominadas ‘samba de preto velho’ ou ‘conversas de terreiro’, entre outras barbaridades. Dentro da igreja católica isso é sacrilégio, blasfêmia e pecado", diz a narradora do vídeo. Na legenda que acompanha a publicação, a apresentação do músico é retratada como “profanação”.

Para o músico, o discurso do vídeo é impregnado de racismo e intolerância religiosa. "Enquanto artista negro, filho de benzedeira e rei no Congado, é muito legítimo ocupar o espaço de uma igreja. Afinal, é sabido que as igrejas das cidades históricas de Minas Gerais foram construídas com a força, o coração e o sangue dos meus ancestrais", inicia.

"A crítica feita a mim não me atravessa, porque caminho há muito tempo, na minha trajetória pessoal e artística, consciente do que eu proponho, do que eu acredito e de como meu trabalho chega às pessoas. Contudo, acho extremamente importante trazer esse ataque a público para que possamos refletir sobre o racismo e a intolerância religiosa e buscar cada vez mais forças para, juntos, combatê-los", completa.

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De modo geral, o trabalho de Sérgio Pererê, que também é ator e diretor musical, transita pela experimentação e a tradição, entrelaçando temas cotidianos e elementos de matriz africana, como o culto à ancestralidade e aos orixás.

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