Marcia Moraes e seus filhos Joao Carlos Correa, Alice Correa e a neta Catarina Correa -  (crédito: Jair Amaral/EM/DA press)

Marcia Moraes e seus filhos Joao Carlos Correa, Alice Correa e a neta Catarina Correa

crédito: Jair Amaral/EM/DA press

Mãe e chefe ao mesmo tempo. Esta é uma relação cada vez mais comum no mundo dos negócios, mas exige um aprendizado constante, respeito mútuo e maturidade para dar certo. É como afinar um instrumento em busca do som mais cristalino e, quando isto acontece, tudo flui saudavelmente.


Se a entrada dos filhos na empresa significa injeção de sangue novo, energia, entusiasmo para arriscar, existem os métodos e processos já consagrados pela experiência materna. Conciliar as duas partes é segredo de sucesso.


Márcia Morais, dona da marca homônima, é uma dessas mães que se sente orgulhosa com a companhia dos dois filhos – Alice e João Carlos – na confecção que criou, há quase 27 anos, numa sala de seu apartamento. Tempos que ela fazia a roupa, punha na sacola e saía para vender.


Nem se falava em plus size na época, mas Márcia, a partir do próprio biotipo, entendeu que havia um nicho do mercado para explorar. E até hoje essa é a essência do negócio, com uma diferença que ela faz questão de frisar: sua marca não faz roupa para gordinhas, mas coleções dirigidas para mulheres que apreciam o fashion, com uma numeração inteligente.


“Sou muito feliz em tê-los ao meu lado no trabalho, acho que, se eles não estivessem comigo, já teria fechado a empresa”, confessa a empresária e estilista. Adolescente, Alice descartava a opção moda: ao contrário, queria fazer sua própria história. Foi cursar ciências sociais, trabalhou no estado, em universidade, em ONG, até rever seu conceito. “Eu gostava do que fazia, mas, aos poucos, fui atendendo algumas demandas da minha mãe na comunicação, como escrever um release, escolher uma foto e, quando vi, estava enfronhada. Descobri que a moda era o que fazia meu olho brilhar”, conta.


Para se aprimorar, foi fazer cursos, passou pela Fundação Dom Cabral e hoje atua no setor de comunicação e marketing da Márcia Morais. Foi responsável pelo rebranding da marca, que ganhou novo frescor e status, com contratações de designers competentes para auxiliar a mãe no estilo. “Lá dentro não nos tratamos como família, mas como profissionais de acordo com suas competências. Somos um tripé e minha mãe é a Márcia, do setor de estilo e produção”.


Há oito anos, João Carlos, de 31 anos, graduado em engenharia e trabalhando na área de logística, deixou o emprego para atuar nas áreas financeira e administrativa da firma. “Fiquei preocupada quando ele conversou comigo, mas foi um ganho, os resultados são muito positivos. Eu me sentia muito sozinha para tomar conta de tudo e me tornei mais forte. Para completar, os dois me colocaram no mundo da tecnologia”, pontua Márcia.


E os desacordos, as diferenças de opiniões, como ficam? “Elas se dissipam rapidamente”, afirma Alice. Na visão da sua mãe, "o patrimônio afetivo é maior que tudo”, ressalta.

 

Rosangela Aguiar entre os filhos Alexandre e Daniel

Rosangela Aguiar entre os filhos Alexandre e Daniel

Jair Amaral/EM/D.A Press

Eles são o futuro

Alexandre e Daniel eram adolescentes e já ajudavam na confecção que a mãe fundou, juntamente com a avó, costureira, no Barro Preto. Rosângela Ferreira Aguiar foi uma das pioneiras do setor da moda no bairro, que vivia seus melhores momentos nos anos 1980.


De uma pequena coleção, fabricada e deixada na pronta-entrega em consignação, até hoje, já se vão 42 anos. A Romaria se tornou uma marca conhecida nacionalmente e atua no setor da pronta-entrega. “Com 12 anos, eu já os levava para a fábrica e eles atendiam clientes, ajudavam a desenrolar os rolos de tecidos, dobravam as roupas. O Alexandre, com 13 anos, começou a trabalhar no financeiro”, conta Rosângela.


Até hoje, com 38 anos, ele é o dono da caixa registradora, regendo o fluxo econômico da empresa. Daniel, de 33 anos, por sua vez, cuida da produção e do comercial, acompanha o showroom no Prado, o que envolve também o relacionamento com as consultoras de moda e com as clientes. E Rosângela coordena o estilo com olhos de lince, sem perder de vista o foco da marca: um casual elegante e atemporal, com tempero de moda e preço competitivo.


Dinâmica, exigente, ela tem bom feeling para os negócios e criou os filhos nessa escola, sabendo aproveitar as oportunidades. A novidade dos três, agora, é o lançamento da RM, marca com perfil mais elegante, que está sendo comercializada pelo site, uma experiência nova para a empresa.


