Alguns empregadores tentam compensar a perda de flexibilidade que os funcionários vêm priorizado nos últimos anos -  (crédito: Getty Images)

Alguns empregadores tentam compensar a perda de flexibilidade que os funcionários vêm priorizado nos últimos anos

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Embora muitas empresas ainda ofereçam a opção de trabalho híbrido ou remoto, cada vez mais empregadores estão exigindo que seus funcionários voltem ao escritório em tempo integral.

A Boeing, a UPS e o JPMorgan Chase estão entre as grandes companhias que voltaram a impor o trabalho presencial cinco dias por semana.

Mas para algumas destas empresas, a volta total dos trabalhadores ao escritório tem um preço alto.

Este é particularmente o caso dos EUA, que registraram a mudança mais drástica para o regime de trabalho flexível — em janeiro de 2024, cerca de 29% de todos os dias trabalhados remunerados ainda eram trabalhados a partir de casa.

"Os empregadores que não conseguem competir em termos de flexibilidade, vão ter que competir de forma mais agressiva em termos de remuneração", afirma Julia Pollak, economista-chefe da ZipRecruiter, com sede na Califórnia.

 

 

O resultado é que os salários nos EUA para empregos presenciais em tempo integral estão aumentando.

De acordo com dados da ZipRecruiter, aos quais a BBC teve acesso, as empresas estavam oferecendo em média US$ 82.037 para funções totalmente presenciais em março de 2024 — um aumento de mais de 33% em relação a 2023 (US$ 59.085).

A tendência é intersetorial: em comparação com funções híbridas (US$ 59.992) e completamente remotas (US$ 75.327), os trabalhadores parecem ter uma chance maior de aumentar seus salários retornando ao esquema padrão anterior à pandemia de covid-19.

Parte disto é para compensar a perda de flexibilidade que os trabalhadores vêm priorizando nos últimos anos — quanto maior o esforço para abrir mão desta autonomia, mais os empregadores vão ter que oferecer para compensar.

Os dados da ZipRecruiter mostram que os trabalhadores que mudaram de esquemas de trabalho totalmente remotos para totalmente presenciais nos EUA até 2023 receberam um aumento salarial de 29,2% — quase o dobro daqueles que migraram no sentido contrário.

Homem de terno sorrindo
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Alguns empregadores tentam compensar a perda de flexibilidade que os funcionários vêm priorizado nos últimos anos

"A conclusão é que as pessoas exigem aumentos salariais mais elevados para trabalhar exclusivamente no escritório", diz Pollak.

"Um empregador que oferece flexibilidade pode negociar o pacote geral de remuneração com incentivos não monetários, enquanto um empregador que deseja equipes no local de trabalho cinco dias por semana só pode oferecer incentivos financeiros — um valor em dólares é atribuído ao tempo que se passa no escritório."

No Reino Unido e na Europa, a disponibilidade de trabalho remoto tem sido mais escassa — por exemplo, uma pesquisa realizada em outubro de 2023 com 15 mil empregadores e empregados no Reino Unido mostrou que 43% dos trabalhadores haviam voltado a esquemas de trabalho totalmente presenciais.

Isso significa que a tendência de um pagamento extra pelo trabalho presencial deve ser mais fraca do que nos EUA, diz Pollak.

No atual clima de redução de custos, oferecer flexibilidade aos funcionários em vez de um aumento salarial parece uma vitória para ambas as partes.

No entanto, apesar disso, alguns empregadores estão dispostos a aumentar suas folhas de pagamento em troca de escritórios cheios, porque acreditam que vale a pena — a despesa, segundo eles, vai levar a resultados melhores nos negócios, diz Pollak.

"Entre alguns empregadores, pode haver a percepção de que os trabalhadores remotos são menos produtivos", acrescenta.

Muitos também estão "comprometidos psicológica e financeiramente com seu patrimônio empresarial" — querem ocupar seus locais de trabalho a qualquer custo.

Funcionários em reunião em escritório
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Manter os escritórios cheios pode custar caro para os empregadores — mas algumas empresas acreditam que vale a pena

De acordo com Barbara Petrongolo, professora de economia na Universidade de Oxford, no Reino Unido, esta discrepância salarial tem uma consequência indesejada — pode reforçar as desigualdades no mercado de trabalho.

"Aqueles com responsabilidades familiares tendem a preferir flexibilidade, e são desproporcionalmente as mulheres. Portanto, se os empregos mais bem remunerados oferecem menos flexibilidade, alguns setores da força de trabalho são forçados a abrir mão de oportunidades com salários mais altos."

Se os empregadores quiserem realmente que os seus funcionários trabalhem no escritório, é provável que o atual pagamento adicional oferecido por uma semana de trabalho totalmente presencial se mantenha por um tempo, preveem os especialistas — já que não há sinais de que os esquemas de trabalho flexível estejam acabando.

Por exemplo, os dados de março de 2024 da ZipRecruiter mostram que cerca de 33% das vagas profissionais e de serviços empresariais nos EUA são anunciadas como trabalho híbrido ou remoto.

"Os trabalhadores ainda querem flexibilidade, e há muitos empregos que anunciam a possibilidade de trabalhar de casa pelo menos dois dias por semana", diz Petrongolo.

"Portanto, para impor condições de trabalho inflexíveis e desfavoráveis ao funcionário, os empregadores vão ter que continuar a pagar mais."

Leia a íntegra desta reportagem (em inglês) no site BBC Worklife.