Ayrton Gil e o pai Pedro Guimarães são admiradores do tricampeão Senna -  (crédito: Jair Amaral/EM/D.A Press)

Ayrton Gil e o pai Pedro Guimarães são admiradores do tricampeão Senna

crédito: Jair Amaral/EM/D.A Press

Ailton do Vale

Assim como no futebol, em que a paixão por um clube perpassa gerações com o incentivo familiar, o amor por um ídolo mundial do automobilismo segue vivo três décadas depois de sua morte. Ávidos por manter o legado de Ayrton Senna da Silva, jovens pilotos almejam representar o país na Fórmula 1 e resgatar os tempos áureos do Brasil na categoria mais prestigiada do esporte a motor.
Hoje, completam-se 30 anos do trágico acidente que vitimou Senna no Grande Prêmio de San Marino, no autódromo Enzo e Dino Ferrari, em Ímola, na Itália. A bordo da Williams FW16, na sétima volta, o tricampeão mundial perdeu o controle do veículo na curva Tamburello e bateu no muro.

Nascidos no início dos anos 2000, as promessas do automobilismo brasileiro Ayrton Gil e Rafaela Ferreira não experienciaram o luto da perda de Senna em 1994, mas suas vidas e carreiras são profundamente influenciadas pelo legado deixado pelo ídolo da F1.
O belo-horizontino Ayrton Gil, de 20 anos, por exemplo, carrega no primeiro nome uma homenagem ao piloto brasileiro, dada por seu pai, o empresário Pedro Guimarães, que é um aficionado pela trajetória de Senna. Coincidentemente, o filho se tornou piloto de kart.

"Sempre acopanhei muito a Fórmula 1, em especial o Ayrton Senna. Então tive o prazer de colocar o nome do meu filho em homenagem ao Ayrton. Com seis anos e meio, ele veio brincar numa pista de kart, gostou e com sete anos, mirim ainda, foi campeão invicto da Copa Sudeste. Ganhou em Minas, São Paulo, Espírito Santo e Rio de Janeiro. De verdade, eu não tinha essa ideia de que ele se tornaria piloto. Inclusive, quando ele foi numa pista de kart pela primeira vez, foi apenas para assistir a irmã mais velha andar", conta Guimarães.

A compreensão sobre a importância de Senna surgiu em Ayrton Gil ainda na infância, poucos dias depois de dirigir um kart pela primeira vez numa pista em Vespasiano, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Para ele, que hoje é nove vezes campeão mineiro, carregar o mesmo nome do ídolo é motivo de orgulho, porém, também uma responsabilidade.

"Um nome icônico e muito grande na Fórmula 1, ao meu ver o Senna foi o maior. Não por números, mas sim pelo que fez na história da categoria. Ter o mesmo nome é uma responsabilidade muito grande, né? Fico muito agradecido por isso", disse.

"Desde pequeno, em todos lugares onde vou e falo meu nome, eles lembram do Senna. Todo mundo associa. Aí falam que meu pai me deu esse nome para ser piloto. Não foi não. Foi realmente vontade minha", ressalta Ayrton Gil.

Evidentemente, o piloto sonha em disputar a Fórmula 1, que não tem um brasileiro titular há seis anos. O último foi Felipe Massa na temporada de 2017 - correu até novembro daquele ano. Para encerrar essa sina, o jovem mineiro projeta alcançar uma prestigiada vaga na F1 em 2026.

Contudo, ele precisa passar primeiro pelas categorias de base. A Fórmula 4 Brasil, criada no país em 2022, regulamentada pela Federação Internacional de Automobilismo (FIA), pode ser o próximo caminho. O campeonato vale pontos para a obtenção da superlicença para pilotar na F1.

"O sonho de todo piloto é chegar na Fórmula 1. Se tudo der certo, penso que em 2026 posso chegar lá. Tem a trajetória, né? Hoje em dia tem a Fórmula 4, a 3 e a 2 para chegar na 1. Não dá para ter certeza do que vai acontecer, mas Deus está no comando. Tenho essa meta e conforme o tempo vamos caminhando para que tudo aconteça", intenciona.


Protagonismo feminino inspirado em Senna

Rafaela Ferreira, de 19 anos, é outra promessa do esporte que se inspira em Senna. Nascida em Criciúma, Santa Catarina, a pilota começou a se interessar por automobilismo desde cedo, graças à influência da família. Ela é hoje um dos grandes nomes da Fórmula 4 brasileira e está na segunda temporada pela equipe TMG Racing.

Em 2023, se tornou a primeira mulher a subir no pódio e, neste ano, marcou seu nome na história da categoria novamente ao conquistar duas vezes a pole position na etapa de Interlagos, em abril.

Atualmente, Rafaela está na terceira colocação da classificação geral após duas etapas da F4. A pilota conta que, quando começou a correr, seu pai a incentivava mostrando vídeos de Ayrton Senna, principalmente as celebradas corridas na chuva, situações em que o brasileiro se destacava ainda mais.

"Quando eu comecei a correr no kart, lembro que não gostava muito de andar na chuva, então meu pai sempre trazia os vídeos do Ayrton Senna nas corridas, mostrando ele ultrapassando todo mundo. Acabou que o Senna entrou na minha vida", relata.

A pilota relembra ainda que, a partir desse incentivo paterno, começou a pesquisar informações sobre a vida e personalidade de Senna. "Eu comecei a buscar mais, a procurar detalhes sobre a vida dele, a assistir a corridas, assistir às entrevistas, e ele acabou se tornando um ídolo. Não só para mim, mas com certeza para todos os jovens. Ele é o maior ídolo hoje do Brasil no automobilismo. Fico muito feliz que um brasileiro andou bem na Fórmula 1 e era uma pessoa muito boa", disse.

Na história da F1, desde 1950, apenas cinco mulheres pilotaram os monopostos da categoria em um Grande Prêmio. São elas: as italianas Maria Teresa de Filippis (pioneira no esporte que correu entre 1958 e 1959 ), Lella Lombardi e Giovanna Amati; a britânica Divina Galica; e a sul-africana Desiré Wilson.

A última a correr foi Giovanna Amatti, em 1992, pela extinta Brabhan. Desde então, outras mulheres trabalharam nos bastidores da Fórmula 1 como pilotas em testes de equipes, entretanto, não chegaram a competir em um GP. Contudo, atenta ao cenário, a jovem Rafaela Ferreira está esperançosa com uma mudança de paradigma.

Segundo ela, com o interesse das mulheres pelo esporte, conciliado com iniciativas como a F1 Academy - competição feminina, que está em sua segunda temporada, em 2024 - as chances de uma pilota correr na F1 ainda são escassas, porém, mais prováveis em comparação com os últimos anos.

"Como o automobilismo começou sendo um esporte só para homens, acredito que é por isso que hoje temos poucas mulheres competindo. Mas tenho visto nos últimos dois, três anos um ingresso muito grande de mulheres, principalmente na área de mídia, nos bastidores, engenheiras...", salienta Rafaela Ferreira.

"Como estou há 11 anos na modalidade, consigo ver isso porque normalmente eu era a única mulher e agora tem mais meninas correndo. Como já é difícil para um menino chegar na Fórmula 1, dez mil pilotos, por exemplo, correm no mundo todo e apenas 20 chegam na F1, então para as meninas acaba se tornando muito mais difícil. Precisamos achar um piloto completo. Tem que ser bom, talentoso, tem que ter dinheiro, que é importante também, se comunicar e entender o carro", pondera.