“Cada um tem suas responsabilidades, temos horário de chegar e sair, planilhas, normas que têm que ser respeitadas, para evitar desgastes. Às vezes, eles surgem, é inevitável, mas são logo resolvidos”, diz Rosângela. Outra regra de ouro é que nos encontros de fim de semana, com os filhos e quatro netos, é proibido falar em trabalho, é o momento de relax familiar.


“Trabalhar com ela é um aprendizado sem igual para mim e meu irmão”, ressalta Daniel. O mais importante é a relação de confiança que existe entre os três, a certeza que batalham pelo mesmo objetivo, que é o crescimento da empresa. “A marca se beneficia muito da energia que eles possuem e das ideias que trazem, ainda mais no mundo da moda em que tudo fica velho muito cedo. Eles são o futuro”, enfatiza Rosângela.

Sorte no amor e no trabalho

Mônica Lipiani trabalhava como vitrinista até o dia que uma prima do Rio de janeiro que trabalhava com aluguel de velas para eventos sugeriu que ela a representasse aqui em Belo Horizonte. A empreitada não deu muito certo, mas o contato com as decoradoras lhe abriu um novo horizonte. Mônica tinha um florista que colocava arranjos em sua casa semanalmente e ela propôs sociedade. Era época do Dia das Mães e ela pegou uma encomenda enorme do Banco Bom Sucesso. O sócio achou que ela não trabalharia, apenas injetar capital, tentou passar a perna da empresária e se deu mal. Mônica comprou a briga, contratou outro florista, porque não entendia nada de flor e abriu a Criar, na Savassi. Certo dia, conversando com Luciana Gontijo, recebeu o maior incentivo para entrar no ramo de decoraçao de festas e logo em seguida uma amiga pediu que ela fizesse o casamento de uma sobrinha. Pegou o serviço na cara e na coragem e está no ramo há mais de 20 anos.


“Sou uma sortuda por trabalhar com meus filhos. Trabalho com o que amo e com pessoas que eu amo. Luiza é maravilhosa, responsável, dedicada. Atua em todas as áreas, financeiro, atendimento, criação, projeto. Fico encantada com seu comprometimento, disposição e empenho. Como experiência de vida acho que ela deveria ter ido para outros lugares, porque o piano não é leve. Trabalhamos muito durante a semana para morrer no fim de semana. Não temos aniversário, festas, etc. Mas é mais um laço, nunca tivemos uma crise pessoal. Ano passado tive a graça do Gabriel, meu temporão, vir trabalhar comigo. Ele é muito inteligente, esperto, faz tudo rápido e pede mais trabalho, domina a parte de informática. Por sinal, os dois dão um banho nessa área”, conta.


Para ela a entrada dos filhos traz sangue novo. “A empresa se renova. Cada um que entra traz um novo olhar. Para mim é sorte, não sei se queria isso para eles, mas trabalhamos com uma coisa bacana, não estamos dentro de quatro paredes. Falo que não trabalhamos, fazemos festa. Estamos cada dia em um lugar diferente, nossa matéria prima é muito gratificante, porque é bonita por si só”, completa.


Luiza Lipiani trabalha com a mãe há 18 anos, porque quis, depois de ver o lado artístico da avó e a mãe sempre criando belas vitrines. Depois de fazer administração cursou design de interiores, achando que atuaria no ramo, mas Mônica tinha acabado de abrir a empresa de decoração de festas, e a jovem filha começou digitando contratos e quando viu já estava se sentindo completamente inserida na empresa. Diz que trabalhar com sua mãe é sempre um desafio, “muitas vezes delicioso, mas sempre desafiador”. Seu irmão Gabriel, que está fazendo Arquitetura, seu quarto curso superior, entrou para a empresa há dois meses e está gostando bastante. “Todo mundo idealiza a mãe como uma heroína quase perfeita, mas quando trabalhamos com a mãe, além de conviver com ela em casa, passamos a conhecer e amar, profundamente com as qualidades, defeitos e limitações. É um amor da forma mais genuína. E temos uma boa troca de conhecimentos”, diz.


O filho Gabriel, 21 anos, estudante de arquitetura entrou na empresa a convite da mãe, porque, segundo ele, não estava fazendo nada. Assumiu a parte de projetos no autocad há cerca de 8 meses e está gostando bastante. “Trabalhar com mãe ao mesmo tempo que é bom e é ruim porque seu chefe pode te bater, mas ainda não me bateu”. E apesar de não ter “apanhando”, conta que recebe puxões de orelha quase o tempo todo.

Naty Vasconcelos, Eloi Oliveira, Adriana Vasconcelos

Naty Vasconcelos, Eloi Oliveira, Adriana Vasconcelos

Arquivo Pessoal

Leveza na convivência

Aos 11 anos, Natália já acompanhava a mãe, Adriana Vasconcelos, nas viagens às feiras e mostras de arquitetura e decoração Brasil afora. Por volta dos 15, foi para a Europa sozinha, fez cursos na Inglaterra, depois morou em Roma, onde teve a oportunidade de estudar e apreciar arte e cultura.


