Wellington Barbosa*

 

Pela segunda vez, em menos de uma semana, Belo Horizonte é atingida por uma tempestade de raios. Na noite de anteontem, entre 20h e 22h, foram registradas 286 descargas elétricas na cidade. Os números, conforme a Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), equivalem a duas ocorrências por minuto. Desde o início do período de chuvas, em outubro de 2023, foram aproximadamente 43 mil eventos em toda a Região Metropolitana. Já em Minas Gerais, contabilizou-se mais de um milhão de descargas. E a previsão é que os fenômenos continuem acontecendo enquanto os dias permanecerem quentes e úmidos, em resposta aos efeitos do El Niño, que tem favorecido o aquecimento incomum da atmosfera.


Somente na primeira quinzena de janeiro, a companhia já registrou mais de nove mil raios na Região Central de Minas Gerais. De acordo com o Grupo de Eletricidade Atmosférica do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (ELAT/INPE), nas 24 horas, entre terça e quarta-feira, houve queda de 59.194 raios no estado, sendo 996 na capital. Se comparado ao mesmo período do ano passado, entre 17 e 18 de janeiro de 2023, houve um crescimento de 66% em 2024.


Durante a última tempestade, diversos pontos da capital sofreram estragos causados pela chuva e descargas elétricas. A linha férrea do metrô de BH, que já passava por manutenção desde o fim de semana após um raio atingir a linha de energia da estação Minas Shopping, na Região Nordeste, foi novamente alvo das descargas. Dessa vez, a ocorrência aconteceu entre as estações Calafate e Carlos Prates, na via de sentido à estação Vilarinho, na Região Noroeste.


Usuários que estavam em um trem, que ficou parado por conta da falta de energia, tiveram que esperar uma hora e meia para que a situação fosse normalizada e a viagem prosseguisse. Desta vez, o contratempo foi resolvido de forma relativamente rápida. No entanto, o metrô tem trabalhado fora da normalidade, já que técnicos continuam na manutenção do primeiro estrago causado pelos raios, na noite de sábado (13/1).

 

Assim, para garantir “um tempo maior” às equipes, o transporte tem operado com intervalo de 25 minutos entre os trens. Nos horários de pico - de 6h à 8h30 e de 16h30 à 19h - o tempo de espera é de 10 minutos. A Metrô BH, empresa que administra o sistema, explicou que a medida foi necessária, uma vez que no trecho afetado pelo raio, os trens vão circular apenas por uma pista. O Estado de Minas questionou a companhia sobre o prazo para que o transporte volte a funcionar normalmente mas, até o fechamento desta matéria, não obtivemos resposta. A reportagem também perguntou o que tem sido feito para evitar que novas ocorrências voltem a acontecer, mas também não foi respondida. “O Metrô BH está trabalhando, incansavelmente, na revitalização dos sistemas avariados, buscando minimizar os impactos à circulação dos trens”, limitou-se.


O pesquisador do Núcleo de Desenvolvimento Científico e Tecnológico em Descargas Atmosféricas, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Silvério Visacro Filho, explica que as descargas elétricas podem atingir um equipamento, ou a rede de energia, de duas formas: direta ou indireta. No primeiro caso, e mais violento, são gerados de 100 milhões a 1 bilhão de volts, e acontece quando o raio atinge diretamente um objeto. Já no segundo, o fenômeno passa por condutores - como cabos elétricos - antes de atingir um ponto final, a carga elétrica produzida fica entre 100 e 200 mil volts. “No caso do metrô, deve ter sido uma incidência direta, para estar parado a tanto tempo. Mesmo uma descarga que seja próxima, a 50 metros de distância, por exemplo, possui uma força do campo magnético capaz de induzir tensões da ordem de 100 mil a 200 mil volts na rede elétrica. Mas, normalmente, quando isso acontece, você tem a interrupção do fornecimento e e a queima de um isolador ou outro”, diz.


Casa é atingida em BH


A forte chuva que atingiu Belo Horizonte, na noite de quarta-feira (17/1), deixou muitos estragos, principalmente na região da Pampulha, onde em - apenas duas horas - choveu 25% do esperado para todo o mês. No bairro Santa Terezinha, uma árvore de grande porte caiu em cima de um carro e de uma casa, deixando uma família presa dentro da própria residência, durante todo o dia de ontem.


De acordo com o Corpo de Bombeiros, a árvore caiu por volta de 1h. Um Fiat Cronos que estava estacionado logo embaixo foi impactado. Ninguém se feriu. Com a queda, a família que mora no imóvel não conseguiu deixar o local, já que a saída estava impedida. Ao EM, Gislene Juliana, moradora da casa atingida, afirmou que a energia no local demorou a ser restabelecida.


“É um desespero ficar sem condições de fazer nada, de mãos atadas e esperando. A gente não sabe o que fazer. Esperamos os órgãos responsáveis para resolver logo e resolver a vida. Ficamos parados dentro de casa, sem sequer termos como abri-la”, disse.


Além da árvore, um forte alagamento alcançou o bairro durante a chuva. Outros imóveis foram invadidos pela água e moradores perderam diversos aparelhos. Em consequência ao grande volume de chuva, a regional entrou em alerta forte para risco geológico. O aviso é emitido toda vez em que se é recomendada atenção ao grau de saturação do solo, que fica encharcado com a chuva.


