A frequência do banho nem sempre está relacionada à higiene. Para o médico James Hamblin, nossa obsessão por limpeza pode estar ligada mais a convenções culturais e marketing do que a necessidades de saúde reais.
Hamblin passou anos estudando o tema e chegou à conclusão de que é possível viver com menos banhos sem comprometer a saúde, desde que práticas básicas de higiene, como lavar as mãos, sejam mantidas.
O que levou um médico a parar de tomar banho por cinco anos?
Motivado por curiosidade científica, o Dr. Hamblin decidiu reduzir drasticamente os banhos e documentou tudo no livro Clean: The New Science of Skin. O objetivo era investigar os efeitos reais da limpeza sobre o corpo.
Durante o período, ele testou diferentes produtos e rotinas e percebeu que a pele pode se reequilibrar, adaptando-se a um novo padrão de cuidados menos agressivo.
Produtos de higiene pessoal são realmente indispensáveis?
Embora úteis, sabonetes e shampoos estão longe de serem indispensáveis em todas as situações. A força mecânica da água já remove boa parte da sujeira comum, segundo Hamblin.
Ele destaca que grande parte dos produtos servem apenas para perfumar e criar uma sensação estética — não necessariamente para prevenir doenças.

Como o banho afeta o microbioma da pele?
O microbioma da pele é uma comunidade de microrganismos que ajudam a manter o equilíbrio cutâneo. Banhos excessivos e uso frequente de sabonetes podem prejudicar esse ecossistema.
Ao retirar óleos naturais, o banho interfere na proteção natural da pele, o que pode agravar quadros como acne, eczema e ressecamento crônico.
Higiene é o mesmo que limpeza corporal?
Segundo Hamblin, higiene é prevenir doenças, enquanto limpeza envolve sensações e hábitos culturais. Lavar as mãos após usar o banheiro é essencial; ensaboar-se da cabeça aos pés diariamente, não.
A diferença entre os dois conceitos é fundamental: manter hábitos higiênicos básicos protege a saúde, mesmo que a frequência de banhos completos seja menor.
Existe uma definição universal de “banho completo”?
Não. Para algumas pessoas, um banho rápido de dois minutos é suficiente. Para outras, envolve rituais longos com múltiplos produtos. A percepção de “banho ideal” é totalmente subjetiva.
Essa definição varia com hábitos aprendidos na infância, contexto social e até influência da mídia. O importante é adequar a rotina à saúde da pele e estilo de vida.
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O marketing molda nossos hábitos de banho?
Sim, e muito. A indústria de cosméticos investe fortemente em campanhas que associam limpeza à aceitação social, o que reforça a ideia de que banhos diários são obrigatórios.
Isso gera uma pressão social que, muitas vezes, ignora as necessidades reais do corpo — e pode causar julgamentos contra quem adota hábitos diferentes.
Há diferença real entre sabonetes caros e baratos?
Para Hamblin, a diferença entre marcas está mais em fragrâncias e embalagens do que na composição funcional. Sabonetes variam pouco quimicamente entre si.
Se sua pele responde bem a produtos simples, optar pelos mais baratos pode ser uma escolha inteligente e sem perda de qualidade.
A pandemia mudou nossa relação com o microbioma da pele?
Sim. Durante a pandemia, a prioridade foi eliminar germes a qualquer custo. Isso reduziu o interesse por preservar o microbioma, que voltou a ganhar destaque apenas recentemente.
Campanhas que promovem microrganismos benéficos para a pele voltaram a surgir, refletindo uma abordagem mais equilibrada sobre limpeza e saúde cutânea.
- Curiosidade: A pele abriga cerca de 1 trilhão de microrganismos. Manter parte deles vivos é essencial para a imunidade natural do corpo.
- Banhos diários não são prejudiciais, mas podem ser desnecessários para quem tem pele sensível ou seca.