Mosquitos com bactéria protetora prontos para ser soltos em BH -  (crédito: Jair Amaral/EM/D.A Press – 22/11/23)

Mosquitos com bactéria protetora prontos para ser soltos em BH

crédito: Jair Amaral/EM/D.A Press – 22/11/23

A combinação do calor com as chuvas intensas esperadas para o verão em decorrência do El Niño põe a Região Sudeste do país na rota de uma potencial epidemia de dengue em 2024. O alerta é do Ministério da Saúde e vale destacadamente para Minas Gerais e Espírito Santo. O risco elevado está relacionado à maior facilidade de proliferação do mosquito Aedes aegypti, vetor da dengue – e também da zika e chikungunya – nas condições climáticas esperadas para o verão, a incomum circulação concomitante dos quatro sorotipos do vírus que provoca a doença e aos índices de infestação do mosquito já detectados pela saúde pública.

Em Minas Gerais, onde de 1º de janeiro a 11 de dezembro foram registrados 304.638 casos confirmados e 193 mortes provocadas pela dengue, 380 municípios estão em situação de alerta e 82 na zona de risco, segundo os últimos dados do quarto Levantamento Rápido de Índices para Aedes aegypti (LIRAa/LIA) de 2023, divulgados na quarta-feira (13/12) pela Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG). Outras 359 cidades receberam classificação satisfatória.

A situação de alerta vale para municípios com Índice de Infestação Predial pelo Aedes (IIP) igual ou superior a 0,9 e a de risco para valores maiores que 4. O índice é satisfatório quando está abaixo de 0,9. A pesquisa foi realizada entre 23 de outubro e 10 de novembro. O IIP indica o percentual de imóveis que apresentaram recipientes com água infestados por larvas de Aedes, em relação ao total vistoriado pelos agentes de combate a endemias (ACE) de cada município.

No alerta, o Ministério da Saúde relaciona sua projeção de aumento do número de casos no verão, que começa em 22 de dezembro e vai até 20 de março, aos possíveis efeitos do El Niño apontados pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Diante disso, frisa o órgão, é preciso que a sociedade ajude a eliminar os criadouros do mosquito e evite deixar água parada, já que um levantamento mostrou que 74,8% dos criadouros estão nas residências.

Outra preocupação da pasta é com o ressurgimento dos sorotipos 3 e 4 do vírus no Brasil, que voltaram a circular recentemente no país. “O ano de 2023 foi realmente diferente. Tivemos essas mudanças ocasionadas pelo fenômeno do El Niño. E, depois de muito tempo, encontramos os quatro sorotipos (1, 2, 3 e 4) circulando ao mesmo tempo no Brasil, uma situação bem incomum”, observou a secretária de Vigilância em Saúde e Ambiente, Ethel Maciel, durante entrevista coletiva na semana passada. O ministério sugere que a população faça uma inspeção em casa pelo menos uma vez por semana.

Infestação no país

Dados do LIRAa mostram que 1.506 de um total de 4.976 municípios analisados no país têm classificação de alerta para infestação do mosquito, o equivalente a 30,2%. Além disso, 189 municípios ou 3,7% têm classificação ainda mais alta de risco. O restante (3.281), o que corresponde a 65,9%, obteve classificação satisfatória.

Os números mostram também que, em 2023, 74,8% dos criadouros do mosquito da dengue estão nos domicílios, como em vasos e pratos de plantas, garrafas retornáveis, pingadeiras, recipientes de degelo em geladeiras, bebedouros em geral, pequenas fontes ornamentais e materiais em depósitos de construção (sanitários estocados e canos, por exemplo).

Ainda de acordo com o levantamento, depósitos de armazenamento de água elevados – como caixas d’água, tambores, depósitos de alvenaria – e no nível do solo (tonel, tambor, barril, cisternas, poço e cacimba) aparecem como segundo maior foco de procriação dos mosquitos, com 22%. Já os depósitos de pneus e lixo respondem por 3,2%.

Aumento de casos e mortes

Tanto em Minas Gerais como um todo quanto em Belo Horizonte houve aumento expressivo do número de casos e mortes por dengue nos últimos dois anos. Em 2021, foram registrados 16.805 casos e 8 mortes no estado. Já no ano passado, a SES-MG contabilizou 74.791 casos e 68 mortes pela doença, um aumento de 345% em relação ao ano anterior. Neste ano, a situação se agravou. Até 11 de dezembro já são 393.545 casos prováveis de dengue em Minas. Desse total, 304.638 foram confirmados para a doença. Há ainda 193 mortes confirmadas e outras 65 em investigação.

Na capital, o quadro é semelhante. De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte, em 2021 foram registrados 1.072 casos e nenhuma morte pela doença. Porém, no ano passado, houve 1.282 casos e uma morte, o que representa um aumento de 20% em relação ao ano anterior. Já em 2023, de janeiro a novembro, a secretaria registrou 12.005 casos, um aumento de 886% em relação ao mesmo período de 2022, quando foram contabilizados 1.217. Neste ano, 10 pessoas já morreram na capital em decorrência da dengue.

