Quem conhece Gustavo Greco não imagina que está diante de um dos maiores colecionadores de prêmios nacionais e internacionais de design do país. E além de concorrer aos prêmios, o profissional também compõe o juri de diversos prêmios internacionais. Mas este designer mineiro, apesar de todo orgulho que tem de sua empresa, equipe, trabalho e prêmios, não deixa o sucesso subir à cabeça. Continua sendo o mesmo rapaz simples, acessível, simpático de quando começou.


Dia 29 de abril ele estará em Berlim para receber o IF Gold, do IF Design Award, um prêmio alemão que existe desde 1954, considerado a organização de design independente mais antiga do mundo. Este ano foram quase 11 mil trabalhos inscritos, de 72 países, e apenas 75 ganharam o Gold. Eles buscam pelos projetos de maior destaque no mundo.

Como foi ganhar o prêmio máximo do IF Design Award?
Nós já ganhamos IF Design Award 11 vezes, mas neste ano ganhamos uma distinção. Dentro dos premiados eles escolheram 75 dos 11 mil projetos para os quais eles deram o IF Gold Award, que é o nosso quarto, e recebemos a informação que a Greco se tornou a empresa brasileira que mais tem Ouro na história da premiação. É lógico que tem todo esse glamour, vamos para Berlim receber o prêmio, mas acho que o mais importante é, Minas nesse palco. Sempre enfatizo, a gente levando um trabalho tão relevantede Minas Gerais.

Como foi fazer este trabalho em especial?
Estamos falando de um trabalho que tem um caráter social e político fundamental porque fala de uma das maiores tragédias do Brasil, e talvez do mundo, são 272 pessoas mortas, negligentemente. Não é um acidente, é uma tragédia. Termos a oportunidade de fazer um projeto de design, entender como o design poderia contribuir para isso foi especial. Foram dois anos e meio de trabalho com um grande parceiro que é o Gustavo Penna. A gente já trabalha com ele há mais de 20 anos, foi muito especial. Tudo muito especial, muito sensível. Lembro de muitas pessoas da minha equipe ficarem mal quando investigávamos os vídeos, a história, porque somos humanos. Foi sofrido e muito delicado. Inclusive, era uma premissa do design que ele fosse quase silencioso. Queríamos fazer aquele projeto de sinalização, criar aquela identidade, mas de um lado quase num mimetismo com a arquitetura do Gustavo Penna, as formas dos equipamentos de sinalização bebem dos ângulos da arquitetura. Pegamos os desenhos do Gustavo e desenhamos os equipamentos de sinalização. São feitos de aço corten e quase se misturam com o tom das paredes.

O que você destaca neste projeto?
O ponto alto desse projeto são dois fatores bem relevantes. Um foi o fato de termos tido autorização de criar uma tipologia exclusiva para o Memorial. Chamamos o Daniel Sabino, da Blackletra, que desenhou uma tipografia baseada nos tipos cravados em pedra que vemos em espaços de memória. O Daniel estuda isso, e sob a direção da Greco ele desenhou uma tipografia que tem suas versões com serifa, sem serifa e Alma, e nasceu a Brumadinho. A Alma é exatamente a estrutura da letra quando observamos características comuns nos caracteres. A tipografia Brumadinho foi usada em todo sistema de sinalização.

Qual é o outro ponto?
Outro ponto que acho muito bonito é que o Gustavo Penna plantou 272 Ipês Amarelos ao longo do Memorial, um para cada vítima. Nós pegamos a flor do Ipê, que é símbolo de Minas, e do Brasil, uma árvore que floresce na seca, como um símbolo de resiliência, como uma mensagem “apesar de tudo a vida continua. Fica seco, dói, o galho fica exposto, mas o ano que vem floresce de novo”. Pegamos essa flor e usamos como símbolo da identidade, transformamos como uma espécie de luminária, que se acende ao longo do percurso de 230 metros como uma procissão.

E como foi a apresentação?
A apresentação para a AVABRUM – Associação dos Familiares de Vítimas e Atingidos pelo Rompimento da Barragem Mina Córrego do Feijão – foi no meio da pandemia. Todos da equipe de trabalho já tinham ficado nervosos, chorado, mas eu estava aguentando as pontas. Mas passei mal um dia antes. No dia fiquei muito nervoso. Foi on-line, todo mundo com câmera desligada. Eu falando 40 minutos, eles vendo os slides e eu falando “sozinho”. Estava ansioso para alguém fazer alguma pergunta no meio, e nada. Silêncio. Parei a apresentação, uma pessoa abriu a câmera e falou: “a gente pode não ter entendido muito do que você falou tecnicamente, mas sabemos o quão importante é termos uma letra só nossa”. O design se justifica nessa hora. Meu olho encheu de água, todo mundo abriu a câmera e estavam todos emocionados. O projeto não teve ajuste nenhum. A letra é cravada na pedra, fizemos a alma da letra em aço corten, aplicada dentro da tipografia vazada. É muito bonito, elegante.

Este é o prêmio mais importante que recebeu, ou tem outro?
Traçamos uma história da empresa pautada em premiação em função de sermos um escritório de design de Belo Horizonte. Os prêmios significam um aval de um juri composto por profissionais notórios de vários países que o trabalho da Greco tem um nível internacional. Participamos de prêmios para isso. Temos esses selos todos para provar isso. Esse ano, até agora, este foi o prêmio mais importante. Ganhamos um prêmio em Cannes, em 2012. Por ser o maior festival de criatividade do mundo e ter sido no início de nossa história, foi muito especial. Ganhamos com esse projeto o Gran Prix, o prêmio máximo do Brasil Design Award, da AB Design. O projeto que eu mais gosto, sempre é o que estou fazendo agora, tenho tentado cada vez mais a presença do agora.

Nunca pensou em ir para São Paulo? O que te mantêm em BH?
Se todo mundo que tem um trabalho relevante sair daqui, aqui nunca vai ser o que a gente gostaria que fosse. Eu falo sempre “eu não quero mudar daqui, eu quero mudar o aqui”. Temos excelência em diversas áreas e isso nunca impediu ninguém de fazer trabalhos para clientes de fora. É muito bom morar aqui, voltar de Berlim com um prêmio desse para Belo Horizonte. 

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