Travessia elevada para pedestres próximo à rodoviária: projeto para área central de Belo Horizonte tem o desafio de conciliar os vários personagens do trânsito urbano -  (crédito: Leandro Couri/EM/D.A.Press)

Travessia elevada para pedestres próximo à rodoviária: projeto para área central de Belo Horizonte tem o desafio de conciliar os vários personagens do trânsito urbano

crédito: Leandro Couri/EM/D.A.Press

Em um mundo cada vez mais motorizado, Belo Horizonte, assim como outras metrópoles mundo afora, enfrenta a pressão do transporte individual e o desafio de dar prioridade ao sistema público e incentivar a cultura de deslocamentos a pé e de bicicleta, além de garantir a proteção aos pedestres. Para buscar respostas para as questões impostas pela mobilidade urbana, a capital mineira vem apostando em abrir mais caminhos para ônibus e ciclistas, especialmente na região central, onde são maiores o fluxo e os conflitos de trânsito.

 

O programa “Centro de Todo Mundo”, iniciativa da prefeitura que busca requalificar a região e fazer com que a população se reaproprie de seus espaços, projeta melhorar a mobilidade nessa área investindo em faixas exclusivas de ônibus – serão mais de 17 quilômetros – e novas ciclovias até 2024, além de travessias mais seguras para quem se desloca a pé.

 

Nesses aspectos, uma das iniciativas que devem ser percebidas com maior impacto por quem se desloca por BH é o conjunto de intervenções na Avenida Afonso Pena. Um dos principais corredores de tráfego da capital, a via está também entre as de trânsito mais conturbado. Nela, o programa “Centro de Todo Mundo” prevê um pacote de mudanças que inclui rotas prioritárias para ônibus e uma ciclovia de ponta a ponta, conectada a outras seis rotas para ciclistas da cidade.

 

Com obras de curto, médio e longo prazos, o programa da Prefeitura de BH projeta repensar a mobilidade apostando em um conjunto de estratégias para reorganizar faixas, fluxo e interseções no trânsito do Centro, mirando especialmente a fluidez do tráfego – um dos problemas crônicos da área central. Motoristas também devem se preparar para ajustes estratégicos em áreas do estacionamento rotativo e de carga e descarga, informa o município.

 

“Muitas vezes, o fluxo fica confuso, ineficiente, porque a via não é usada da melhor forma. Quando a gente fala em uma avenida, isso envolve todo um pacote do que afeta e é afetado por ela. Não foi de um dia para o outro que decidimos fazer essas intervenções que hoje estão em andamento”, afirma o responsável pela Superintendência de Mobilidade (Sumob), André Dantas.


Menos tempo a bordo de ônibus

 

Os corredores exclusivos para ônibus têm sido um dos pontos- chave dessa política de planejamento da mobilidade urbana em BH. Estima-se já terem resultado na média de quatro horas por semana a menos nas viagens dos passageiros do transporte coletivo. Até o fim de 2024, o programa “Centro de Todo Mundo” prevê a implantação de 17,2 quilômetros de rotas prioritárias para o transporte público. Esses trechos estão em fase de projetos e, até o momento, não há previsão de quando as obras começarão.

 

A Avenida Augusto de Lima, entre a Avenida do Contorno e a Rua Rio Grande do Sul, na Região Centro-Sul, tem previsão de ser a próxima a ceder espaço para uso exclusivo dos ônibus. Além dos 2,5 quilômetros de corredor prioritário – objeto de consulta pública on-line até 7 de dezembro – o projeto prevê melhorias nos cruzamentos e nos pontos de ônibus.

 

Belo Horizonte tem hoje 56,1 quilômetros de faixas exclusivas de ônibus, contando com as pistas do Move, e outros 16,2 de faixas preferenciais, que podem ser usadas por outros veículos, com preferência para o transporte coletivo.

 

Sem “aperto”

 

Outro problema crônico de BH que desafia quem se locomove a pé pelo Centro é a falta de banheiros públicos. Para essa demanda, bem conhecida da população, o programa “Centro de Todo Mundo” promete a instalação de 18 sanitários públicos de funcionamento 24 horas, gratuitos. Foi aberta licitação para viabilizar as estruturas.

