O conceito de economia do cuidado refere-se ao conjunto de atividades e serviços essenciais para sustentar a vida cotidiana, que incluem desde o cuidado com crianças, idosos e pessoas dependentes até a manutenção da casa. Historicamente desvalorizado, esse trabalho é em grande parte realizado por mulheres, sem remuneração ou reconhecimento adequados. Com a mudança de perfil das famílias e o crescente ingresso das mulheres no mercado de trabalho, a economia do cuidado tornou-se um tema central nas discussões sobre igualdade de gênero e políticas públicas.
No Brasil, o tema tem ganhado visibilidade com o lançamento do Programa de Aceleração do Crescimento (Novo PAC) 2023, que inclui o “Cuidado como Trabalho“, um eixo específico voltado para a valorização do trabalho de cuidado, com investimentos em infraestrutura de creches, equipamentos públicos e capacitação de profissionais.
Mães solo enfrentam desafios adicionais

A elas é muitas vezes atribuída a responsabilidade exclusiva por suas famílias. A ausência de políticas sociais abrangentes pode tornar a vida dessas mulheres morosamente desafiadora. É fundamental discutir estratégias e políticas que não apenas ofereçam apoio financeiro, mas também promovam a inclusão social e econômica dessas mulheres.
Um exemplo de política de apoio é o Benefício de Prestação Continuada (BPC), que garante um salário mínimo a pessoas com deficiência e idosos de baixa renda, muitas vezes atendidos por cuidadoras familiares. Além disso, o Bolsa Família — reformulado em 2023 — passou a considerar de forma mais direta a composição familiar e a presença de crianças pequenas, o que beneficia mães solo.
O papel das creches públicas na inclusão produtiva feminina
As creches públicas desempenham um papel crucial na inclusão produtiva feminina, pois oferecem às mães, especialmente às mães solo, a liberdade de buscar emprego, educação ou outras oportunidades de desenvolvimento pessoal. Ao garantir um lugar seguro e dedicado ao desenvolvimento das crianças durante o horário de trabalho, as creches permitem que as mulheres participem do mercado de trabalho de maneira mais equilibrada e eficaz.
O Marco Legal da Primeira Infância (Lei nº 13.257/2016) estabelece diretrizes para políticas públicas voltadas a crianças de até seis anos, com foco no cuidado integral e no apoio às famílias. Essa legislação reforça a importância das creches como instrumento de inclusão social e igualdade de gênero.
A importância de valorizar o trabalho de cuidado
Valorizar o trabalho de cuidado é crucial, não apenas pelo impacto econômico, mas também pela sua dimensão social. O reconhecimento e a valorização podem transformar a visão cultural desse tipo de trabalho, normalmente visto apenas como uma extensão das responsabilidades femininas domésticas.
Iniciativas como treinamento, remuneração justa e benefícios para cuidadores são passos importantes para incrementar essa valorização. Ademais, campanhas de conscientização sobre a importância do cuidado e a promoção da participação dos homens nesse contexto são fatores essenciais para enfrentar desigualdades de gênero históricas.
Desafios na formulação de políticas públicas para a economia do cuidado
A elaboração de políticas públicas eficazes na área da economia do cuidado enfrenta vários desafios. Um dos principais é o financiamento adequado; sem fundos suficientes, é difícil implementar programas amplos e eficazes.
Além disso, existe a necessidade de uma mudança cultural que reconheça esse trabalho como fundamental para o bem-estar da sociedade. Políticas inclusivas, que considerem diferentes realidades regionais e socioeconômicas, são fundamentais para atender a diversidade de necessidades da população.
A interseção entre gênero e economia do cuidado
A economia do cuidado está intimamente ligada às questões de gênero, visto que são as mulheres as principais responsáveis por essas atividades em quase todo o mundo. Isso revela um desequilíbrio nas oportunidades de participação econômica e no acesso à autonomia financeira.
A superação desse cenário requer políticas específicas de incentivo à divisão igualitária das tarefas de cuidado e programas de apoio à formalização e remuneração desse trabalho, promovendo maior igualdade entre homens e mulheres.
Antigamente, havia um entendimento limitado das políticas que promoviam essa igualdade, mas agora há mais esforços para mudar isso.
O impacto da tecnologia na economia do cuidado
O avanço tecnológico tem potencial para melhorar a oferta e a qualidade dos serviços de cuidado, com plataformas digitais que conectam cuidadores e famílias, assim como ferramentas de capacitação a distância.
No entanto, é imprescindível garantir o acesso a essas tecnologias por parte de populações vulneráveis e promover a digitalização de forma que ela beneficie também aqueles que prestam os serviços de cuidado, ampliando oportunidades de geração de renda.
Iniciativas recentes e experiências internacionais

Diversos países têm implementado políticas inovadoras para fortalecer a economia do cuidado, como investimentos em serviços públicos de cuidado e incentivos fiscais para famílias com crianças pequenas ou idosos.
No Brasil, a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) prevê a licença-maternidade de 120 dias, podendo ser estendida por mais 60 dias em empresas que aderem ao Programa Empresa Cidadã. A ampliação das licenças parentais, especialmente para os pais, é pauta em discussão no Congresso Nacional.
Caminhos para uma sociedade mais equitativa
A implementação de políticas públicas focadas no apoio às mães solo, o aumento de creches públicas e o reconhecimento do trabalho de cuidado como fundamental são passos sólidos para alcançar uma sociedade mais equitativa. É essencial criar sistemas de proteção social que incluam cuidadores como trabalhadores plenos, com direitos e benefícios assegurados.
A valorização da economia do cuidado, especialmente em relação ao papel das mulheres, pode trazer uma integração mais justa e produtiva para todos os membros da sociedade, incentivando um futuro onde as responsabilidades e oportunidades sejam igualmente distribuídas. Assim, a economia do cuidado deixa de ser invisível e ocupa o centro das estratégias para o desenvolvimento sustentável e inclusivo.