Na Semana de Moda de Alta-Costura de Paris, que terminou em 30 de janeiro, as grifes apresentaram suas coleções para a primavera-verão 2025, com criações inovadoras. Os looks mesclaram leveza, cores vibrantes e uma sensualidade sutil, traduzidas em looks festivos e elaborados, que exaltaram a arte da alta-costura em sua forma mais pura.
A alta-costura oferece uma vitrine para a técnica refinada, o trabalho manual meticuloso e a expertise dos talentosos artesãos que compõem os ateliês. A temporada foi marcada por estreias significativas e grandes expectativas.
Matthieu Blazy, que está se preparando para assumir a direção-criativa da Chanel, trouxe ao desfile uma proposta ousada e inovadora. Alessandro Michele, por sua vez, fez sua estreia na Valentino,
apresentando uma coleção que mergulhou profundamente na obsessão humana por listas e o desejo de controlar o incontrolável, conceitos que se refletiram em peças repletas de simbolismo e complexidade. Na Schiaparelli, Daniel Roseberry revisitou e reinterpretou o legado da maison, inspirando-se nos grandes mestres da alta-costura, como um tributo à história da moda e sua riqueza técnica e estética.
O que uniu essas coleções foi a presença de uma profusão de looks meticulosamente criados, feitos sob medida, especialmente para os tapetes vermelhos. As produções, que exalam sofisticação e exclusividade, cativaram os olhares atentos das celebridades que marcaram presença nas primeiras filas. Entre os destaques, estavam Fernanda Torres e Demi Moore.
Schiaparelli
Daniel Roseberry assinou looks marcados pelo luxo e pela ousadia. A coleção impactante não apenas resgatou, mas celebrou a essência surrealista que define a maison. Roseberry desafiou a ideia de que modernidade precisa ser sinônimo de minimalismo, trazendo a opulência e a imaginação.
Na passarela, formas esculturais, bordados luxuosos e uma paleta de cores sofisticada com tons de bege, preto, creme e dourado, criando uma atmosfera de riqueza e refinamento. Entre capas volumosas, corsets estruturados e ricos detalhes, o diretor-criativo da marca demonstrou mais uma vez sua maestria em equilibrar o rigor técnico com a fantasia, criando looks que encantam. Um verdadeiro tributo ao legado surrealista da maison e à visão inovadora de seu criador.
Jean Paul Gaultier
Ludovic de Saint Sernin evocou o sex appeal da grife de maneira única e ousada com a coleção Le Naufrage. As peças trouxeram uma ode ao poder da sensualidade e ao espírito irreverente. O desfile mesclou a tradição com a modernidade. Corsets, ilhoses, transparências e silhuetas ajustadas dominaram os looks. Também resgatou o espírito camp, aquele exagero teatral e artificial que sempre foi uma das marcas da casa e que, mais uma vez, se mostrou uma poderosa ferramenta de expressão dentro do universo de Gaultier.
Viktor & Rolf
Conhecidos pelo humor irreverente, os designers Viktor Horsting e Rolf Snoeren trouxeram para esta temporada uma proposta ousada: a simplicidade como ferramenta de experimentação. Ao todo, a grife apresentou 24 looks elaborados a partir de três peças essenciais e clássicas: um trench coat bege, uma camisa branca e uma calça azul-marinho.
O grande diferencial foi a maneira como construíram os visuais a partir dessas bases aparentemente simples, explorando diferentes proporções e volumes para criar um resultado inesperado e impactante. Cada peça foi trabalhada de forma a reinventar a alfaiataria. A escolha de elementos atemporais, como o trench coat e a camisa branca, reforçou o discurso da moda eterna.
Valentino
Fazendo sua estreia na Valentino, Alessandro Michele trouxe um novo olhar sobre a maison, resgatando sua rica história, ao mesmo tempo em que a projetava para o futuro de maneira inovadora e ousada. O desfile foi um espetáculo repleto de referências culturais, elementos históricos e contemporâneos, criando uma moda com um olhar poético e instigante.
Entre os looks, destacaram-se vestidos volumosos ao lado de crinolinas à vista e golas rufo inspiradas na nobreza do século 17, criando um contraste interessante entre o passado e o presente. Mais à frente, surgiram elementos que refletiam a pluralidade cultural, como as máscaras da luta livre mexicana, um aceno à cultura popular, e acessórios de cabeça que evocaram diferentes tradições e costumes ao redor do mundo.
Miss Sohee
A marca da talentosa sul-coreana Sohee Park reafirmou sua posição de destaque no circuito da moda. Com apenas 28 anos, a designer é conhecida por sua capacidade de combinar drama e sofisticação. A coleção foi um espetáculo visual que trouxe uma forte carga dramática, com cada look parecendo ter saído diretamente de uma pintura renascentista.
Inspirada na famosa obra “O Nascimento de Vênus”, de Botticelli, a coleção trouxe uma riqueza de bordados intrincados, utilizando conchas, pedras preciosas e incrustações de madrepérola. As modelagens exuberantes foram outro ponto alto da coleção, com corsets meticulosamente estruturados, saias volumosas e capas esvoaçantes que criaram um efeito dramático e majestoso.
Dior
Antes do desfile, a maison revelou uma inspiração fundamental para a coleção: a pintura de Dorothea Tanning, de 1943, Eine Kleine Nachtmusik . A artista americana, assim como a colega Leonor Fini, trouxeram o ponto de vista de uma mulher para o movimento artístico surrealista — o que resume como seu trabalho chamou a atenção da diretora-criativa da Dior, Maria Grazia Chiuri.