Mais raios vêm por aí


As tempestades de raios causaram espanto, e até certo fascínio, aos moradores da Grande BH. As situações são típicas das chuvas de verão. De acordo com Claudemir de Azevedo, do Instituto Nacional de Meteorologia, o processo está diretamente associado ao calor intenso e alta umidade do ar. Apesar de já serem esperados, este ano, as descargas atmosféricas vão acontecer com ainda mais frequência e intensidade. O meteorologista do Climatempo, Ruibran dos Reis, explica que os temporais são organizados em nuvens chamadas de Cumulus Nimbus, nelas são formadas os raios e rajadas de vento. “Essas nuvens se formaram, com mais frequência, devido ao aquecimento global. Estamos com a temperatura do planeta muito elevada. Então, com isso, e também a atuação do El Niño, a temperatura muito alta acabou fazendo um levantamento de calor muito relevante, gerando esses temporais intensos”, afirma Ruibran.

*Estagiário sob supervisão do subeditor Rafael Bernardes


O que fazer em caso de raios e tempestades?

Inpe listou recomendações para a devida prevenção


Não saia para a rua, ou não permaneça na rua durante tempestades, a não ser que seja absolutamente necessário. Nestes casos, procure abrigo nos seguintes lugares: carros não conversíveis, ônibus ou outros veículos metálicos não conversíveis; em moradias ou prédios, de preferência que possuam proteção contra raios; em abrigos subterrâneos, tais como metrôs ou túneis; em grandes construções com estruturas metálicas; em barcos ou navios metálicos e, finalmente, em desfiladeiros ou vales.


Se estiver dentro de casa, evite: usar telefone, a não ser que seja sem fio; ficar próximo de tomadas e canos, janelas e portas metálicas e tocar em qualquer equipamento elétrico ligado. Se estiver na rua, as recomendações são: não segurar objetos metálicos longos, tais como varas de pesca, tripés e tacos de golfe; não empinar pipas e aeromodelos com fio; não andar a cavalo; tampouco nadar ou ficar em grupos.

 

Esquive-se dos seguintes lugares que possam oferecer pouca proteção contra raios: pequenas construções não protegidas, tais como celeiros, tendas ou barracos; veículos sem capota, como tratores, motocicletas ou bicicletas; bem como estacionar próximo a árvores ou linhas de energia.


Evite também certos locais que são extremamente perigosos durante uma tempestade. Exemplos: topos de morros ou cordilheiras; topos de prédios; áreas abertas, campos de futebol ou golfe; estacionamentos abertos e quadras de tênis; proximidade de cercas de arame, varais metálicos, linhas aéreas, trilhos e árvores isoladas; estruturas altas, tais como torres, linhas telefônicas e linhas de energia elétrica.


Se estiver em um local sem um abrigo próximo e sentir os pelos arrepiados ou a pele coçar, é um indicativo que um raio está prestes a cair, ajoelhe-se e curve-se para a frente, colocando suas mãos nos joelhos e sua cabeça entre eles. Não deite-se no chão.

Fio partido

Caso as pessoas se deparem com um fio partido, elas não podem se aproximar ou tocar no cabeamento e, se possível, não devem permitir que outras pessoas se aproximem também.


A recomendação é telefonar imediatamente para o Fale com a Cemig,no telefone 116, que funciona 24 horas por dia. Se uma árvore cairna frente de sua residência, nunca tente retirá-la ou cortá-la e chame o corpo de bombeiros.


Em muitos casos, no meio da árvore caída, pode existir um cabo partido da rede elétrica que pode estar energizado e escondido no meio dos galhos e, ao tentar retirar a árvore, a pessoa pode sofrer um choque elétrico de até 13.800 volts, com risco de morte ou graves queimaduras.

 

O que acontece se a tempestade chegar quando você estiver em um veículo?

Caso esteja em viagem durante a chuva, o Corpo de Bombeiros orienta a evitar dirigir nas estradas alagadas. Além da visão comprometida, poças podem esconder buracos.


Ao escolher o local de parada escolha um lugar alto, não pare perto de postes ou árvores. Não saia do carro, ele é uma ótima proteção contra raios, e mantenha as janelas e portas fechadas.


Continuando uma rota, dirija devagar e mantenha distância segura do carro à frente.


Poças d'água devem ser atravessadas com aceleração contínua, em primeira marcha.


Recomendamos também que não solte pipas e não carregue objetos, como canos e varas de pesca, além de evitar andar de bicicleta, carro sem capota (conversível), motocicleta ou cavalo.

Equipamentos eletrônicos

Todos os equipamentos elétricos devem ser retirados das tomadas para evitar risco de queima.


O telefone celular só deve ser utilizado caso o carregador de bateria do aparelho não esteja plugado na tomada. Essa recomendação, porém, vale para qualquer situação, independentemente se for dia de chuva ou de sol.

 

PREVISÃO DO TEMPO

Confira a previsão do tempo para Belo Horizonte durante o fim de semana

Sexta-feira (19/1)


Céu parcialmente nublado, com pancadas de chuva e trovoadas isoladas. Temperatura máxima de 34ºC e mínima de 19ºC

Sábado (20/1)


Céu nublado a encoberto com pancadas de chuva e trovoadas isoladas. Temperatura máxima de 30ºC e mínima de 23ºC

Domingo (21/1)


Céu encoberto a nublado, com pancadas de chuva e trovoadas isoladas. Temperatura máxima de 28ºC e mínima de 23ºC

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