Seu nascimento coincidiu com a decisão materna de abrir uma franquia na área de iluminação, em Belo Horizonte. Nesse ambiente convidativo e propício, Natália nem pensou em outra opção no momento de escolher a profissão: formou-se em arquitetura e foi trabalhar na loja da família.


O que começou aos 17 anos, com obrigação profissional na Abatjour de Arte, no Ponteio Lar Shopping, onde atendia clientes, evoluiu como a própria identidade do negócio, agora conhecido como A.de Arte.


Atualmente, ela é responsável pela linha internacional das marcas que abastecem a loja – peças inglesas, italianas, francesas – e continua acompanhando Adriana nas mostras decorativas que a empresa tem participado em São Paulo, Brasília e Rio de Janeiro.


“Natália sempre foi calma, focada e muito disciplinada, e nossa convivência é muito fácil e leve. Cada uma cuida de um setor, independentemente, mas trocamos ideias sempre que precisamos da opinião uma da outra. A gente se encontra em casa e nem lembramos que trabalhamos juntas”, revela Adriana. Desde que a filha se tornou uma influencer de prestígio, as duas são vistas, constantemente, posando para campanhas de várias marcas de moda.


“Adoro esta oportunidade que ela está tendo, vivendo esse momento anos 2000 digital, porque eu também tive minhas oportunidades, como participar do Showçaite e outros eventos sociais na minha época, e aproveitei muito”, observa a mãe orgulhosa.


Natália, por sua vez, se desmancha em elogios, nas redes sociais, pelo modo de encarar o mundo de Adriana, que é conhecida pela animação e alegria, além do refrão “a vida não tem replay”.


Eloi, o mais velho dos filhos, também trabalha na A.de Arte, na área financeira. “Minha família é muito unida, os irmãos são amigos, viajamos juntos com a família que eles constituíram, é sempre muito divertido. Além disso, temos valores em que acreditamos e praticamos, como transparência, lealdade e gratidão, e uma base religiosa, que é nosso alicerce. Desta forma, tudo fica mais fácil, inclusive os problemas que todo mundo tem”, garante a empresária.

 Magda Gazinelli e os filhos Pedro e  Julio

Magda Gazinelli e os filhos Pedro e Julio

Alexandre Guzanshe/EM/D.A. Press

Conquista de espaços

O que leva dois irmãos gêmeos a percorrerem o mesmo caminho? Júlio é formado em engenharia automotiva em Turim, na Itália; Pedro, graduado em design de interiores, cursou relações internacionais no mesmo país e acreditava que seu futuro estava na diplomacia.


Resumo da história: ambos deixaram de lado as carreiras e trabalham na Confeitaria Avellan sob o guarda-chuva da mãe, Magda Gazinelli. A princípio, encontraram muita resistência materna. “Ela achava que era uma vida sacrificante, mas eu sempre acreditei no potencial do negócio”, afirma Pedro.


Magda sabia bem do que estava falando porque também passou por uma transição de carreira, do turismo para a área de alimentação. Em 1990, abriu uma loja, um mix de lanchonete e confeitaria, na avenida Bernardo Monteiro, em sociedade com a irmã. A inspiração eram as saborosas receitas da mãe, que sempre recebia a família com doces deliciosos. “Minha avó era uma grande anfitriã e, até hoje, inspira muito meu trabalho. Acho que vem daí o meu interesse em gastronomia”, observa Pedro.


O ponto de conciliação foi dividir as obrigações por área: ele é o gerente de operações, cuida da loja, das vitrines, do atendimento aos clientes, dos funcionários, da área de eventos e da cozinha. Faz parte também do seu ofício a inovação das receitas de acordo com as tendências internacionais da confeitaria.


O trabalho é intenso, porque a empresa cresceu: dos 200 metros quadrados, ocupa um prédio de cinco andares, com mil metros quadrados, completamente equipado, localizado na mesma avenida: de oito funcionários, hoje são 29. Cerca de 90% do que se consome, dos salgados ao almoço executivo, é produzido na loja.


Júlio, por sua vez, cuida da área administrativa-financeira. E Magda fica responsável pelas compras. Experiente, domina todas as manhas do ofício: conhece os fornecedores, examina o que recebe, reclama do que não está bom, sabe a quantidade exata a ser pedida, para evitar desperdícios, aproveita as promoções do dia.


“Relacionar com os filhos no trabalho tem seus altos e baixos. Na minha idade, eu fico freando e eles sempre querendo inovar. Acho que é natural discordar, são duas gerações”, ela confessa. Se no início, as dificuldades de lidar com a mãe existiam, aos poucos Pedro ganhou mais poder de decisão: “Foi um ajuste de tempo. O importante é que me sinto realizado com o que faço”, explica