Também no moodboard de Chiuri está Alice no País das Maravilhas, que a fez refletir "sobre o momento de transição entre a infância e a idade adulta e como esse momento é representado em uma transformação do que vestimos". As modelos foram transformadas em "Alices punks", com adereços de cabeça de penas modelados como moicanos, e usavam espartilhos, saias gaiola e fraques, combinados com toques românticos como culotes de renda, transparências e mangas bufantes. Os vestidos extravagantes de abajur, inspirados pelo modelo Cigale de Dior da década de 1950, destacaram-se com suas crinolinas visíveis
Chanel
O desfile da Chanel no Grand Palais desafiou as expectativas, afastando-se do uso característico do preto. Em vez disso, a coleção apresentava tons pastel alegres e azul meia-noite. Designs extravagantes, porém dramáticos, incluindo mangas de perna de carneiro e caudas ousadas de seda vermelha, eram complementados por delicados botões em cristal de rocha e strass.
Armani privè
O mestre da moda Giorgio Armani comemorou 20 anos de sua linha de alta-costura, Armani Privè e seus 90 anos com um desfile elegante e emocionante. A coleção mergulhou nos arquivos do artesanato e levou alguns convidados às lágrimas ao fazer sua reverência no final.
Um vestido preto segmentado brilhava com fios prateados que brilhavam como óleo, jaquetas justas de inspiração asiática brilhavam com bordados intrincados e saias rodadas incrustadas com cristais adicionavam textura e peso, balançando pesadamente e ruidosamente enquanto as modelos desfilavam. As pérolas tiveram destaque em toda a coleção, usadas como enfeites e referências simbólicas à serenidade, um motivo recorrente da Armani.
Elie Saab
Se há um designer trabalhando hoje que mais personifica a visão quintessencial da alta-costura, é provavelmente Elie Saab. Romântico, fantástico, ultrafeminino, artesanato impecável e surpreendente. Flores emplumadas caem em cascata dos ombros; sedas transparentes envolvem o corpo com suavidade aquática; contas intrincadas capturam a luz como água ao sol. A paleta de cores delicadamente percorre o blush suave e o azul até um momento de citrino vívido.
Em muitos dos looks de Saab, a corseteria e o boned são trazidos à tona, desempenhando um papel tão importante quanto as contas e apliques intrincados que dançam sobre eles. Mas o aspecto mais progressivo da coleção foi a mudança para o denim índigo no ato final. O tecido resistente, que é mais classicamente associado a roupas de trabalho, transformou-se em formas elegantes e fluidas sob a orientação de Saab. Mas não perdeu nada de seu verdadeiro caráter azul. O ateliê habilmente fez uso do tipo de pesponto e acabamentos que você veria no par perfeito de jeans com orla, mesmo quando eles o transformaram em criações esculturais, intrincadamente frisadas e floralmente femininas.
Giambattista Valli
Apresentou uma coleção inesperada, mais simples do que o habitual, com vestidos monocromáticos de tule e chiffon centrados em torno de dois temas fortes. Flores e uma paleta de tons vibrantes, amarelo dourado, açafrão, rubi, fúcsia, púrpura, pervinca, azul Maia, entre outros; e o Renascimento italiano com as pinturas de Sandro Botticelli, incluindo a famosa "primavera" com as suas laranjeiras em flor e a deusa Flora com um vestido coberto de flores.
Tendências para ficar de olho
Dourado: a cor apareceu em tecidos nobres, como organza, e com bordados finos; Azul noite: para quem cansou do pretinho básico, a cor surge como uma alternativa refinada, com uma aura de sofisticação; Influência vitoriana: crinolinas, saias armadas e corsets trouxeram de volta as silhuetas dramáticas, com um toque de romance e pompa; Shapes volumosos: silhuetas amplas e extravagantes dominaram as passarelas, criando um equilíbrio entre técnica refinada e fantasia visual; Capas: um dos itens mais marcantes da temporada apareceu com bordados luxuosos e em forma de capuz, trazendo uma aura de mistério para os looks; Franjas: de volta em mais uma temporada, as franjas dominaram as passarelas, dessa vez em materiais como canutilhos e acabamentos artesanais; Decotes e golas dramáticas: o colo foi o foco com decotes ombro a ombro em 3D e golas teatrais; maximalismo: tons vibrantes, ombros estruturados e veludos dominaram a temporada e resgataram as tendências dos anos 1980; Assimetria: saias curtas na frente e longas atrás, até mesmo em vestidos de noiva, criaram um visual inesperado e contemporâneo; Laços: trazendo feminilidade para os looks, os laços foram um elemento de destaque da temporada, com tamanhos oversized e visual desconstruído para trazer um quê de drama; Acessórios de cabelo: acessórios capilares como laços, headpieces e outros adornos, ganharam destaque, misturando a elegância clássica com um toque ousado e contemporâneo; Wet hair: inspirado nos anos 1980, o wet hair apareceu com releituras modernas, tanto minimalistas quanto ousadas, incluindo a franja com ondas, no estilo dos anos 1920; Blush cor-de-rosa: o blush rosado, com fundo frio, voltou a ser destaque nas coleções, com um acabamento glow, sendo uma tendência vibrante para 2025.