Combate aéreo

Procurada pela reportagem, a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) informou que promove ações de combate e prevenção ao mosquito Aedes aegypti durante todo o ano. Segundo a PBH, os agentes de combate a endemias (ACE) vistoriam os imóveis e reforçam junto à população as orientações sobre os riscos do acúmulo de água em recipientes que podem se tornar potenciais criadouros do mosquito. Os profissionais também orientam sobre como eliminar os focos e, se necessário, fazer a aplicação de biolarvicidas. Em 2023, foram feitas mais de 4 milhões de vistorias.

A prefeitura também aplica inseticida a Ultra Baixo Volume (UBV) para combater mosquitos adultos em áreas com casos suspeitos de transmissão local. Outra estratégia é o uso de drones para mapear, diagnosticar e tratar – quando necessário –, intervindo na redução de possíveis criadouros do mosquito nos imóveis. Quando necessário, também são aplicados larvicidas, por meio dos drones, diretamente nos pontos de risco.


Outra ação da PBH é a utilização do método Wolbachia, com a soltura dos mosquitos que carregam essa bactéria e têm a capacidade reduzida de transmitir os vírus para as pessoas, diminuindo o risco de surtos de dengue, zika e chikungunya na capital.

A prefeitura faz também o monitoramento do Aedes aegypti por meio de cerca de 1.700 armadilhas para colocação de ovos (ovitrampas), que são instaladas quinzenalmente e recolhidas após sete dias. De acordo com o Executivo Municipal, o acompanhamento permanente desses resultados permite identificar os locais com maior número de ovos e, indiretamente, o número mais elevado de mosquitos adultos. Além disso, auxilia no direcionamento das ações de intensificação, a exemplo dos mutirões de limpeza, em parceria com a Superintendência de Limpeza Urbana (SLU).

Política de vigilância

A Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) também destacou que trabalha de forma contínua, durante todo o ano, para monitorar e controlar a infestação do Aedes, além de impedir o avanço da dengue, zika, chikungunya e febre amarela. Nos meses mais quentes, em que há maior incidência da transmissão das doenças, as ações e os cuidados estaduais são intensificados.

Em novembro, o secretário de Estado de Saúde, Fábio Baccheretti, anunciou a criação da Política Estadual para Vigilância, Prevenção e Controle das Arboviroses, um conjunto de ações para evitar e controlar a ocorrência dessas endemias na população e garantir o acesso a atendimento no âmbito do Sistema Único de Saúde em Minas Gerais (SUS-MG).

Está previsto ainda, o investimento de R$ 30,5 milhões anuais, sendo R$ 15,6 milhões repassados às prefeituras e R$ 14,9 milhões aos consórcios municipais de saúde para a compra de drones que vão auxiliar no combate à proliferação do mosquito no estado.

Dentre as ações contínuas da SES se destacam também o monitoramento semanal de casos, a elaboração de boletim epidemiológico e o planejamento de solicitação de inseticida, junto ao Ministério da Saúde, para o envio aos municípios, além de reuniões periódicas com as Unidades Regionais de Saúde para discutir e orientar sobre as medidas de prevenção e controle das arboviroses.

No primeiro semestre de 2024, será inaugurada uma biofábrica Wolbachia destinada a atender os 22 municípios da Bacia do Rio Paraopeba. A estimativa é de produção semanal de 2 milhões de mosquitos. Os insetos não são geneticamente modificados e não transmitem doenças.

A secretaria alerta ainda que, em caso de febre alta, dores musculares, dor de cabeça ou manchas vermelhas na pele, é imprescindível procurar uma Unidade Básica de Saúde (UBS) para avaliação médica e acompanhamento. A SES-MG orienta ainda que a população adote medidas preventivas individuais, como o uso de repelentes, roupas adequadas e a manutenção de ambientes livres de possíveis criadouros do mosquito.


CUIDE-SE


Confira as medidas para evitar as doenças transmitidas pelo Aedes aegypti

  • Elimine recipientes que acumulam água parada
  • Mantenha lixeiras sempre tampadas
  • Deixe o quintal sem lixo e entulhos e coloque garrafas e baldes de cabeça para baixo
  • Mantenha reservatórios de água do ar-condicionado, geladeira e umidificador secos e vazios
  • Os ralos devem estar limpos e protegidos por tela
  • Não use pratinhos que acumulam água sob os vasos de planta
  • Os bebedouros dos animais devem ser limpos com bucha ou escova semanalmente
  • Mantenha as canaletas e calhas desobstruídas para não acumularem água com a chegada das chuvas
  • Faça manutenção periódica de piscinas e caixas d’água
  • Coloque plantas que acumulam água em local coberto
  • Deixe lonas bem esticadas, evitando a formação de poças d’água
  • Use repelentes 

380

Total de cidades mineiras com infestação predial de “alerta”

82

Municípios mineiros com infestação de “risco” do mosquito da dengue