Com uma voz serena e afável, quase hipnótica, ela vai destrinchando o que enxerga no mapa astral. Desde que a designer e publicitária Ana Luiza Gomes, de 41 anos, assumiu profissionalmente a astrologia, tornou-se Ana Astros, uma das astrólogas mais badaladas de Belo Horizonte. Pouco afeita a vídeos, ela encontrou um jeito único de trabalhar: faz as leituras em áudios, que, de tão magnéticos, são usados para relaxar e dormir. Mais que acertar datas, Ana quer ajudar as pessoas a lidar com as emoções.

O que fez você se interessar por astrologia?
Sempre gostei do assunto. Quando era pequena, na minha memória tinha uns seis, sete anos, ia a um pediatra que dava receita olhando o mapa e falou uma frase muito marcante para mim, uma das poucas lembranças de infância: “você vai ser escritora e vai publicar muitos livros”. Na época, gostava de escrever, escrevia uma história por semana para a minha mãe, mas a minha vida foi para um lado muito diferente. Fui para o design, a moda, mas até na moda sempre era a pessoa que pensava nas palavras que estariam numa t-shirt. Em 2017, acabei passando por uma demissão em massa e pensei: quero fazer uma coisa completamente diferente. Comecei a estudar astrologia e a ler mapas muito rapidamente. A astrologia é uma linguagem, uma maneira de ler o mundo que me caiu muito fluente, é como se eu falasse inglês e astrologia. Fui estudando cada vez mais e entendi que a astrologia é um conhecimento infinito.

Qual caminho você quis seguir na astrologia?
Existem muitas astrologias, cármica, védica, ocidental, moderna, mundana..., muitas formas de olhar para os planetas. Aplico a astrologia moderna, que é muito diferente da tradicional, porque lê planetas ou astros descobertos recentemente, como Netuno, Plutão e Urano. Só de ter mais três planetas faz diferença, mas não é só isso. As interpretações são diferentes. A astrologia moderna tem uma maneira de ler planetas que não fica tanto entre maléfico e benéfico. Vênus já foi extremamente malvisto porque tinha uma interpretação da mulher que causa desejo. Hoje é super bem-vindo, falamos como ganhar dinheiro através de Vênus. As técnicas também são diferentes. Por exemplo, a forma de lidar com a Revolução Solar. É muito interessante ver a perspectiva histórica que as várias astrologias vão contando, isso me interessa. No fundo, sou uma profunda estudiosa de astrologia, não sei se sou uma astróloga.

Como foi o seu processo de transição de carreira?
Nunca imaginei ser astróloga. Quando fiz o primeiro curso, queria mais entender uma leitura astrológica muito tóxica do meu mapa. Falava que o meu marido ia morrer. Depois, estudando, entendi onde a astróloga foi encaixando as coisas e achei que poderia ter outras formas de olhar para esse saber. No começo, é um exercício, eu brincava, lia o mapa de uma amiga e de outra. Depois comecei a ler muitos mapas e as pessoas começaram a me procurar. Isso se consolidou em 2020. Na pandemia, tive vários projetos de design cancelados, aí lancei o site e o Instagram. Achei que fosse ser dos bastidores, mas fui me encantando pela escrita, aí me lembrei do pediatra e continuei a escrever. Acho gostoso pensar a minha escrita astrológica. Como comecei na pandemia, tive o desejo de fazer as leituras por áudios, vídeo não é para mim. Pensei: ninguém vai querer, todo mundo quer ver a cara da astróloga. Mas me surpreendi muito. Minhas clientes não abrem mão dos áudios. As pessoas começaram a ouvir para relaxar e dormir. Tem um quê de tom terapêutico na minha voz. Nunca imaginei isso, mas virou minha forma de trabalho. Acho mais sustentável a longo prazo. Mapa não é um serviço barato e não queria que fosse só uma consulta. Queria que a pessoa tivesse o áudio para ouvir. Tem gente que ouve depois de três anos, as palavras vão se decantando. Voltando à sua pergunta, não foi bem uma transição, falo que tenho duas carreiras. Continuo trabalhando como designer, nunca parei, sempre fiz consultoria e no atual momento estou terminando um mestrado em design. Achei que enfrentaria preconceito por ser astróloga, mas é o oposto do que imaginava, as pessoas ficam admiradas.

Por que devemos fazer um mapa astral?
O mapa é o cálculo do momento exato em que você nasceu, local, data e horário do nascimento. Ele mostra uma alquimia de elementos, não somos um signo só. Somos um céu inteiro, estrelas e cometas e tudo mais que nos guiam. Você tem 12 signos no mapa, inclusive aquele que não suporta. Quando olhamos para o mapa, vemos basicamente como foi a gestação, muito do parto, às vezes até a concepção. Explico que fazemos um desenho de relevo. Começo a enxergar se tem montanha ou lagoa no seu caminho. Se você vai escalar ou vai dar a volta, a decisão é sua. Gosto mais de trabalhar as perguntas que o mapa levanta do que vai acontecer isso na data tal. Filho pode significar angústia ou alegria e essa emoção que marca o momento me interessa mais, porque fica por muito mais tempo, reverbera. Isso é mais importante do que acertar data, não sou aficionada nessa ideia. Quero saber desse espectro que é a vida, e a vida não são datas. A astrologia pode te ajudar a enxergar coisas, passar por momentos, ver o que você tem de melhor, encorajar. Como adoro ser pitaqueira, por esse meu lado de design, do olhar criativo, começo a dar mil ideias: já pensou em ter uma fundação, por que não trabalhar em parceria com fulano? Essas ideias reverberam nas pessoas, em lugares que não estavam acessando. Falei para uma cliente transformar o momento de angústia em livro. Ela virou escritora e lançou um livro em Paraty.

Você contou de uma experiência desastrosa com uma leitura do seu mapa astral. Hoje, como astróloga, o que faz para abordar momentos difíceis da vida do outro?
Essa é uma pergunta que eu vivo a responder. Nunca leio uma morte. Vou preparando o terreno para dizer: sua relação com pai e mãe vai mudar, permaneça com eles, esteja mais próximo. Não temos certeza de nada, mas, às vezes, não é uma morte física. Passamos por tantas mortes na vida, inclusive nossas, depois que um filho nasce, mudamos de país, perdemos o emprego. Vamos vivendo lutos e novos começos ao longo da vida. Existem abordagens astrológicas que são fatalistas, mas não levo a astrologia para esse lugar. Penso sempre o que posso trazer de importante para o momento que a pessoa vai viver.

A astrologia pode mudar o mundo?
Acho que a astrologia muda muito o meu mundo e tenho retorno de que muda o mundo das pessoas. Muita gente me diz que tem vontade de fazer as coisas depois do mapa, dá uma inquietude. Brinco que, se depois de ler o mapa, a vida não mudou, tem algo errado, é para movimentar. Atendo 99% de mulheres, então estou lidando com pessoas que precisam de encorajamento, de lembrá-las que não são invisíveis, são autoras, autônomas, donas da sua trajetória, têm poder, iluminação. Trabalhar com mulheres me interessa, e isso muda o mundo. n

compartilhe