Uma mudança de prumo. Obra do acaso, um nascimento quase que sem querer. Mas um fruto já maturado. Vem da infância o domínio da arte de tramar, enlaçar e bordar. É quando a vida caminha naturalmente, apresentando um novo desejo. Cris Marzagão tem carreira consolidada na dermatologia, porém é outra paixão que agora também conta sua história: o design.

A Casa conta com um acervo formado por obras de arte, mobiliário autoral

Lucas Dornas/Divulgação


A primeira criação surgiu durante a pandemia, pela vontade de ter um item colorido, leve e resistente para a varanda de sua casa. Cris Marzagão reuniu suas habilidades manuais e acabou desenvolvendo a poltrona Nana, peça de estreia. E não parou mais. Agora é pelos desenhos fluidos, de um luxo despojado e beleza elementar, no encontro entre o design e a arte, que constrói uma outra identidade.


Multicoloridas ou com pegada minimalistas, entre suas concepções, em edições limitadas, estão poltronas, cadeiras, bancos, luminárias, almofadas, biombos e outros exemplos. São tramadas à mão, em fios 100% algodão, formando uma riqueza de texturas e movimentos, com a possibilidade de customização completa de cada produto. “As tramas muitas vezes têm vida própria, e isso é lindo. Nunca uma trama vai ser exatamente igual a outra”, diz Marzagão.


Fundadora do Estúdio Trama, nome com o qual surgiu sua linha no design, a mineira acaba de inaugurar em Belo Horizonte a Cris Marzagão Casa Oficina, com projeto assinado pela arquiteta Luciana Garcia, onde abriga estúdio e showroom para as próprias criações e trabalhos de artistas parceiros. A proposta é ser um espaço híbrido, de produção e exposição de peças de arte, design e artigos manuais. A Casa conta com um acervo formado por obras de arte, mobiliário autoral personalizado e objetos decorativos.
Criz ainda trabalha como dermatologista, ofício que hoje divide com a nova atividade à que se dedica.

Aprendeu bordado, tricô e crochê com as avós e se arriscou na máquina de costura. "Com 22 anos de caminho na medicina, me permiti mostrar coisas das quais eu já gostava e fazia como hobbie, para mim. Sempre gostei de trabalhos manuais. Fui dando asas a essa vontade de fazer manualidades".


Ela conta que, a princípio, não havia grandes intenções de chegar onde está hoje. Foram os primeiros elogios de pessoas que conheceram sua poltrona Nana, a semente da empreitada pelo design. "Comecei a receber encomendas e, através de uma amiga em comum, recebi o convite da arquiteta Luciana Garcia, que conheceu meu trabalho, para participar de seu ambiente na CasaCor", lembra. Na ocasião, ela apresentou tamboretes.


Na mostra em BH, em 2023, também integrou, com diversas poltronas, o espaço de Adriana Gouvea, e assim ganhou a atenção do grande público. Depois, marcou presença em outros eventos da área, como a Modernos Eternos e uma exposição na Casadorada, e consagrou-se com a chance de estar no Salão do Móvel de Milão, por intermédio do arquiteto Lucas Ribeiro, em abril desse ano.


Para a produção, ela lança mão de diferentes técnicas de tecelagem (uniu conhecimentos anteriores a outros que adquiriu em cursos na internet), incluindo aplicações de bordado e macramê, por exemplo. Criz cita o banco Tom e o biombo Laços, criados com dobras em fitas, resultando em um efeito visual 3D que admira. "Não gosto do móvel chapado. A impressão de tridimensionalidade me agrada muito".
Ao levar o fazer manual para dentro de casa, Cris diz que propõe com suas peças personalidade, conforto e exclusividade. Cada item pode ser personalizado conforme o tamanho, a cor, o tipo do fio e a forma de trançar, tudo combinado com o arquiteto ou o consumidor final. "Trabalhar o produto de acordo com o que cada um quer é uma delícia, e um diferencial", declara.


Entre o público ao qual suas criações se direcionam, a maior parte é de clientes finais, mas Cris pretende trabalhar de uma forma mais aproximada com arquitetos de Belo Horizonte. Para ela, o design é um lugar de uma diversão responsável, em suas palavras. "Me divirto fazendo. Mas sei que preciso entregar uma coisa boa e bem feita". 

compartilhe