O Brasil se consolidou em 2025 como o maior mercado de criptoativos da América Latina e o décimo no ranking global, de acordo com a Chainalysis. Esse protagonismo resulta de uma combinação de avanços, como a regulação cripto no Brasil, a entrada massiva de bancos tradicionais e o amadurecimento de projetos de infraestrutura blockchain no país.

Ao mesmo tempo, as mudanças na tributação começam a criar incertezas sobre a atratividade do mercado doméstico e levantam o risco de deslocar parte da atividade para o exterior. Como aponta o Relatório de Blockchain na América Latina 2025, da Sherlock Communications, o país vive um momento decisivo entre consolidação e risco de fuga de capitais.

Adoção em larga escala e entrada do setor bancário

A regulação cripto do Brasil abriu espaço para que milhões de investidores experimentassem o setor de forma segura. Pesquisas recentes mostram que cerca de 4% dos brasileiros, 6,5 milhões de pessoas, possuem criptoativos, enquanto aproximadamente 16% já investiram em algum momento.

Até 2023, a adoção era liderada por exchanges e ETFs. A partir de então, com a entrada em vigor da lei de ativos virtuais, bancos como Itaú, Nubank, BTG Pactual, Banco Inter e Santander passaram a oferecer compra e custódia de criptoativos diretamente em seus aplicativos. Já o Bradesco e o Banco do Brasil ampliaram o acesso por meio de ETFs e fundos específicos. Esse movimento evidencia como a regulação acelerou a integração entre finanças tradicionais e o universo Web3.

Stablecoins e rampas em dólar

As stablecoins já ocupam posição central no mercado brasileiro. O Mynt, do BTG, tornou-se a principal rampa para USDC, enquanto o banco também lançou o BTG Dol, sua stablecoin própria. O Nubank passou a oferecer rendimento em USDC e ferramentas de swap, e o Itaú considera emitir um ativo digital próprio.

Essa expansão só foi possível devido à regulação cripto do Brasil, que trouxe clareza jurídica para bancos e fintechs. No varejo, o uso de stablecoins cresce em aplicações que vão de poupança em dólar digital a transferências internacionais, além de novos meios de pagamento.

Tokenização e o DREX

O país também desponta na tokenização de ativos reais (RWAs). Plataformas como Liqi, Foxbit e Mercado Bitcoin oferecem tokens de precatórios e recebíveis, ampliando o acesso de investidores.

O DREX, moeda digital do Banco Central, continua em desenvolvimento, com o objetivo de permitir a liquidação programável de títulos e ativos imobiliários. Apesar dos atrasos ligados à privacidade de dados, o projeto simboliza como a regulação integra blockchain ao sistema financeiro tradicional.

Ao mesmo tempo, a Rede Blockchain Brasil (RBB), coordenada pelo BNDES e pelo TCU, busca criar infraestrutura pública baseada em blockchain para aumentar a transparência em serviços governamentais.

Casos corporativos e supply chain

Adoções corporativas também ganham espaço. A Méliuz se tornou a primeira empresa listada na B3 a converter parte de sua tesouraria em Bitcoin. O Mercado Livre aumentou sua posição em BTC em 38% em 2025 e lançou o Meli Dólar, stablecoin atrelada ao dólar disponível no Mercado Pago.

Na indústria da moda, empresas como a Riachuelo exploram blockchain em cadeias de fornecimento, promovendo rastreabilidade e transparência em conformidade com padrões ESG.

Brasil lidera o mercado de criptoativos na América Latina, mas endurecimento tributário pode enfraquecer o setor

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Tributação como desafio

Embora a regulação cripto do Brasil tenha aberto portas para crescimento e expansão, a tributação mais rígida gera preocupação. Desde 2024, lucros obtidos em exchanges no exterior passaram a ser taxados em 15%. Em 2025, foi aprovada a extinção da isenção mensal de R$ 35 mil para ganhos em cripto, substituída por uma alíquota única de 17,5%.

Além disso, o IOF-Câmbio foi elevado para 3,5% em transferências ao exterior e carregamentos de cartões internacionais. Embora operações locais com reais e stablecoins não sejam atingidas, a pressão sobre transações cross-border é clara.

O risco é que investidores e empresas migrem para plataformas offshore, acessíveis com apenas um celular e conexão à internet. Essa tensão entre arrecadação fiscal e competitividade é hoje um dos pontos críticos da regulação cripto do Brasil.

Ajustes esperados no mercado

Esse cenário leva a alguns movimentos de adaptação:

  • rampas locais fortalecidas, oferecendo conversões BRL/USDT com menor impacto tributário;

  • tokenização com compliance integrado, incluindo KYC/AML e auditoria on-chain desde a emissão;

  • popularização de ferramentas de tax-reporting que automatizam a apuração de ganhos em swaps e staking;

  • custódia regulada e provas de reservas como diferenciais de confiança.

Inclusão social e ReFi

O Brasil também lidera iniciativas de impacto social baseadas em blockchain. Projetos como Muda Outras Economias, Ekonavi e AgroforestDAO mostram o potencial das finanças regenerativas (ReFi).

O movimento Regen Rio, articulado pela Green Pill Brasil, utilizou o Gitcoin para captar recursos em escala descentralizada. Já o Dominó do Bem, lançado pela Sherlock Communications, conecta ONGs brasileiras a doadores globais com rastreabilidade total das transações.

A regulação cripto do Brasil coloca o país em posição de liderança regional e abre portas para a integração entre bancos, startups e governos. No entanto, o endurecimento tributário pode comprometer parte desse avanço e empurrar fluxos para o exterior.

Se conseguir equilibrar inovação, segurança jurídica e eficiência fiscal, o país poderá se consolidar como um dos principais hubs de criptoativos da América Latina. Caso contrário, a vantagem construída nos últimos anos pode ser perdida para vizinhos que oferecem regras mais claras e menos onerosas.

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