 


O desafio de corrigir rotas

 

O problema da mobilidade em Belo Horizonte é também consequência de um planejamento urbano insuficiente ainda na época da construção da cidade, que se desenvolveu de forma orgânica e transbordou para além do traçado original, delimitado pela Avenida do Contorno – área que, hoje, contém apenas a região central. O crescimento desordenado resultou em vias estreitas e pouco estruturadas, que dificultam o tráfego de um número cada vez maior de veículos.

 

Mas, embora evidentemente necessários, os planos de incentivo ao transporte a pé e por bicicleta esbarram no mito de que a geografia acidentada de Belo Horizonte é pouco atraente para ciclistas e pedestres. Após décadas de planejamento urbano direcionado para automóveis, a iniciativa recente da prefeitura tem o desafio de repensar a cultura de dependência do automóvel individual. “A ideia é gerar um ciclo virtuoso de atração, para caminhar, andar de ônibus, de bicicleta. É um esforço contínuo para mudar a mentalidade, sem prejudicar ninguém”, afirma o superintendente da Sumob, André Dantas.

 

Como parte desse esforço, o programa “Centro de Todo Mundo” contempla ações de implantação de oito quilômetros de ciclovias, além da manutenção das rotas atuais para bikes e a instalação de novas estações para bicicletas compartilhadas, além das 12 entregues em setembro. A previsão é que BH tenha, ao todo, 400 quilômetros de ciclovias. Um dos eixos desse conjunto, a pista exclusiva para ciclistas projetada na Avenida Augusto de Lima tem 1,1 quilômetro entre a Praça Raul Soares e a Rua Tenente Brito Melo, conectando-se com outras já existentes na Avenida Olegário Maciel e a rota Leste/Oeste (Avenida do Contorno).


Mais segurança nas travessias

 

Ciclistas, motoristas e motociclistas, por mais que tenham diferenças e demandas específicas na mobilidade urbana, têm uma característica fundamental em comum: em algum momento, todos são pedestres. E esse é um personagem muitas vezes de pouca visibilidade nos debates sobre trânsito. Com o programa “Centro de Todo Mundo”, a administração municipal assegura que os deslocamentos a pé terão atenção específica.

 

E a necessidade dela é evidente no Centro de BH. Afinal, não é preciso caminhar muito pela região para perceber toda sorte de armadilhas com as quais se deparam pedestres: falta de sinalização, tempo de semáforo insuficiente, calçadas esburacadas, ausência de acessibilidade são apenas alguns exemplos.

 

“O pedestre está no topo da pirâmide do nosso programa. O principal desafio é um deslocamento seguro e eficiente”, reconhece o superintendente da Sumob, André Dantas. A prefeitura informa que vem realizando intervenções para aumentar a segurança de quem se desloca a pé, como implantação de travessias, faixas e expansão do número de abrigos.

 

As intervenções começam na região da Praça Raul Soares e na Avenida Oiapoque, onde foram realizadas obras de melhorias nas calçadas, com rampas de acessibilidade, com o objetivo de melhorar o conforto e a segurança para quem caminha por lá.

 

No cruzamento das ruas Curitiba e Guaicurus, próximo à rodoviária de Belo Horizonte, por exemplo, foi construída uma ilha de refúgio para os pedestres aguardarem com segurança o momento de atravessar. Antes, não havia faixa no local e as pessoas precisavam se arriscar na travessia entre os carros.

 

Segundo balanço da Prefeitura de BH, foram implantadas 787 sinalizações em 25 quilômetros de vias, além de mais de 1,9 mil ações de limpeza e higienização em abrigos de ônibus e outras 94 intervenções de manutenção, pintura e reparo nessas estruturas no perímetro de influência do “Centro de Todo Mundo”. Está prevista ainda a revitalização de 14 quilômetros de calçadas, mantendo o desenho original onde há pedras portuguesas, por exemplo.