Uma pesquisa conduzida em Ontário, no Canadá, analisou cerca de 430 mil pacientes submetidos às 25 cirurgias mais comuns entre 2007 e 2019. O objetivo foi avaliar o impacto do dia da semana em que os procedimentos foram realizados, levando em conta variáveis como experiência médica, idade do paciente e tipo de cirurgia.
O destaque do estudo foi o risco aumentado de complicações em cirurgias feitas às sextas-feiras. Segundo os dados, essas operações têm um índice 5% maior de problemas pós-operatórios — incluindo risco de morte — em comparação com as realizadas em outros dias úteis, conforme explicou a pesquisadora Vatsala Mundra ao portal Gizmodo.
Por que cirurgias na sexta-feira são mais arriscadas?
Os pesquisadores identificaram quatro fatores centrais que contribuem para esse aumento de risco:
- Equipe reduzida: Há menor disponibilidade de profissionais nos hospitais nesse dia.
- Menor experiência: Cirurgiões menos experientes tendem a atuar mais às sextas-feiras.
- Transição para o fim de semana: A troca de turnos pode afetar a continuidade dos cuidados.
- Infraestrutura limitada: Recursos de suporte e diagnóstico são menos acessíveis.
Esses elementos combinados aumentam a vulnerabilidade do paciente nas primeiras 48 horas pós-cirúrgicas, que são cruciais para evitar complicações graves.

O fim de semana compromete o cuidado pós-operatório?
Sim. Um dos pontos críticos é que a equipe médica de plantão no fim de semana pode não conhecer os detalhes do caso, dificultando o monitoramento preciso do paciente. Isso afeta especialmente procedimentos com maior complexidade, que demandam respostas rápidas a intercorrências.
A falta de continuidade na assistência, especialmente no início do processo de recuperação, pode atrasar o diagnóstico e o tratamento de eventuais complicações, impactando diretamente os resultados cirúrgicos.
O que diz a pesquisa sobre a infraestrutura hospitalar?
Segundo o estudo, a infraestrutura hospitalar também sofre quedas de eficiência às sextas-feiras. Há uma redução na disponibilidade de exames, equipamentos e suporte técnico — elementos essenciais para intervenções pós-operatórias imediatas.
Essa limitação compromete a capacidade de resposta das equipes médicas frente a emergências, o que agrava o risco de complicações sérias após a cirurgia.
Esse fenômeno já foi identificado em outras pesquisas?
Sim. Embora a pesquisa canadense seja uma das mais amplas já realizadas sobre o tema, ela reforça conclusões semelhantes de estudos anteriores. A relação entre o dia da cirurgia e os resultados do paciente já vinha sendo debatida por especialistas em saúde ao redor do mundo.
Esses achados sugerem que a programação de cirurgias eletivas às sextas deve ser feita com cautela, considerando a disponibilidade de recursos clínicos e o suporte necessário para o pós-operatório imediato.
O que pode ser feito para reduzir os riscos?
Para mitigar os riscos identificados, hospitais e centros cirúrgicos podem adotar estratégias como:
- Reforçar equipes de plantão no fim de semana, garantindo continuidade no cuidado.
- Evitar agendamento de cirurgias eletivas de maior risco para sextas-feiras.
- Disponibilizar recursos diagnósticos e suporte técnico mesmo durante os fins de semana.
O estudo alerta que o planejamento cirúrgico não deve considerar apenas a disponibilidade de agenda, mas também fatores institucionais que garantam a segurança do paciente em todo o processo, especialmente no início da recuperação.